sábado, 21 de dezembro de 2019

Magia do Natal



Nunca esquecerei a magia do Natal, nem teus olhos em brasa em frente às filhós e às rabanadas. Não quero perder-me num universo sem estrelas. Quero o Natal todos os dia e a desoras.

Avó, continuas sentada ao lume a tender bolas de sertã na saia rodada, negra e comprida e o pano de linho entre ela e a massa. E o azeite no ponto, que bem cheirava! Se não fosse esse ambiente, a fogueira na praça e o beijo ao Menino Jesus, o Natal não era nada. Eu sonhava e rezava por brinquedos que nunca tive, mas quando acordava lá estava o sapatinho junto à cinza e qualquer coisa nele brilhava. "Lembraram-se de mim!" Era o mais importante. Que magia era aquela que não me dececionava! Bastava a reunião da família para que o calor irradiasse pela noite fora. Bastava que ninguém faltasse naquela hora. E como o silêncio falava! Depois as pessoas fizeram-se estrelas e deixaram o lume aceso para que o espírito de Natal não se apagasse em nós.

Teresa Almeida Subtil

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

"Podia ter sido"




   



Era o primeiro de Dezembro quando desembocámos no monumento natural Las Médulas – Leon –formações resultantes de extrações de ouro, há mais de 2000 anos e declarado património mundial pela UNESCO. É a maior exploração, a céu aberto, de todo o império romano. Podia ter sido outro o local para festejar o primeiro de Dezembro. Neste era mesmo improvável, mas tínhamos ido a Chaves, ao lançamento do livro do amigo José Maldonado e estávamos mais próximos daquela paisagem de uma beleza singular. Pareceram-me próximas e outros dizem que estão muito distantes. Depende do local de partida e do deslumbramento à chegada. Entrámos no primeiro restaurante para não perdermos tempo. Entre grafonolas e artigos agrícolas fomos bem servidos: “botillo del Bierzo” e “café de puchero”. A casa fora feita pedaço a pedaço num barracão que o casal havia comprado há anos. Tinham vindo de França onde o trabalho era ainda mais duro. Vendiam todos os objetos do espaço exceto a grafonola que nos interessava. Por ali havia aparelhos musicais muito antigos. Despojavam-se de tudo, mas da música não. E havia visita guiada aos tesouros. Apetecia-nos ficar mais um pouco, mas era urgente partir porque as tardes de Dezembro são muito curtas. Prometemos voltar.

Poderia ter chovido como estava programado, mas o tempo abriu alas e até permitiu que entrássemos em grutas apertadas, com chapéu de lata e foco na mão. Três graciosas espanholas fizeram-nos companhia. Poderiam ter estado noutro local, mas passaram por ali e deram-nos indicações preciosas. “Afinal as galerias já abriram” diziam elas e eu nem queria acreditar na hipótese de me debruçar naquela varanda pendurada num abismo surreal. A terra e a pedra aglomeradas apresentavam tons vermelhos e alaranjados. Os morros lembravam as chaminés de fada da Turquia pela exuberância e pelo mistério. Castanheiros e carvalhos implantavam-se com arte num ambiente febril. Envolviam-nos melodias de há dois mil anos e só as ouve quem lhes pressente a evasão. Deveria haver horas de descanso, música e poesia para alimentar o espírito. Só poderia ser assim. Há pessoas predestinadas para se guindarem às estrelas após árduos trabalhos e projetos de futuro. Garimpavam ouro com técnicas especiais.
Poderíamos não ter vindo ao lançamento do livro “Podia ter Sido”, mas ainda bem que viemos e ouvimos da voz do autor que caminhos outros poderia ter andado, mas foram aqueles os que trilhou.
Na verdade, talvez tivéssemos visto só metade da paisagem, mas valeu a pena. Regressámos ao hotel Termas que nos agradou sobremaneira. Boa relação preço-qualidade. Logo à entrada o perfume era de bem-estar, o que à partida é uma nota de boas-vindas. Limpo, cuidado e sem pretensões. Escolha acertada, pensava eu. Pessoal do tipo familiar e o pequeno-almoço também. “Prove a minha compota de abóbora! dizia-me a responsável. O rapaz da receção acompanhou-nos e resolveu de imediato as ligações tecnológicas ao mundo a que estamos habituados.
Há pessoas que vestem Zara e parecem uns príncipes e outras que vestem grandes marcas e parecem espantalhos, disse isto (mais ou menos) no último programa Prós e contras” o jornalista Luís Osório. Concordo
Poderia não ter acontecido, mas na manhã do dia seguinte acordaram-nos as saudades dos amigos e com eles caminhámos por uma cidade onde não faltam lojas com boas marcas e onde os buracos surgem a cada passo porque em cada espaço, que é preciso remodelar, surgem ruínas romanas e já sabemos que ninguém avança sobre achados arqueológicos. O cordeiro assado no forno era do outro mundo. Já na despedida, passámos pelo Hotel Vidago onde, em tempos áureos, eu e a minha amiga participámos num seminário. Agora os preços são para elites e os campos de golfe também.
Desta vez a separação doeu mais um pouco. E nós seguimos em direção ao Porto onde a magia da cidade invicta era sublinhada pelas iluminações de Natal.
De facto, podia ter sido outro o destino do fim de semana, mas registo-o porque me soube a amizade, a história, a beleza paisagística e a gastronomia transmontana.

