Um corso galgou a colina, em três ou quatro saltos, com
elegância e velocidade. Nem deu tempo para o desejado registo fotográfico, mas
o instante ficou gravado na memória, como uma prenda aos amantes da natureza. São
terras da lombada, pródigas em perfumes de arçã e tomilho e aves pousando ao de
leve. As rosas-de-lobo, com pétalas de puríssima seda, estavam no auge.
Depois da curva, era possível ver pegadas de cabra selvagem,
bem marcadas pelo peso e pela pressa. Enquanto os caminheiros prosseguiam entre
conversas e gargalhadas, um som de desassossego captou os olhares. E na
clareira, a breves passos, assistiram ao sagrado momento do nascimento, entre
estebas e rosmaninhos.
No meio do espanto, a cadela Violeta precipitou-se e o Pedro
foi-lhe no encalço; pegou a chiba (assim lhe chamaram) ao colo – com infinito
carinho - e voltou a colocá-la na cama que o destino lhe traçara. E a chiba fez
a sua primeira corrida, mal se segurando nas pernas. Julguei ver (sem olhar) lágrimas
de tresmalhada ternura. A desatinada Violeta talvez tivesse estropiado o recém-
nascido, se lhe tivessem dado tempo. A mãe devia estar embrenhada na floresta,
bem perto do receio e do apego.
E o grupo prosseguiu a caminhada em comovido
silêncio.
E do silêncio rompe o poema:
Raiç d'arçana
(Lhéngua mirandesa)
Eiqui la palabra ye
nial
Raiç d'arçana
Passo stribado
Beiso, seda puríssema
Floresta a oulear
Nuite atrecida
Albura a spigar l die
Zassossego
a spicaçar la chama
Risa a las braçadas
Abraço a cheirar a tomielho
Spiga antalisgada
Amor renacido
An tierras de la Lombada.
Teresa Almeida Subtil
(Poema premiado em Versos de Amor de Manuel António Pina, Concurso - Museu Nacional da Imprensa/2020)
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