sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Breve o voo


 Breve o voo. Infinito o amor.
E tão íntima a poesia que me deixaste.
E as flores e os perfumes. E a liberdade.

As palavras que me deste e as fontes cristalinas
Glorificam-te. E do teu nome brotam as mais doces melodias
E as amargas também.
Porque neste verão partiste, minha mãe.

Percebo-te em mim, tão leve como o beijo
E o sentimento da manhã. E o teu passo é meu
E cada momento te pertence. Olhar que elevo.
Azul intenso. Tão breve!

Teresa Almeida Subtil

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Setembro me trouxe

Setembro me trouxe

A palavra é, agora, um sopro de alma
A declinar numa folha de Setembro,
por vezes calma, outras ventania.
É esta saudade entre a lágrima e a alegria
vertida num rio que me corre dentro.

É o canto da cotovia na ponta da oliveira.
Que sem melodia, nem o sumo da ideia
me escorregaria na letra, nem o fio do verso
seria de origem duriense. Setembro me trouxe
e doce é a uva e a vindima que na cuba floresce.

Serei sempre laranja do pomar
que almeja o sol na pele. E ave de alto sonhar.
E voo que me cresce. E a sede de ti.

É meu passo.
Festa da vida que em mim se ergue.
Setembro me trouxe.


 Poesia e pintura de 
Teresa Almeida Subtil

domingo, 17 de setembro de 2017

Assomadeiros Resbalinos


Ardo ne l deseio de bolar,
inda que saba q´hai assomadeiros resbalinos,
altas faias an que me puoda prender,
i nuobos i retrocidos caminos que l suonho precura
i anque l miu pensar
quede colgado i tembre mirando l peligro,
sien la palabra q´amente
la berdade i l resfuolgo de l miu sentir. 

Tengo ganas de bolar.
Esta paixon ye cumo un riu de querer fondo,
custoso de secar. Chama-se lhéngua mirandesa.
Solo s’astrebe quando se sinte la bertige de la caída,
mas ye ende que l bolo lhieba gusto i plenitude.

Talbeç seia un bolo maternal, buído na calor
i ne ls beisos de la fala
quando inda nun se sabe falar. Cuido you
que quien me dou de mamar, dou-me, tamien,
este deseio, sien frenos, de sbolaciar.

Fago l risco nas alturas,
porcuro fuorça nas alas que la curjidade me dou.
Nun quiero quedar a meicamino,
quiero antrar ne ls sonidos i na guapura deste falar.

La felcidade stá an anteimar.

Mirantes escorregadios

Ardo no desejo de voar,
ainda que saiba que há mirantes escorregadios,
altos penhascos em que possa encalhar,
e até novos e retorcidos caminhos que o sonho procura
e onde o meu pensamento
fica suspenso e treme ao olhar o precipício
sem a palavra que diga
a verdade e o ímpeto do meu sentir.

Tenho fome de voar
por dentro da tua simplicidade e beleza.
Esta paixão é como um rio de querer profundo,
difícil de secar. Chama-se língua mirandesa.
Só se ousa quando se sente a vertigem da queda,
mas é assim que o voo ganha gozo e plenitude.

Talvez seja um voo de colo, bebido no calor
e nos beijos da fala
quando ainda não se sabe falar.
Quem me deu de mamar, deu-me, também,
este desejo, sem freios, de esvoaçar.

Traço o risco nas alturas,
procuro força nas asas que a audácia me deu.
Não quero ficar a meio caminho,
quero entrar na sonoridade e na beleza deste falar.
A felicidade está em ousar.

Teresa Almeida Subtil
(in Rio de Infinitos/Riu d'Anfenitos)


Dia da Língua mirandesa.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Vou levar-te à festa!

Lançamento do Livro “ Rio de Infinitos/Riu D’Anfinitos”
Sáb 09/09 - 14:30 (na sede da Junta de Freguesia).
Comissão de Festas da Nossa Senhora das Graças - LAGOAÇA


És o meu vestido novo e eu quero a alegria que me amanhece e me leva na palavra degustada. Cada dia é um vestido a estrear e traz no ventre um novo paladar. Trago comigo a vontade de renascer nos passos em que voava, nos beijos que me cresceram. Sem desejo a vida não é nada. E eu quero voar sobre o cheiro das pétalas da minha aldeia. Sentir e ter corpo de banda filarmónica, a música que fazia e faz das ruas da minha aldeia as mais belas do mundo. "Chegou a música!" E todos corriam e os olhos tinham a magia e a alegria de viver num vestido a estrear. Um vestido sonhado o ano inteiro. Ainda que fosse uma blusa apenas, tinha as cores em que a pintáramos. E cada passo entrava na orquestra a um ritmo em que se jogavam todas as notas de um livro: o nosso. “Sem música nem a vida faria sentido” (Friedrich Nietzsche).
Vamos! Este livro é um pássaro a sorver o orvalho poético de cada amanhecer e, como dizia Alexandre O’Neil, que as palavras nos beijem como se tivessem boca.
Teresa Almeida Subtil

Gravada a ouro esta apresentação de Rio de Infinitos/Riu d'Anfenitos. O reencontro, os afetos ... a minha terra - Lagoaça.