segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Menino Jasus de la Cartolica

Resultado de imagem para imagens do menino jesus da cartolinha

Tenes stórias de lhuitas

I d' amores
I antre ls doutores sabida scritura


I se un nino se bir perdido
I de l Natal andar a la precura
Fazerei de l berso ua abintura

I de la tue capa mirandesa
Calor i agarimo

De la tierra pormetida

Teresa Almeida Subtil

                                                   

O Menino Jesus da Cartolinha é uma imagem de referência, muito visitada na Concatedral de Miranda do Douro (um dos templos mais imponentes do país) É uma escultura de finais do séc. XVII ou princípio do séc XVIII, inspirada numa lenda datada da guerra da sucessão espanhola e do cerco a Miranda do Douro, devido à sua posição estratégica. Quando os mirandeses já se encontravam exaustos de sede, fome e cansaço, surge um jovem fidalgo, vestido de cavaleiro, a dar-lhes coragem: “a eles”! Depois de conseguirem expulsar o invasor, munidos de foices, gadanhas, espingardas e paus, procuraram o fidalgo que desaparecera tão misteriosamente como aparecera. Só poderia ter sido um milagre do Menino Jesus, reza a lenda. É hoje o padroeiro das crianças mirandesas. Um “ex-libris” da concatedral (antiga Sé de Miranda do Douro)
Este Menino tem um enxoval com fardas de cavaleiro, de fidalgo e outras peças de roupa muito peculiares, oferendas que espicaçam a curiosidade dos visitantes. A cartola já deve ser do séc. XIX ou XX, para conferir ainda mais nobreza à imagem. A capa de honras, marca da identidade mirandesa, não lhe poderia faltar. O seu ar de ingenuidade leva à emoção. E surgem outras lendas, naturalmente, como a da jovem freira que terá mandado esculpir a imagem de um amor não correspondido.
A festa de homenagem celebra-se no dia de reis, domingo antes ou depois do dia 6 de Janeiro.
Fontes: Trilhos da Cultura Popular Portuguesa
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ABRAÇO DE BOAS FESTAS

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Ousadie /Ousadia




... Ls suonhos ábren-se a lonjuras,
abinturo-me na seduçon de l mar i an nesgas de praia,
adonde l carino ye lhuzeiro, ua eisaltaçon, un bien maior.
Ambazbaco-me na Índia an bailes repasseados,
ne l sonido de las gaitas,
delareio nun porton de mar.
Nua baranda de l Faial - l splendor, l fascínio oureginal
Abro pastas de rosas prenhadas de madrugadas i mirares de beludo,
chiçpan streilhas nas palabras,
quedo-me na alegrie de la nuossa cantiga.
I esta ousadie nun domino nien ando a saber de salida,
mais que todo:
la poesie ye eimoçon, ye un brinde a la bida.

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... Os sonhos fazem-se ao largo,
embrenho-me na sedução do mar e em nesgas de praia
onde o carinho é luzeiro, uma exaltação, um bem maior.
Deslumbro-me na Índia, nos bailes repasseados, no som das gaitas de fole,
devaneio num portão de mar.
Numa varanda do Faial o esplendor, o fascínio original.
Abro pastas de rosas prenhes de madrugadas e olhares de veludo,
chispam estrelas nas palavras.
Permaneço na alegria da nossa canção,
e esta ousadia não controlo nem procuro saída,
mais que tudo:
a poesia é emoção, é um brinde à vida.

Teresa Almeida Subtil


(In  "Rio de infinitos/Riu d'Anfenitos")




quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Do Éden oriundo


Nem lagos, nem gelos
Nem ruínas, nem castelos
Nem pináculos de catedrais…

São ínfimas as gotas que encobrem o dia
E ébrios os sonhos que desabrocham
Suculentos frutos vermelhos

E Dezembro fecunda a palavra
No ventre do medronheiro
Do Éden oriundo.

Só pode ser sagrada, a palavra
A crescer em cada verso
Que ao fogo sobrevive.