Teresa Almeida Subtil
01-12-2019




terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Reino de Fantasia




Lembro a alegria da cerejeira grávida e vermelha e as cestas recheadas de amizade. Lembro a horta farta e cuidada e os sucos a dar de beber à sede na canícula do verão. Do calor e da sombra tenho saudades. E da merenda com frutos tropicais e compotas da ribeira. E do cristalino espelho de água e do mundo que nele vibrava. E do meu voo de borboleta entre a magia que pintava. Ah! E a simplicidade das cantigas que soltavam a melodia e a festividade de um reino de fantasia!
Sei que nunca mais chega Agosto. Era de outro calendário onde já não me reconheço. E as as mãos, inquietas, imbuídas de ternura e perfumes de goivos, escrevem em desatino e a poesia explode sem tino, nem lei, e tocam apenas a pele dos dias como se fossem frutos maduros plenos de paladar.

O reino arrefeceu ... mas as mãos recusam-se a regelar.

Teresa Almeida Subtil

domingo, 24 de novembro de 2019

Quase nada



Agita-se o Outono e é Novembro
A chuva miúda fustiga-me os cabelos
E gotas descem aos lábios
A desluzir palavras
E a deslaçar os dedos.

Quase nada
Apenas estrelas tombam dos candelabros
Para acenderem olhos nos olhos
Fantasia a arder em luz coada.

Um aroma a goivos
Evade-se pela porta entreaberta
E reflexos de lamparinas rubras
Deslizam na rua quebrada.

E a gigantesca árvore é já poema
Com alma e pena de bailarina
Vibrante sina que prende a noite
À saudade. Vadia, a palavra
É humidade que penetra e liberta

Volúpia de ondas azuis 

Marés secretas.

TeresaAlmeida Subtil



domingo, 17 de novembro de 2019


O grito

E do lixo saiu o grito
E do grito saiu a vida
E a vida é tão bela
Que o lixo serve de estufa
A uma nova estrela

Expurgado o dia entre o terror
E a alegria
O mundo amedrontado
Prossegue a lenta agonia
Sabendo que a cada momento
Há ceifas de humanidade


E o caixote poderá ser
O mar, o camião, a vala,
O forno crematório, a podridão.
E o grito sairá de qualquer lugar
Para esmagar a falsidade, o ilusório
A maldade e os jogos de poder


E do lixo saiu o grito
E do grito saiu a vida
E a vida é tão bela
Que o lixo serve de estufa
A uma nova estrela




Teresa Almeida Subtil

sábado, 9 de novembro de 2019

Flor do tempo

 Eras flor do tempo, entusiasmo, alegria

Eras estrela! Mesmo de candeeiro numa mão

E eu na outra, alumiavas o breu da noite.

Eras esgalhada numa época de portas baixas

E vistas estreitas.


Saí do mundo mágico e a cada regresso

Sentia-te as maleitas. E um dia

Caíste com o cesto dos marmelos e a chave do portão.

E o leito passou a ser-te sala, rua, quintal

E a vinha que já não desfolhavas, mas amavas.

