quinta-feira, 30 de julho de 2020

Eimoçones de l nordeste / Emoções do Nordeste

Eimoçones de l Nordeste

Biba l berano, ls chapéus, ls lhaços, las bandoletes, ls pelos cortados, la naturalidade de la quelor i la lhibardade. I ls castielhos rachados, bandeiras i pendones i ls achados arqueológicos. Ls castros. I ls ribeiros, las fuontes, ls montes, ls poetas, las risas claras i las eimoçones de l Nordeste. Biba l praino, las streilhas, las nubres, las troniadas de bersos i todas las flores, animales i ansetos.
Biba l berano. Biba la música que trais ne l mirar, l Douro quelobreiro a caer de pasmo i a abrir antes de zbandalhar l’einergie chena, "lhuç de Pertual".
Biba la gana de ls pauliteiros i l repicado atroniando ls cielos. Biba l dius q'hai an cada un. Fraldas, einaugas, jabeiras i telares. L cerrobeco, l burel, l picado, las capas d'honra, la catedral, eigreijas, capielhas i semitérios.
Bíban las casas, las canales de teilhas burmeilhas, las caleijas, las squinas, cruzes i cruzeiros. Las puontes i ls arcos.
Bíban las arbles, las selombras i las merendas. Chouriças, butielos, chouriços, queisos, bolhas - doces, sodos, persunto, auga i bino.
Bíban ls turistas, ls picones i las alas multiquelores. L bolo i l'arte.
Biba l'amisade que se derrama a cada passo. I la chama.
Biba l berano, la lhéngua mirandesa, la camaradaige, l çpique, la jolda i la bibraçon de ls festibales.
Biba quien canta, quien beila i quien ama.


Emoções do Nordeste

Viva o verão, os chapéus, os laços, as bandoletes, os cabelos cortados, a naturalidade da cor e a liberdade. E os castelos rachados, bandeiras e pendões e os achados arqueológicos. Os castros. E os ribeiros, as fontes, os montes, os poetas, os risos cristalinos e as emoções do Nordeste. Viva o planalto, as estrelas, as nuvens, as trovoadas de versos e todas as flores, animais e insetos.

Viva o verão. Viva a música que trazes no olhar, o Douro a serpentear e a cair de espanto e a abrir antes de esbanjar energia plena, "luz de Portugal".

Viva a garra dos pauliteiros e o repicado atroando os céus. Viva o deus que há em cada um. Saias, algibeiras e teares. O serrobeco, o burel, o picado, as capas de honra, a catedral, igrejas, capelas e cemitérios.

Vivam as casas, as fiadas de telhas vermelhas, as ruelas, as esquinas, candeeiros, cruzes e cruzeiros. As pontes e os arcos.

Vivam as árvores, as sombras e as merendas. Chouriços, salpicões, queijos, presunto, bolas-doces, sodos, frutas, água e vinho.

Vivam os turistas, os picões e as asas multicores.  O voo e a arte.

Viva a amizade que se derrama a cada passo. E a chama.

Viva o verão, a língua mirandesa, a camaradagem, a disputa e a vibração dos festivais.

Viva quem canta, quem baila e quem ama.

 

Teresa Almeida Subtil



 


segunda-feira, 20 de julho de 2020

Verão no Nordeste


Com o livro na mão, abri a porta a nascente. E gostei de sentir a tarde com os poros abertos à carícia do sol. Havia gotas que nasciam dos malmequeres, das hortênsias, dos hibiscos e dos cíclames.
Ia sentar-me a ler na varanda, mas as folhas verdes e enormes da magnólia tinham a medida certa de poemas flamejando à chuva. E julguei ver duas cegonhas de uma brancura imaculada sobrevoando a minha rua.
Esqueci os medos, atravessei a casa e fui apanhar um astro que estava prestes a esconder-se. Dei-lhe a mão e levei a vibração ao responsável pela frescura no jardim.
E, naturalmente, descemos a rua em direção ao rio.







terça-feira, 14 de julho de 2020

Solstício de verão


Quando os passos retrocedem
E acreditar já não é o pino do verão
Ainda as cerejas têm o gosto raro e breve
E os galhos tombam
Dolentes e saudosos
Como os lábios que as mordiam
E os afetos que cresciam
Na frescura das águas
Espelhos de romances profundos
Corações de pradaria
Melodias de abraço e impulso
Que, todavia, se despem
Incendiadas na caruma do desejo
Pássaros breves que a natureza exulta
Retrato ou viagem da palavra
Em seu seio.

Teresa Almeida Subtil
21.06.2020



sexta-feira, 3 de julho de 2020

Ao sol poente

O som soltava-se ao alto da mansão
Dedilhado por mãos sábias
E coração cálido.

Ela abrandou o passo e ninguém percebeu.
Desprendeu-se.
Murmúrios e beijos repercutiam-se
Vadios.

E a portada envelhecida vestia a dignidade
Da partitura da tarde.
E nela se entranhava o cheiro a terra molhada.


E a trepadeira de flor miúda escalava o momento
Perfume-jasmim, melodia
E sentimento

E o gato de olhos esbugalhados
E a brisa a arrepiar a finura dos ramos
E a terra a arder e a saia amarela
A bailar ternamente.

Ao olhar para trás
Apenas uma pequena casa
Abandonada. E uma porta mágica
No caminho estreito de terra batida.

Devagar, ela prosseguiu
E o som que mitigou a sede da palavra
Abriu o sol poente.

Teresa Almeida Subtil