Teresa Almeida Subtil





terça-feira, 27 de novembro de 2018

Tons

Cheguei de lides literárias onde me senti em casa. Partilhei o meu rio, o nosso rio – poeticamente - e desfrutámos os seus remansos e sobressaltos, suas margens de picões e vinhedos e a vida que a corrente provoca. Passei pelo Porto, como quem faz escala numa cidade de íntimas melodias. Desta vez até me aventurei pelo metro cujo trilho é o mesmo que percorri antes de acrescentar vida à minha própria vida.
Finalmente em casa e, depois de múltiplas atividades, lancei um olhar demorado à cor das hortênsias, agora arrepiadas e engalanadas pelo outono - minha estação inspiradora. Pertence-lhe a missão de dar as boas-vidas a quem entra e a quem passa. Os sorrisos de agradecimento, por via de regra, não se fazem esperar.
Fiz-me então ao almoço. (Que comemos hoje? O que houver por aí!) Num triz, estava na mesa um cozido mirandês e André Rieu como acompanhamento musical. O acompanhamento não foi da minha lavra e a bebida também não, mas estavam os ingredientes todos.
Tão natural como a sede, surgiu o apetite de escrever. Restava apenas a garrafa e André Rieu que tinha prometido ficar. É por isso que o vou ver pessoalmente à capital E eu que já não ia a Lisboa há tanto tempo! Valeu a pena esperar.
Reparei, e bem, que ainda havia um resquício de Douro na mesa. Brindemos!

Teresa Almeida Subtil


segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Senti-me em casa.


Na verdade, o meu "Rio de Infinitos/ Riu d'Anfenitos" teve o acolhimento caloroso de amigos amantes de poesia. Transmontanos e não só. E os momentos que vivi na Casa de Trás-os-Montes e Alto - Douro, em Lisboa, ficarão guardados no lugar dos meus tesouros. 
Celebrou-se a poesia e a amizade.




terça-feira, 13 de novembro de 2018

Convite

É já na próxima quinta-feira  (15/11 - pelas 18h) que, a convite da Casa de Trás-os-Montes e Alto-Douro, será feita uma sessão de apresentação do meu livro "Rio de Infinitos / Riu d'Anfenitos".




A apresentação será feita pela Drª Adelaide Monteiro.

No final será servido um "Douro de Honra" com a actuação do grupo musical "Os Maranus"


Uma honra será, também, a presença e o abraço dos amigos.


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Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro
Campo Pequeno, 50 - 3º Esq.1000-081 Lisboa

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Se vieres ...




Lança-me nos ombros um xaile de seda das índias
E o abalo de especiarias de Bombaim,
Tozeur ou de Fez. E chá de menta e amendoim.
Toca, toca-me a pele numa melodia andina.
E da Argentina guarda-me o arrepio do tango.

Da vertigem de Iguaçu faz-me verso-aventura
E exalta a rima que se esconde na magia
Das chaminés de fada.
Veste-me a saia mexicana bordada e comprida
Que faz do armário a 5ª avenida. Eleva-me
Na escadaria de Chichinitza e que o sol
Serpenteie a palavra.

Despe-me em Copacabana,
Capri ou Palma querida. Traz a iguana amiga
e as tulipas da Holanda. De Paris
Entrecruza a arte de rua e desce
Ao sabor de crepes e abraços.

Mete o Sena, o Tamisa, o Reno e os Fiordes
Na mesma estrofe. Traz-me terras de fogo
E os vulcões de Lanzarote,
E as cores macias das hortênsias dos Açores.

Se vieres …
Apanha um barco à deriva no Douro
Escala as arribas, dedilha um socalco de Outono
E mata a sede nos lábios abertos das folhas
Que se tingem de abandono.

