sábado, 23 de janeiro de 2021

O baú dos tesouros


 

 A cabaça é algo a que atribuo sentimento. Sempre a vi matar a sede. E o vinho a gorgolejar na garganta de homens suados e cansados. Era percetível o prazer que a expressão denunciava.

Apesar de, a devido tempo, meter umas pevides na terra, nem abóboras nem cabaças se têm dado no meu quintal, mas gosto de ver folhas grandes e frescas encarrapitadas nos muros. Olho, fascinada, aquele tom amarelo-alaranjado que sobressai dos terrenos pejados de abóboras. E aprecio a cor e o sabor que dão às sopas e aos sonhos. Ainda tenho de fazer o doce onde não faltará o ligeiro gosto a canela.

E as cabaças? Um dia visitei um quintal de cabaças. O dono tinha-lhes verdadeiro afeto. Eram de diferentes modelos e tão belas como se ele esculpisse uma a uma em momentos de forte inspiração. Não as vendia. Estava entusiasmado e com uma ponta de alegria perfeitamente justificada. Só havia cabaças naquele espaço. Os caules trepavam e elas caíam com graça e originalidade. O sol, vaidoso, infiltrava-se e pintava-as a preceito. Não lhes batia de rajada, apenas lhes realçava as formas redondas. Dei graças por ter tido o privilégio de visitar aquela improvável exposição. Guardei-a no baú dos "tesouros". Um tesouro é algo que vivemos com emoção. E na cabaça, que o artista me ofereceu, pintei - com prazer- uma folha de parreira. 

Lembro, também, que numa digressão pela Índia, integrada na Associação de Professores Mirandeses, recriámos um serão transmontano. O ciclo da lã era o motivo principal, mas levávamos utensílios diversos, marcas identitárias do povo a que pertenço. No regresso perguntei à minha colega Carmina: o que vais fazer à tua cabaça? Ela olhou para mim e disse: queres? Sorri e trouxe da Índia uma cabaça transmontana

Teresa Almeida Subtil


Apraz-me acrescentar um comentário de José Veríssimo porque enriquece, culturalmente, o meu texto. É um escritor, meu conterrâneo, que tem feito investigação diversificada na minha aldeia de origem - Lagoaça, Freixo de Espada à Cinta.

Algumas cabaças ganhavam o nome da sua origem, ou pela originalidade de um ato decorrente ao longo da sua vida: "a cabaça da galega", "a cabaça da segada", a cabaça da merenda", "a cabacinha do zé", " a cabaça do pescoço delgado", "a cabaça da bexiga", ... e obedeciam a algo parecido com um ritual antes de serem colocadas a uso. Após a abertura do "bucal", retiradas as pevides e limpa no interior, eram colocadas no lagar, quando o vinho estava em fermentação, para ficarem "envinhadas" e, só depois, eram colocadas a uso. Quando alguma, particularmente querida, sofria algum acidente e rachava, a sua longevidade era prolongada, encamisando-a com uma bexiga de porco na próxima matança e posta a secar pendurada com o fumeiro."









sábado, 2 de janeiro de 2021

Carlos do Carmo





AMIGOS, vai ser esta a canção de Lisboa.

Parabéns aos que a criaram e defenderam: 

Ary dos Santos - autor da letra.

Fernando Tordo - autor da música.

Carlos do Carmo  - a voz que a imortalizou. 


Começo 2021 com o computador avariado.

Aproveito para fazer uma pausa no "Perfume do Verso", mas tenho o privilégio de continuar a viajar pelos poemas dos meus amigos.

Bom Ano!

Abraço.