quarta-feira, 26 de abril de 2017

A espera é já festa.





A semente germinou. Beijo cada dia 
que meu riso acrescenta. 
Beijo o ninho que te aconchega e espero.
Que a espera é já festa, revolução.
Quero-te Abril, criança a palpitar e a florir.
Virás quando quiseres. Semearam, um dia, 
margaridas no meu peito e, agora, 
que o tempo é de cravos, 
semeio alvoradas para te receber.
E sonho Abril a merecer um país.
E esta espera é já festa, liberdade e ânsia.

Teresa Almeida Subtil
25.04.2017



sábado, 15 de abril de 2017

Murmúrio de saudade



A ressurreição é, em mim, um fio de água
a correr, em jeito de fonte, à beira de casa.
Janelas floridas, cântaros de asa, 
colchas de renda, linho e damasco. 
E rostos amigos.
Postigos escancarados, antigos.

De pétalas são os tapetes da minha rua 
e as cores são da minha aldeia.
É tudo tão verdade!
E este murmúrio de fonte a cantar é uma oração
de saudade. Saudade que traz de volta o olhar 
daqueles que um dia
por ali caminharam e amaram.

Do tempo sabemos apenas que é breve
e a vida uma procissão, 
um compasso na eternidade.


Sonido de soudade

La ressurreiçon ye, an mi, un filo d'auga
a correr, an modo de fuonte, acerquita de casa.

Jinelas floridas, cántaros d'ala, 

colchas de renda, lhino i damasco.
I rostros amigos.
Postigos scancarados, antigos.
De pítulas son ls tapetes de la mie rue
i las quelores son de la mie aldé.
Ye todo tan berdade!
I este sonido de fuonte a cantar ye ua ouraçon
de soudade. Soudade que trai a la mimória l mirar
daqueihes q'un die
por eilhi caminórun i amórun.De l tiempo que tenemos
solo sabemos que ye mui debrebe
i la bida ua percisson,
un cumpasso na eiternidade.

Teresa Almeida Subtil

domingo, 9 de abril de 2017

A dança da vida


Não queiras saber que tom é aquele que me arrepia,
nem em que caminho a natureza desfalece,
sente apenas que a vida são dois dias 
a a meio situo este cântico que me eriça a pele
e me entontece. Sente apenas este abraço,
e ouve Abril a madrugar. Falta pouco.
E se de enganos, meu amor, se criva a vida,
e eu me prender numa canção deslaçada,
nunca será mentira a sonata que me envias ao luar.
E me floresce nos dedos. E me desassossega.
Acertemos! É nossa a hora,o passo e a dança.

Teresa Subtil
30.=3:2017

sábado, 1 de abril de 2017

Chamam-lhe Ribeirica.



Por ali se saboreavam as iguarias da terra. Lembro-me, particularmente, dos ovos verdes da avó Angelina e dos peixinhos da ribeira do avô António (recheados de carinho) a saírem das cestas de vime. Pressinto que, agora, nos fazemos ao caminho e voltamos às nesgas de praia do rio Maçãs para revivermos o cálido sabor das antigas tardes de romarias e encontros de família.

E tu andas por ali, recolhido, morto de saudades, nos sítios onde o rio se faz criança e brinca, mostra o leito e salta as pedras redondas e macias.
Chamam-lhe Ribeirica, deram-lhe nome de mulher. Mais acima, o Colado.
E no teu olhar, perturbado, ainda mergulho. Nos teus silêncios, profundos, ainda transpareço. E salto contigo.
Só quem te ama entende: não pode ser um rio qualquer aquele que te viu crescer.


No quintal há, agora, uma pedra (raiana) que o rio amou, junto ao freixo de geração espontânea. Quando a Primavera a abraça, é ali que saboreio o café matinal, como se fosse o lugar mais alto do mundo. E então, na intimidade do silêncio, nasce um murmúrio de ribeirica a saltitar. Chego a sentir os pés molhados.


Teresa Almeida Subtil