Teresa Almeida Subtil



domingo, 28 de outubro de 2018

O baú dos afetos / L baúl de ls carinos


O baú dos afetos

Pudesse eu voltar às palavras
acariciar pedaços de papel amarelecido,
desabafos, inquietações, questões,
liberdade expressa em dias de proibição,
rugas de um tempo presente na emoção.
Pudesse eu voltar a sentir
o amor dos primeiros traços, florir
em pequeninos ramos de candura,
tocar o verde trevo de 4 folhas,
pura exaltação, páginas redondas,
perfumes de breve caminho.

Pudesse eu acariciar missivas apaixonadas,
as primeiras, gostadas e sem retribuição.
Cada letra era um mapa, um cartão de identidade,
corações a rebentarem nas pintas dos is,
impressões da idade, aqui e ali.
Pudesse eu não sentir esta dor fina
este vazio dos temas, das conversas
e, sobretudo, o pulsar da adolescência
expressa em aprimorada ortografia.
Pudesse eu abrir as cores em que a sentia,
cheirar palavras amedrontadas
perdidas num baú de afetos.
Pudesse eu folhear o meu primeiro livro,
sacrário esvaziado, silente perplexidade,
melodia viva, saudade, memória perdida.





L baúl de ls carinos

Pudisse you tornar a las palabras,
fazer festicas a cachicos de papel amarelhecido,
zabafos, anquietaçones, questones,
lhiberdade screbida an dies de proibiçon,
angúrrias dun tiempo persente na eimoçon.
Pudisse you tornar a sentir
l amor de ls purmeiros traços, florir
an pequerricos galhos de candura,
tocar l berde trebo de quatro fuolhas,
pura eisaltaçon, páiginas redondas,
prefumes de brebe camino.


Pudisse you acarinar missibas apaixonadas,
las purmeiras, gustadas i sien tornas.
Cada lhetra era un mapa, un carton d'eidentidade,
coraçones a rebentáren nas pintas de ls is,
ampressones de l'eidade, eiqui i eilhi.
Pudisse you nun sentir este delor fino
este baziu de ls temas, de las sinagogas
i, subretodo, l pulsar de l'adolescéncia
spressa an aprimorada ourtografie.
Pudisse you abrir ls quelores an que la sentie,
cheirar palabras amedruncadas
perdidas nun baúl de carinos.
Pudisse you folhear l miu purmeiro lhibro,
sacrairo uoco, calhado spanto,
melodie biba, soudade, mimória perdida.


Teresa Almeida Subtil

(In Rio de Infinitos/Riu d'Anfenitos)

terça-feira, 16 de outubro de 2018

HORA DA POESIA

Marcha da Hora de Poesia: https://www.youtube.com/watch?v=jOlKzv8qZQo


TERESA SUBTIL será a nossa próxima convidada de A HORA DA POESIA...
Os seus poemas são torrenciais, próprios de uma alma febril, próprios de quem escreve com os 5 sentidos em alerta!!
Conceição Lima

sábado, 13 de outubro de 2018

Rio de Infinitos/Riu d'Anfenitos

A imagem pode conter: 2 pessoas, pessoas sentadas, pessoas em pé e interiores


Foi, para mim, uma subida honra integrar na minha obra o prefácio de Domingos Raposo, ilustre professor e dinamizador da língua mirandesa. Uma mão preciosa, devo dizer.