E foste perdendo a razão.


Não voltaste a levar o banco ao arraial.

Nem à praça, nem ao poial das amigas.

Eras do tempo em que as viúvas não iam a festas

Nem cantavam na igreja.

Mas tu a cantar, rezavas.

A vida era bela. Deste-me este sentimento.


Partiste um dia e perdemos-te o chão sagrado

Mas o teu nome ficou exarado com a família

Adília do Nascimento, avó querida

Estrela que me guia

Poesia na minha vida.


Teresa Almeida Subtil




sexta-feira, 1 de novembro de 2019

A Casa II


Estranha, de ausências desmedidas
Espaço imenso e paredes gretadas

E eu? A quem digo das emoções?

Nas janelas faltam chilreios
E gerânios esculpidos no horizonte.
Não vejo a ponte e as cores do alvoroço.

Só os verdes das magnólias
E as flores brancas dizem de nós.
E o azevinho de bolas vermelhas
Aproxima a ternura do Natal
Que desenhavas no olhar

Chegaram os primeiros frios
E, talvez, a fogueira
Arda no peito e o azevinho enfeite
O parapeito da chaminé
E o Natal comece hoje pela manhã
E o poema rebente na euforia de outrora
E o vazio se desfaça agora

Como se a casa voltasse
Em toda a harmonia do traço
E do laço branco que ataste
Nos meus cabelos de menina.

Teresa Almeida Subtil







segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Fascínio




 Não sei se o fascínio vem do brilho dos solitários

com coloridas folhas de parreira

se da beleza translúcida da jarra verde

comprada para o casamento da avó

se da travessa esmeralda, enfeitada

com uvas de rei da vinha da faceira.



Ou será apenas  um poema

que vive na sala um enredo outonal

filtrado à hora mágica do sol-pôr

ou a saudade esgueirada dum olhar amigo

pena esvoaçante de ave

pintada num elegante vaso antigo?


Teresa Almeida Subtil



terça-feira, 1 de outubro de 2019

Vamos!


O maestro tem a batuta na mão e traquejo de orquestra.
Não, não penses que estão no salão,
em qualquer lugar entram a tempo, gente sem idade.
Quero participar neste festival, todos são chamados,
é a aldeia global.
Quero entrar na hora e acertar o tom.
O maestro tem garra e sabe agarrar-nos a alma,
cada um dá o melhor de si, a sua própria voz;
até um cana rachada sente o apelo e responde à chamada.
O maestro não sabe de onde vem, não pertence a lugar nenhum,
apanha o melhor de cada um.
A pauta é de veredas abandonadas.
A melodia nasce nos caminhos.
Na diversidade está a beleza e a energia do trecho musical,
a criação.
No arrebatamento está a afinação.
Eu já tenho a bengala,
não importa de quem é a ideia,
a causa é comum: vamos!


Bamos! (lhéngua miandesa)

L maestro ten la bara na mano i saber d'ourquestra.
Nó, nun penses que stan ne l salon,
an qualquiera sítio éntran a tiempo, gente sien eidade.
Quiero partecipar neste festibal, todos son chamados,
ye l'aldé global.
Quiero antrar na hora i acertar l tono.
L maestro ten chama i sabe agarrar-mos l'alma,
cada un dá l melhor del própio, la sue própia boç;
até un canha rachada sinte l bózio i responde a la chamada.
L maestro nun sabe dadonde ben, nun pertence a lhugar niun,
apanha l melhor de cada un,
La pauta ye de breias abandonadas.
La melodie nace ne ls caminos.
Na dibersidade stá la beleza i l'einergie de l testo musical,
la criaçon,
ne l arrebatamiento stá l'afinaçon.
You yá tengo la caiata,
nun amporta de quien ye l’eideia,

la causa ye de todos: bamos!

