segunda-feira, 27 de abril de 2020

Inverno acima




Cada grito era um farol em verde encosta
E o limão não perdia a acidez
Curativo de maleitas inverno acima
Dulcíssima a laranja inaugurava a manhã
E desfazia-se na boca em furor poético.

Assim a conheci no paraíso
Vida escorrida como fio de azeite
Louro em prato alvo
E a oliveira harmonizava-se
Nesta atmosfera que o olhar recolhia
Em adoração.

Teresa Almeida Subtil


quinta-feira, 23 de abril de 2020

Abril em Portugal



Por instantes 



Por instantes
Abre o sol na alcáçova dos abraços
E há mãos que amam e sofrem
E inauguram palavras que escorrem
Dos dedos
E pássaros da liberdade que cantam
Mornas de saudade

Por instantes
Deslizam e chispam na corrente
Reflexos de cravos vermelhos
Alguns de Abril acesos
Outros mergulhados na sombra
Como abutres transidos de medo.


Por instantes
Abre-se a música das varandas
A alegria e os aplausos
Que saúdam quem se entrega
A salvar as primaveras
De cada um.

Por instantes
Nos céus e na terra
Esbanjo, meu amor, os beijos
Que confinei noutra guerra
E nesta também.

Por sfergantes  (Lhéngua mirandesa)

Por sfergantes
Abre l sol ne l nial de ls abraços
I hai manos q'áman i súfren
I çcúbren palabras que scuorren
De ls dedos
I hai páixaros de la lhibardade que cántan
Mornas de suidade

 Por sfergantes
Zlhúbian i chíçpan na corriente
Relhistros de crabos burmeilhos
Alguns d’Abril acesos
Outros afundidos na selombra
Cumo cuorbos chenos de miedo.

 Por sfergantes
Abre-se la música de las barandas
L'alegrie i ls aplausos
Que salúdan quien s’antrega
A salbar las primaberas
De cada un.

 Por sfergantes
Ne ls cielos i na tierra
Arramo, amor miu, ls beisos
Que guardei noutra guerra
I nesta tamien.

Teresa Almeida Subtil

25 de Abril siempre!

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Gineceus de poesia


Teus olhos
Pétalas molhadas
Desfolhadas nos olhos meus.

Claras madrugadas
A despertar nas margens do dia
Maviosos gineceus de poesia.

Páscoas de aleluia
Estilhaços de vida
traçados em meu rosto.

Lilases dançando
E sinos tocando
Melodia que ouço.

Miúdas pétalas do chão
Poemas que escreves
Em minha mão.

Teresa Almeida Subtil






quinta-feira, 9 de abril de 2020

"La chata me Kantari"



Itália
É suspiro
E fonte de imaginação
Barco vazio
E perene canção.

Fremente poema
Abraço e gruta
Coral cravado no céu
E rubra pena
De quem te amou
E te ama

Ainda que
Perplexos e perdidos
A esperança não se confina
Nem se adia
E a força da natureza
Ressuscita 
Dia a dia.

Teresa Almeida Subtil




quinta-feira, 2 de abril de 2020

Tengo un namoro

Vídeo, realizado hoje, com poema e voz de Teresa Almeida Subtil [ Teresa Subtil ], que o declamou em Língua Mirandesa.
Recomendo vivamente que seja visto e ouvido, preferencialmente com phones ou auscultadores.

Jorge Nuno





Tenho um namoro

Tenho um namoro sabido de todo o mundo
E onde vou chamam-me mirandesa
Pelas palavras “amerosas” que digo
Nos cafés, nos serões e nas tertúlias poéticas.

As palavras provocam paixão
A quem as ouve e lhes agarra a alma
A alma da fala do planalto
Que nasce num rio que eu sei
E escala as arribas e sente o perfume
De tomilhos, arçãs, urzes
E quantas mais!

Tem luz de oliveira e sabor de laranjeira
Voa nas asas dos pássaros
E até as gaivotas gostam de a cantar

O Douro e os poetas fizeram-na mar
E por tanto amar prossigo
E sei que ela me quer também
Como puia enxertada com vigor

E nesta árvore escrevo as palavras
Meu vale, meu canto, meu sentir
Identidade quero dizer

Tenho um namoro sabido de todo o mundo
E quanto com mais proa o mostro
Mais fundo escavo o amor



 Teresa Almeida Subtil

LIBERDADE