PREFÁCIO – ANTRADA
Teresa Almeida Subtil é natural de Lagoaça, povoação sobranceira ao Douro Superior, com grande beleza natural, clima ameno e um solo pródigo em frutos, e, culturalmente falando, integra as designadas “Terras de Miranda”, com bem referia Francisco Manuel Alves, Abade de Baçal.
E se o ser humano é filho do meio em que nasce, do lar em que se cria e da formação que recebe, Teresa Almeida Subtil não é exceção. A pureza do meio, a educação esmerada do lar, a riqueza da formação adquirida fizeram-na grande e levaram-na, por inclinação própria, a seguir a nobre missão de ensinar, que exerceu sempre com elevado profissionalismo, competência e entrega. Amante da dança e da pintura, a que também se dedica nas horas de lazer, deixou-se guiar, nos últimos tempos, pelo pulsar e força da poesia, que lhe corre nas veias, a jorro, genuína, natural, fluida. A fim de não desperdiçar o bafo da inspiração, assumiu, como motu proprio, o lema do pintor grego Apelles, “nulla dies sine linea” – nem um só dia sem (uma) linha -, até porque desde cedo compreendeu que “scripta manent”, ou seja, que os escritos permanecem. Essa produtividade levou-a à perfeição técnica do poema, prenhe de simbologia e emoção, como podemos comprovar com a presente obra, que resulta da seleção (nada fácil de fazer) de uma vasta lista de poemas.
Mas esta obra ganha ainda um valor redobrado porque sendo a autora uma apaixonada pela língua mirandesa, que aprendeu, de per si, sem a ter mamado no leite materno, aparece traduzida, em mirandês, pelo próprio punho, dando um grande exemplo de que querer é poder e de divulgação daquela que é a segunda língua oficial de Portugal.
Escrever poesia é uma arte e toda a arte é maravilhosa porque se por um lado é inútil “não mata a fome, não mitiga a sede, não protege do frio e do vento” (Ruy Guerra), por outro é transformadora porque inebria o espírito, aquece a alma, desvenda e ilumina caminhos, muitas vezes sombrios, escondidos, subterrâneos. E Teresa Almeida Subtil, com um incontornável e não explicado deslumbramento, que nos fascina, apresenta-nos, nesta obra, caminhos dessa transformação, tendo como ponto de partida e fio condutor o Rio (Douro) – que a marcou profundamente desde a infância – no seu sentido mais abrangente e metafórico: “rasgo a Primavera do alto das arribas do Douro”; “sinto o eco das margens a pulsar”; estão vivas as águas do meu rio”; “diz-me do rio de palavras selvagens preso em ti”; “… ser-te-ia nascente e foz a um tempo”; (…). O seu Rio é imenso, infinito: tem sol, sombras, arribas, fauna, flora, gente, etnografia, atrações, mistérios, cores, aromas, paladares, fragores, sonoridades, acordes, amores, choros, cantos, “cantando o amor em cada passo e em cada batida de inquietação”.
Teresa Almeida Subtil, com clareza, sensibilidade estética e cumplicidade com o seu Rio (fonte de sonhos, afetos, desafios, preces, promessas, esperanças…) compõe poemas com essência e perfume, vestindo-os a preceito como se vestisse um corpo com o fato e os adereços do melhor estilista, mostrando que “a poesia é emoção, um grito de liberdade, um brinde à vida”. E se para ela ser poeta é “… dar-te a chave do céu e do prazer”, também faz jus ao sentimento de Florbela Espanca: “tem de mil desejos, o esplendor; possui um astro que flameja; tem garras e asas de condor; tem fome e sede de Infinito; condensa o mundo num só grito”, como testemunha nesta obra, de forma brilhante, guiada pelas suas memórias, vivências, introspeções/intimidades, valores, leituras, telas de vida, evocações, projetos, trajetos e horizontes.

