terça-feira, 31 de janeiro de 2012

UMA LÁGRIMA NO OLHAR

Ceifaram dos teus versos o riso
e o alvoroço de searas maduras ondulantes.
No teu poema corre uma lágrima e no sorriso um esgar de tristeza.
O teu olhar não se engana. Dói  num amor, quase sem saída.
Caminhos incertos, sentimentos confusos, perdida,
como quem viaja na sombra
 à procura de um apetecível cheirinho a café
perfumado com a nata do afeto.
Mas não esperas na paragem. Porque não ceifaram o mar de poesia
que derramas em lágrimas no teu planalto,
como gaivota que voa ferida e cruza o céu a agarrar a vida.

Teresa Almeida

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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A NEVE PARA LÁ DA CORTINA

Para lá da cortina, para lá da vidraça
outras cortinas quase escondem a paisagem
e caem leve, docemente

Apesar da amargura que deixa adivinhar
não posso deixar de me deslumbrar
com a beleza dos fiapos de neve
que descortino para lá da vidraça

Sei que quando ela se levantar
arrastando 91 anos de beleza e graça
vai gostar de ver a neve para lá da cortina
e na lareira o fogo a crepitar

E o sorriso que adoro ver
num rosto de minha mãe
no meu eu vou ter

Ágil, bonita e leve levantava-se de manhã
a aquecer o leite, a fazer o lume e as torradas
porque as netas tinham que ir bem alimentadas
E sempre a resmungar lá iam despachando o pequeno almoço
Levantar-me primeiro que ela, foi o maior sinal
o sinal de que a vida a venceu

Quem acordava o meu sorriso era ela, a minha mãe

E agora olho através da vidraça
e parece que a neve foi um sonho derretido
 no ninho do passarinho
abandonado no outono da figueira
Gostei tanto de o ver de flocos brancos enfeitado
junto ao quarto, para lá da vidraça
ELe que em tempo alto também madrugava
e em canto afinado abria ao raiar da manhã
a alegria que contagiava

Dou por mim a pensar nas mudanças da vida

Ela chegou agora mesmo
o sorriso e o riso abertos, oferecidos
tinha visto a neve e, com a chama de tempos idos, disse:
Ah! Estes rachos, tão fortes, não foste tu que os trouxeste!

 Teresa Almeida 16.01.2011


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

COMO SE ETÉREA EU FOSSE

E eu deslizo
com se etérea eu fosse
em silêncios de palavras infinitas

procuro-te em estradas
no firmamento traçadas
diluídas em mil sóis de penumbra

a penumbra do balanço à vida

e deslizo
como se etérea eu fosse
sobre mares imensos de beleza tranquila

respiro a luz das tuas palavras
como se manhã me fizesse.

Teresa Almeida 12. 01.2012
Porto

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

VERSOS PERDIDOS

Só vejo

Versos gostosamente perdidos
e espreguiçados
na leveza dos tons
no desleixo poético

Palavras a pulsar vida
abandonadas ao perfume da manhã
em puro deleite
oferecida

Marcas de fogo
em despudores matinais
penduradas

Caminhadas de ar puro
em bruma orvalhada

Beijos lavando o meu rosto
numa doce manhã
em mim
serenamente
 desejada


Teresa Almeida 10. 01.2012
Porto