Teresa Almeida Subtil
(In Rio de Infinitos / Riu d'Anfenitos)

Celebrando o Dia Mundial Da Música.




quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Voz de Outono



Voz que nasce nos olhos, na boca, na expressão… Anuncia-se em ondas sedutoras e roça, com elegância, os galhos da minha árvore preferida, salpicada de flores imaculadas. Agita as folhas do livro no meu regaço. Aconchego o xaile suave, ainda de algodão, sentindo a primeira brisa a eriçar a pele, e deixo voar os cabelos com os pássaros. Apetece ficar e apagar o som dissonante que a vida teima em mostrar. A tua voz, agora molhada, enrola as pétalas mais coradas em coreografias íntimas, até as pousar e aconchegar. Perfeita a pintura da tarde, não fora a passarada dar umas bicadas de última hora. Nada é estático e a tela nunca termina, nem o teu sopro no meu ombro, nem o natural balanço da árvore que a aragem vai despindo... E eu desligo, desligo tudo o que me atropela e entrego-me à melodia ímpar - pura carícia outonal. Como se o instante fosse criação absoluta e fizesse de nós folhas aos folhos arremetidas aos vãos de escada onde se mordem frutos maduros. Tua voz é tempo,  chama e eco que percorre o alpendre da nova estação, pulsar poético a que a natureza se rende.

Teresa Almeida Subtil












sábado, 21 de setembro de 2019

Centelha Concupiscente


Na pele dos dias intromete-se a palavra
E a melodia que a embriaga.
Emerge pura na orvalheira
Como se feiticeira fora.
É terra, é povo, é dor e fantasia
Guelra efervescente.
E ao primeiro golpe de sol
Contorce-se, esgueira-se pela escarpa
E resvala em murmúrio de nascente.  
É centelha que ao poema se entrega
Concupiscente.

Teresa Almeida Subtil






domingo, 15 de setembro de 2019

Dialética / Caminhos de liberdade



Não é muito habitual no Porto um clima tórrido como o de 14 de setembro último. Atravessar a Avenida dos Aliados fez-me lembrar o deserto lá para os lados de Abu Symbel, onde só experimentei o calor às 8 da manhã porque, a partir daí, já era impossível e o meu chapéu até era bem abonado. Subi lá para os lados da Sé e contornei pela esquerda até aos portões da Casa Museu Guerra Junqueiro, poeta, prosador, jornalista e político português (1850-1923),  “destacado escritor do Realismo, movimento literário que reproduz a ação social e política da segunda metade do século XIX”.
Por vezes sinto-me em casa, e este foi um desses gratificantes momentos, não fosse eu de terras de Freixo de Espada à cinta.
Rui Fonseca e Ana Homem Albergaria apresentavam, então, o seu livro de poesia, na simpática cafeteria, logo à entrada, do lado esquerdo. Fiquei atenta e motivada pela temática. Adentrar esta poética é um caminho aliciante. Criação que tem a sua origem na energia que Ana Albergaria imprimiu à sua exposição de pintura, por onde perpassam preocupações existenciais. O cruzamento da filosofia com a arte abriu, assim, portas à dialética da vida.
 Folheio o livro e, em olhar cruzado, surge a profundidade do tema que toca a criação, a interrogação, a busca da felicidade, a ética, a liberdade … surge a poesia como arte maior em que o ser humano se emociona, “se ergue e se constrói”.

Depois de desfrutarmos de um deslumbrante pôr – do- sol no Passeio das Virtudes e de experimentarmos os sabores moçambicanos da casa da tia Orlanda, encaminhámo-nos para a Feira do Livro onde nos aguardava o mundo das descobertas.
Enfim…” o Porto é lindo de morrer!”

Teresa Almeida Subtil

Corpo de mulher

“Que olhas tu mulher
Por entre roupagens de esperança
Onde o verde clareia a mudança?
Ainda que visivelmente semicoberta
Em teu olhar arguto,
És suficientemente capaz de veres além
Muito além deste parco aquém
Por onde a dialética do caminho se move.
Que olhas tu?
O futuro em teus braços
 A humanidade em teu seio?
E o mundo inteiro no teu colo?
Ou será algo mais
Para além deste teu inusitado e advertido olhar
Com o qual me encontro todos os dias
E me acena com sorriso
Num apelo longe de ir mais longe?...”