Os poemas deixam-nos perceber que a autora comunga o pensamento de outros poetas consagrados. Sabe “que o sonho comanda a vida” e com ele “o mundo pula e avança” (António Gedeão); que “o meu pensamento é um mundo subterrâneo… Escuto-o… como um eterno rio indescoberto, mais que a ideia de rio certo e abstracto” (Fernando Pessoa); “mas não calo a voz do chão que grita dentro de mim”, fazendo o “rio feliz a ir de encontro ao mar, desaguar, e, em largo oceano, eternizar o seu esplendor torrencial de rio” (Miguel Torga). Torrente, qual “caudal sagrado” de infinitos, que abre espaços à reflexão, à afetividade, à solidariedade… e faz de cada poema um “dia novo, de renovo e poesia”, como Torga gostava de dizer.
Teresa Almeida Subtil, sente o prazer da escrita e escreve com palavras “tecidas de luz” (Eugénio de Andrade), em intimidade com os versos e a musicalidade das sílabas, com o coração cheio, seguindo a transparência das estrelas, compondo, com uma imaginação transbordante e apaixonada, autênticos hinos ao Sol “com notas marciais, que soam como um clarim (Gomes Leal) e “com o desejo de ser apenas harmonia, cantando a luz que todo o espaço inflama, e sonhando a perfeita e mística alegria” (Teixeira de Pascoaes).
Parafraseando Manuel Alegre, este é “um livro de poesia por onde corre o sangue, a escrita, a vida”. “Pois só no poema um povo amanhece” (Sophia de Mello Breyner Andresen). Por isso, deixemo-nos levar por este “Rio de Infinitos”, escrito com cintilante claridade, onde a autora, norteada pelo maior dos ideais, permite que nos enriqueçamos e deleitemos com as suas magníficas criações, deixando-nos a esperança num amanhecer resplandecente, puro, expurgado de males e livre para pensar, sonhar, agir, repleto de Amor. Amor que conseguiu pintar com a sua cor preferida: a brisa da vida.
                                                                                                                                      
                                                                                                                           Domingos Raposo



segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Vão de infinitos / Preça d'anfenitos



Vão de infinitos

É a varanda de grades da cor do tempo
que me leva em breve enleio e receio de entardecer.
É na varanda solta no descampado do olhar
que me debruço e me entronco na árvore onde me fiz.

É o toque na parreira de pele retesada
e rasgada que me diz da erupção que sentia
e das escadas que subia e descia,
querendo entender-me no emaranhado da vida.

Era em vão de infinitos que a varanda se espraiava.
E eu, debruçada, a sentir-me nada, não cabia em mim.
E eu, num chão de inquietudes a agigantar-me
para as dúvidas que nunca resolvi.

Aninhada em ti,
parecia que a aldeia ao longe era igual à minha,
embora a raia nos falasse de outra língua
e de outro país. Na minha varanda percebia a raia
e adivinhava que nem a vinha, nem a aldeia que avistava,
encobriam o reboliço do rio
que bem fundo cavava o fragaredo.
Nem eu nem o rio conhecíamos limites
e apesar do aperto e da inquietude,
saltávamos e corríamos
na pressa dum tempo a descobrir.




  

 Preça d´anfenitos (lhéngua mirandesa)

Ye la baranda de grades de la quelor de l tiempo
que me lhieba an brebe anleio i arrecelo d'entardecer.
Ye na baranda suolta ne l çcampado de l mirar
que m´astribo i m´antronco n´arble adonde me fiç.

Ye l toque na parreira de piel retesada
i resgada que me diç de l manantial que sentie
i de las scaleiras que chubie i abaixaba,
querendo antender-me ne l eimaranhado de la bida.

Era an preça d'anfenitos que la baranda se spraiaba.
I you, debruçada, a sentir-me nada, nun cabie an mi.
I you, nun suolo d'anquietudes a agigantar-me
pa las dúbedas que nunca resolbi.

Arrimada a ti,
parecie que l'aldé al loinge era eigual a la mie,
anque la raia mos falasse d'outra lhéngua
i d'outro paíç. Na mie baranda percebie la raia
i çcunfiaba que nien la binha, nien l'aldé q'abistaba,
tapában l rebolhiço de l riu
que bien fondo scababa l fragaredo.
Nien you nien l riu coinciemos lhemites
i indas que l aperto i l'anquietude,
saltábamos i corríemos
na priessa dun tiempo a çcubrir.

Teresa Almeida Subtil


(in Rio de Infinitos /Riu d'Anfenitos)


sábado, 15 de setembro de 2018

Surreal detalhe




A vida transpira em toda a tela
Nos dedos vagueiam ondas
Na paleta rumorejam cânticos 
E múltiplas erupções.

Surreal cada detalhe 
Expressão de desalento
Sonho mordido e largado ao vento.

