quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Despida

Chamaram-me à rua do Carmo
para me perguntarem: que escreves tu?
E eu, sem saber por onde vou, respondo:
está nu o meu verso, sem arpejo,
a rima anda solta nos poemas que leio,
nos peitoris das janelas que namoram o Tejo,
mesmo que o não vejam.

Cegos os meus versos dão-se aos dedos
para que apertem os desejos e as penas,
deambulem pelas ruas desoladas,
roubem as cordas às guitarras e toquem,
toquem uma melodia que encha as frinchas da noite,
que ressuscitem a trilha e a harmonia,
que encontrem a poesia perdida algures,
despida.

Teresa Almeida Subtil




terça-feira, 24 de novembro de 2015

Mesmo sabendo que o voo do verso
era inalcançável, vestia-me com a audácia
 de quem desistiu de pontuar as frases.
Sabia que as despias na frescura das águas
que – febris - se precipitavam.
E era sempre uma cumplicidade faminta

a debulhar-se em trechos de íntima ternura.

Teresa Almeida Subtil

sábado, 24 de outubro de 2015

Amanhecer no Gerês



Ao despertar qualquer varanda é palco de contemplação, um convite à evasão dos sentidos: é o apelo da natureza, é a emoção que nos pendura sobre o verde talhado a várias altitudes, é a neblina matinal que nos toca num arrepio de madrugada.
Não conseguimos ver o rio porque as árvores se lhe entregam e entrelaçam como se fora um romance de encantamentos. Não conseguimos vê-lo, mas ouvimos o seu palpitar impetuoso, o seu cantarolar entre os seixos que vai arredondando em massagens de corrente e vai fazendo caminho na direção de um destino infinito que lhe pertence. Talvez seja esta noção de movimento perene que nos prende ao momento, sabendo que a vida se vai fazendo de pequenos passos e, se não soubermos aproveitá-los, ficaremos com as mãos cheias de coisa nenhuma.
Pressinto um toque romântico que me eriça a pele ao reescrever a poesia do olhar, agora maduro, mas que - aqui - já foi tão verde como as folhas que teimam em manter a tonalidade primaveril ou como os veados que dominam graciosamente a paisagem e desfrutam de total liberdade. Passaram por mim tantas estações, alguns apeadeiros dissonantes, mas é gratificante redescobrir este bosque imaculado. E ao correr da pena deixo cair algumas gotas de orvalho matinal, este pulsar em que me sinto e confundo, como se fosse um pássaro que se enche de audácia e esvoaça para o sítio onde se sente feliz.
As palavras são, assim, esse poleiro de assombros e evasões. É verdade que tropeçamos em estados de alma que nos dizem que somos muito mais que nós mesmos, que não cabemos no sítio onde estamos e, por isso, voamos - nas palavras.

Embrenhados na serra, descobrimos fontes dispersas, pausas revigorantes. Há quem nunca esqueça as sedes da Guiné e vá abraçá-las e desfrutar do seio líquido da terra (a guerra gritará sempre na alma de quem a viveu).
Atrevo-me a dizer que experimentamos uma subtil intimidade com a natureza no rumorejar que nos acompanha, eco de fios de água a serpentear por ali. Parecem tão puros como os sentimentos. Depois, nos meandros da objetiva, surgem azuis intensos, verdadeira alquimia de vida e de amor.
Na serra do Gerês há partes selvagens e intocáveis. Ali a natureza é ela mesma em toda a sua biodiversidade. Sabemos que o parque nacional Peneda Gerês é considerado pela UNESCO como Recurso Mundial da Biosfera.
De facto, é grande a variedade e a riqueza vegetal devido às variações de altitude e às influências oceânica e continental. A cabra, o cavalo e a vaca surgem soltos como companheiros de jornada.
E, de repente, o Outono abre portas, tão lentamente, como se os deuses sussurrassem baixinho um poema escrito em requebros de beleza, um poema que é terra, que é alma, que é vida.
No Gerês experimentamos, também, um sentido duro de existir, ao vacilarmos nas curvas onde o fragaredo se mostra na iminência de ruir. As penhas parecem empurradas, em desequilíbrio permanente, como um país a doer. E dizem que os demónios vociferam em cascatas alucinantes. Debruço-me nos miradouros e deixo-me enfeitiçar. Olho e ouço cantares altivos de montanha e esculturas cinzeladas de espanto.
Por aqui se respira e se entende a presença e a alma poética de Torga:
“Serra!
Há qualquer coisa que em mim se acalma,
Qualquer coisa profunda e dolorida
Traída, Feita de Terra e alma.
 Uma paz de falcão na sua altura
 A medir fronteiras!
- Sob a garra dos pés a fraga dura,
E o bico a picar estrelas verdadeiras.”

