domingo, 29 de abril de 2012

Sien apeias na mirada

Que faziste tu?
Andubiste a sembrar crabos
sien apeias na mirada
antes qu´Abril s´acabe?
 

Andubiste a spalhar palabras
Num arrepelo de suidade
Cun la curjidade i l'eideia
Dua colheita tardiega?

Que faziste tu? Agarreste mais cinco?
Ou assusteste alguien?
Nun t´aquemodes
Ls crabos stan zbotados
Chiçca  le quelor

Antes qu'abril s'acabe
inda lhúzen streilhas cumo tu.
Teresa Almeida


ANTES QUE ABRIL ACABE

Que fizeste tu?
Andaste a semear cravos
sem bloqueios no olhar
antes que Abril acabe?

Andaste a semear palavras
num arrepio de saudade
com o entusiasmo e a ideia
duma colheita tardia?

Que fizeste tu? Agarraste mais cinco?
ou assustaste alguém?
Não te acomodes,
os cravos estão desbotados;
acende-lhes a cor!

Antes que Abril acabe
ainda brilham estrelas como tu.

quarta-feira, 25 de abril de 2012


Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo


        Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, 23 de abril de 2012

OUSADIA


Deambulou a noite
nos livros que amei.

Pedras preciosas
eram os títulos
onde o sentimento se espraiava…

No gume de cada página
era exótico o perfume
que o verso respirava.

Na avidez de pétalas presas
havia palavras acesas 
e entre elas me evadia.

Ganhou vida a própria voz
nas asas da madrugada
em inusitada ousadia

Em franjas ficaram os sonhos
pendurados nas lombadas.

Teresa Almeida


sexta-feira, 13 de abril de 2012

A Ponte Nova

Paraste o carro em cima da ponte nova, muito falada.
Conhecia-te há pouquíssimo tempo
e sentia que esse tempo bastava.
Mesmo sentado, o teu corpo era atlético, o sorriso sedutor
 e o olhar dizia tudo. Mesmo assim, disseste.
Sentia-te. Poderia ter esquecido as palavras
e lembrar só os lábios, mas sei as palavras todas.
Meti-me na concha, não avancei.
Já ninguém fala na ponte.
Será que te lembras?
Sabes que poderia ter sido o meu primeiro beijo?

Teresa Almeida

domingo, 8 de abril de 2012

TEMPO PASCAL


Deveria eu situar-me no tempo,
ordenar os factos, arrumar as prateiras,
descer no escadote,
... ler os livros do fundo.

Mas há um tempo Pascal que ressuscita   
como se asas de magia tivesse.

Há auréolas que anunciam
relâmpagos e trovoadas festivas.
O tempo esconde-se para lá das nuvens
e as palavras iluminam-se.

Teresa Almeida