domingo, 3 de julho de 2022

FESTAS DE SAN PEDRO - Zamora


 



E cá estou eu no meio das malvas, digo, no meio das bonecas. Nomeio as bonecas porque nunca delas me separei. Pronto, levo três. Para mim vai uma bailadeira, de cores vivas, já que “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é burro ou não sabe da arte”. Em qualquer parede da casa ficam a falar do lugar e dos passos harmoniosos que damos. Pelo menos tentamos. Mas nem tudo são malvas cor-de-rosa, A minha mãe, que tanto gostava de rondar entre elas, fervê-las e usá-las para curar maleitas, havia de gostar desta altiva que surgiu, agora, entre as pedras do quintal.

As minhas duas bonecas reais são raianas como eu, e trazem enraizado este gosto de saltar a fronteira. Têm asas de liberdade como aves das arribas.

Zamora está muito chamativa com esta Feira da Cerâmica (a mais antiga de Espanha). De cerâmica e de alhos. Reúne vendedores de Pereruela, Moveros, Toro e de vários pontos do território de ”nuestrros hermanos”. A mostra de cântaros e outras antiguidades prendem a atenção dos visitantes e lembram pedaços da nossa própria estória. E quem não tinha uma cantarinha para ir à fonte? E quem não cantava com ela à cintura “cantarinhas, feitas do barro mais belo…?”

A Nor-noroeste da praça, Viriato (séc. II a.C.), líder militar, mostra o seu garbo. Foi o “terror romanórum”. Vale a pena perdermo-nos na neblina do percurso deste guerreiro, morto à traição. Sobre a cava de Viriato, em Viseu, também corre muita tinta, e o nosso herói surge envolvido numa aura de “ mistério, ideologia e romantismo histórico”.

Dele não se esqueceu o grande Camões (Os Lusíadas, VIII, estância 6)

Viriato sabemos que se chama,

Destro na lança mais que no cajado;

Injuriada tem de Roma a fama,

Vencedor invencível afamado;

Não tem com ele, não, nem ter puderam

O primor que com Pirro já tiveram.."

E, a rematar a tarde, sabe bem tomar uma bebida fresca, na esplanada da cafetaria Dolfos, e posso ir tomando o pulso ao dia, na minha agenda polivalente. Em Santa Clara ainda não se veem corpos bronzeados e vestidos airosos como antes da pandemia.

Por esta altura, já as mulheres gostavam de presumir.

E ala que se faz tarde! A cegonha que nos viu entrar, está à espera de nos ver sair.

 

Teresa Almeida Subtil 






LIBERDADE