A arte é fogo dos teus olhos
E Setembro um poema sumarento
A desdobrar-se festivo
A cada pranto.

No rosto pinto um desejo
E de espanto
Rejuvenesço.

Teresa Almeida Subtil



Paleta de Alexal - Alejandro Albarrán Garcia

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Instabilidade do verso




Deixa-me apenas uma nesga de luz
A febre das guitarras
Teu canto escaldante e o feitiço desta noite.

Deixa-me a tela em que me deito
E uma nota esquiva em meu peito.

E se eu tiver que viver
Na instabilidade de um verso
Estende-me lençóis de luar
E o vigor poético de Agosto.


Teresa Almeida Subtil

terça-feira, 3 de julho de 2018

MULHER-MENINA

                                 

Como se me abraçasses à primeira volta
Na cintura da tarde enrubescida
E pura lágrima se desprendesse.

Como se na mão me confiasses
Um astro vivo de emoção.

E se murmurasses
Silenciosa canção matutina
E em cada verso apurasses
Minha intimidade de mulher-menina.

E se de segredos fizesses
Beijos ao vento
Meu voo insustentável
E o azul das águias nos picões do espanto.

E se apenas revelasses
Um jogo no espaço
Infinito rodopio ao som da montanha.
Repasseado e grito. Fonte tremendo. 

Miranda querida
Mulher-Menina

Veio de água que meu canto
Estremece.

Teresa Almeida Subtil

https://www.facebook.com/carla.subtilrodrigues/videos/2231240856889991/UzpfSTEwMDAwMDgxNjk4ODM2MjoxNzM4NjY3M


Agradeço à minha filha a surpresa e o carinho deste vídeo.


quinta-feira, 28 de junho de 2018

Infinito detalhe


O universo é película de espelho verde
Olhar flutuante de menina
Asa de borboleta. Infinito detalhe.

É rosa que se pronuncia
E vagabundeia a atmosfera do lugar.

É aroma que, ao meio,
Se aprofunda.
É pétala que o verso acende
E no poema sucumbe.

“Gosto de rosas epistolares”
E de saias aos folhos, despidas uma a uma.


Teresa Almeida Subtil




segunda-feira, 18 de junho de 2018

Reino de utopia


Seria o coaxar das rãs ao sol-pôr
A oblíqua cruz desenhada no terreno
Despido. Ou o cheiro a feno?

As pétalas disputavam
O brilho do poeta e a aura do pintor
E o charco absorvia o deleite de fim de tarde.

E havia um poema a macerar a cerejeira.
 E a disputa, a arte, o acaso do jogo
E a excitação. O brinde, a celebração.

Ao fino néctar degustado
Vibrava o verde das copas
E os translúcidos corpos evaporados

As rãs entoaram uma nota  acima
E o breu abriu os portões da despedida.

E o que nos seduziu?
Terá sido este reino de utopia
Que o coração do planalto ofereceu?

Teresa Almeida Subtil 



sexta-feira, 1 de junho de 2018

Talbeç l pingacho le pinte / Talvez "l pingacho" lhe pinte



                                                          Talbeç l pingacho le pinte

La fin de maio ye ua ala çpindurada
Un poema ameroso screbido nua faia
Ye l sonido i la chama
Ye dar l pie nua moda de siempre.

Talbeç l pingacho le pinte

La fin de maio inda nun se percebe
Ye paixarico amboubecido
 na raia
Inda trai las einaugas a beilar
Las ligas berdes a relhuzir
I las letras tristes por resgar.


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Talvez "l pingacho"  lhe  pinte

O fim de Maio é uma asa pendurada
Um poema amoroso escrito numa fraga
É som e chama
É dar ao pé uma moda de sempre

Talvez "o pingacho" lhe pinte

O fim de Maio ainda não se percebe
É passaro enlouquecido na raia
Traz folhos a bailar
Ligas verdes a brilhar
E letras tristes por rasgar.

Teresa Almeida Subtil






LIBERDADE