quinta-feira, 25 de junho de 2020

La jabeira / A algibeira






La Jabeira 


Nun sei dezir mui bien,

anque l sentir seia mui fuorte,

dezde la purmeira beç

que çcalçei uas guapas alparagatas,

puse ls pies ne l chano i beilei un repasseado.

Senti l'alma na lhéngua, ne l sonido

i na fuorça de las regubiuras.

Apuis la gaita, las castanhuolas i la fraita

fazerien camino cun nós por esse mundo afuora.

Benírun amboras i ampecilhos a zbiar-mos de la torna,

mas era tan berdadeiro este sentir,

que saltábamos todos ls paredones

i cuntinábamos,

cumo se na jabeira morasse la gana de bibir,

la berdade i la riqueza de la cultura mirandesa.




Algibeira mirandesa

Não sei dizer muito bem,
embora o sentir seja muito forte,
desde a primeira vez
que descalcei umas lindas sandálias de verão,
pus os pés no chão e bailei um repasseado.
Senti a alma na língua, na melodia
e na força do movimento.
Depois a gaita de foles, as castanholas e a flauta
fariam caminho connosco por esse mundo fora.
Vieram contratempos a desviar-nos do rumo,
mas era tão verdadeiro este sentir,
que saltávamos todos os muros
e continuávamos,
como se na algibeira morasse a vontade de viver,
a autenticidade e a riqueza da cultura mirandesa.

Teresa Almeida Subtil
(in Rio de Infinitos/Riu d'Anfenitos)


segunda-feira, 15 de junho de 2020

Trilhos


É urgente sair da indecisão atordoante
Sobrevoar tempos dissonantes
Garimpar a palavra mastigada no silêncio
Aspirar-lhe o perfume para dele sair
Em volúpia

Atrever-se a esculpir, limando grades
E seguir além
Da imagem e da pele do horizonte
Como quem
tateia místicos e peregrinos
Diamantes. Brutos enigmas

E se entrega à simplicidade do olhar
Ao tempo em nós. Ao desejo
E à versatilidade ímpar
Da viagem

Teresa Almeida Subtil 


domingo, 7 de junho de 2020

Falua em calmaria azul




Nilo River - Assuan


A noite é de velas brancas dançando

Melodia que só as águas inventam

E a brisa é apenas beijo na face da noite

Que se aproxima como uma lenda

Ou um braço no ombro

Tão leve e aconchegante

Que a vida é este momento

Recortado nas agulhas do tempo

E a ternura é ambiência

Que nos toma

E desliza...


Teresa Almeida Subtil





~



segunda-feira, 1 de junho de 2020

Olhos de miosótis





O António tem olhos de miosótis

Ou de estrelas

Avó, vem cá! E correm de mãos dadas

Olha um caracol eu sei!

O olhar da avó é profundo

Sabe as virtualidades do tempo

Ou julga saber.

E o António a aprender, descobre e corre

Corre quanto pode

Parece ter medo


Que se acabe o mundo. 


Teresa Almeida Subtil