Agosto frio no rosto, já
dizia a minha querida avó Adília. E, todavia, não. Agosto entrou em Miranda do
Douro com desenvoltura: calor intenso, brilho de searas loiras debruçadas nas
ribanceiras e gente a circular com alegria. Muitos já esqueceram a máscara, mas
nada é seguro. Continuo mascarada e gosto de ler agosto poliglota, com férias
na mirada, sem tempo contado, espelhos de rio, aromas de fiolho e madressilvas,
sabor a figos maduros e amoras silvestres e sangue D’ouro a correr nas
entranhas. Folhas soltas de um livro transparente que amo e em que sinto a
alma. E quantos mais o lerem mais se lhe fortalece o espírito e o desejo. É um
livro de folhas soltas que se entrega e cativa com elegância e ancestralidade.
É penedo que brada e se faz amigo. É laço que se solta e abraça. É aquela
batida de passos em socalcos e cruza os céus como aves de saias brancas,
esvoaçantes e chapéus floridos. Miranda é jovem, mormente quando busca e cava
memórias em tempo enterrado. Miranda quer saber. Quer estribar-se no passado e
arribar-se ao futuro.
Teresa
Almeida Subtil