Rui Fonseca pg 50
Cumplicidade Poética

Saberei sempre como te tornar cúmplice,
Nesta busca, quase insana,
Pelo que me transcende.
E quando não souber mais
Como te fazer refém dos meus sentimentos,
Então deixarei que afogues
Todas as palavras frias e sem sentido,
No mar das minhas lágrimas.
 As outras,
As que se derretem em doçura
Como um beijo em lábios quentes;
As que se expandem em urgência de amor,
Transformando os padrões da nossa consciência;
As que gritam justiça, as que abraçam;
As que cantam a paz; as que dançam:
As que nos elevam a uma renovada existência;
Essas permanecerão dignas do teu nome: Poesia.
E tu e eu seremos nós, a coexistir na minha voz!

Ana Homem Albergaria pg28


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terça-feira, 10 de setembro de 2019

Rente à telha


             
Abre-se a comoção da tarde
A navegar em vela branca e nua
E a ponte é suave abraço de mulher

A lua é beijo a brilhar na amurada
Por onde se espreguiça teu olhar
E o par que tropeça na calçada
Arrebata o rubor da flor

Rente à telha sucumbe o dia
Em arroubos de prazer.


Teresa Almeida Subtil


Museu romântico - Porto





domingo, 25 de agosto de 2019

Seiva de afetos / sangre d'afetos

Seiva de afetos


 Trinados soltos no picão e litanias

Sufragadas às raízes.

Rio, seiva de afetos

Que na alma correm e na folha exultam.

Oliveira a reclamar identidade.



Rebeldia esgalhada a pique.

História lavrada. Estrela da manhã.



Poesia aguçada no paladar

A florir em cada galho. Árvore de vida.

Renovo. Luz acesa.

Grito e liberdade.

E um aroma a flor de laranjeira

Que no verso arde.



Cada passo é asa aprumada ao infinito,

Suspiro que atravessa a casa.

E cada olhar que a patine do tempo enobrece

É folha de um livro

Que à humanidade pertence.





---Sangre d'afetos  (lhéngua mirandesa)



Trinados suoltos an la peinha

I ouraçones arrincadas a las raízes.

Riu, sangre d'afetos

Que n’alma cuorren i na fuolha sáltan.

Oulibeira a eisegir eidentidade.



Atremetimiento.

Stória lhabrada. Streilha de la manhana.



Poesie aguçada ne l gusto

A florir an cada galho. Arble de bida.

Renuobo. Lhuç acesa.

Bózio i lhiberdade.

I un aroma a flor de laranjeira

Que ne l bércio arde.



Cada passo ye ala a dreitos al anfenito,

Suspiro q'atrabessa la casa.

I cada mirar que la prata de l tiempo einobrece

Ye fuolha dun lhibro

Que a l'houmanidade pertence.



Teresa Almeida Subtil




terça-feira, 13 de agosto de 2019

Meu navio


Teu corpo é meu navio
Transparência do instante
Em que o leme enxerguei
E todo o génio caldeado além
Num mar que não recordo e sei

Passei a ler-te sem tocar certezas
Luz que para lá do véu se proclama
Sem seres céu serias chama
Sem seres meu passaste a pertencer-me

Quase te toquei e tanto queria
Aquela aurora em fim de dia
Clarão e bruma quente
Ilha que ao longe se faz presente
Navio tatuado em minha mente.


Teresa Almeida Subtil


Ilha de S. Jorge - Açores

domingo, 4 de agosto de 2019

Poesia na cozinha


À volta da mesa as expressões dizem da qualidade da comida.
E entre os convivas perpassam sentimentos de união.
Afinidades de paladar atraem grandes amizades.
Somos soltos e dizemo-nos verdadeiramente.
Conquistamo-nos, é verdade.

À volta do tacho fervilham versos de arrepiar.
E é de cumplicidade que os ingredientes se envolvem
E os temperos acrescentam singular paladar.
Cruza-se a fantasia nas mãos de quem compõe

Um prato de indescritível prazer.

Cozinhar é um dom de quem o sente e partilha.
Até o poeta se ajoelha e declama, o músico dedilha a melhor melodia.
E o pintor acende tons impressionistas.

A mesa é um lugar sagrado. É um lugar de afetos.
E é tão natural a gargalhada
Como a guitarra bem afinada a contorcer-nos o corpo e o espírito.
E a satisfação e o rubor sobem ao rosto 
De quem da cozinha faz poesia.



Teresa Almeida Subtil













Abertura do 20º Festival Intercéltico 

em Miranda do Douro 

com o grupo MELKISEDEK (Argentina).



LIBERDADE