Parto com fome de voltar, para saborear a magia do amanhecer no Gerês, este desejo insubmisso de acordar em lençóis de neblina, em beijos humedecidos, nesta sensualidade a derramar-se à flor da pele. Parto com uma agradável sensação de leveza, sentindo em pleno o ser físico e espiritual que somos, em qualquer momento e em qualquer lugar.

Teresa Almeida Subtil


(Texto publicado na BIRD MAGAZINE, em 21/10/2015)

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Feira do Livro GCM - 2014


Feira de l lhibro

Cheguei al jardin cula nuite a cair i l cielo  a amenaçar mudar a qualquiera momiento, tal cumo la bida: debrebe i resbalina.
Ls lhibros passórun a pertencer àquele lhugar, ls caminos perdírun la dureza i ls passos tornórun-se lhebes, mais lhebes que nunca. Ye siempre esta sensaçon d'ouséncia, de bolo, de star i nun estar. Ye l prazer de me perdir ne l berso solto i a ganhar bida própia - na boç, na spresson, na melodie i na antrega de cada un. Alguien que, por sfregantes, saliu de si i festeijou la palabra amigo. 
L lhibro biaija de mano an mano, i nele l alegrie, la rábia, l amor i l spanto de quien l screbiu. Stou cierta de que, de cada beç q'un lhibro s´abre, s´ ancuontra algo de nuobo i que bamos percebendo la forma cumo l'outor se bai çpindo, debagarico.
 La chuba nun chegou a cair, mas you senti-la nas lhágrimas que derramei por drento, ne l poema que la nuite screbiu i ne l cheiro de cada pétala que guardei ne l peito.

Naquel abraço, scrito i dedicado, seguiu l afeto i la berdade dun sfregante que baliu la pena.


Cheguei ao jardim com a noite a cair e o céu a ameaçar mudar a qualquer momento, tal como a vida: fugidia e imprevisível.
Os livros passaram a pertencer àquele espaço, os caminhos perderam a dureza e os passos tornaram-se leves, mais leves que nunca. É sempre esta sensação de ausência, de voo, de estar e não estar. É o prazer a deambular no verso solto e a ganhar vida própria - na voz, na expressão, na melodia e na entrega de cada um. Alguém que, por momentos, saiu de si e festejou a palavra amigo.  
O livro viaja de mão em mão, e nele a alegria, a raiva, o amor e a perplexidade de quem o escreveu. Estou certa de que, de cada vez que um livro se abre, se encontra algo de novo e que vamos percebendo a forma como o autor se vai despindo, devagarinho.
 A chuva não chegou a cair, mas eu senti-a nas lágrimas que derramei por dentro, no poema que a noite escreveu e no perfume de cada de pétala que guardei no peito.

Naquele abraço, escrito e dedicado, seguiu o afeto e a verdade de um momento que valeu a pena.


Teresa Almeida Subtil

quarta-feira, 29 de julho de 2015


Para quem quiser ser blogueiro, pelo menos um dia.
Para quien quejir ser blogueiro pul menos un die.

Todos serão bem-vindos.
Todos seron bien- benidos.


Blogueiros de l Praino 2015

Astanho será die  22 de Agosto
Na Speciosa

Ide i lhebai amigos, tamien!

A la pormanhana:

Chegada pulas 9 horas an pie de l´Eigreija

Besita guiada a l´aldé i poemas botados al aire, an mirandés, lhionés i asturiano

Pulas 10.30 horas, na Eigreija:

         Dinis Meirinhos- Pequeinho recital de guitarra
                                   Músicas:
                                    Fantasia Húngara i la Catedral

          Dinis Meirinhos ye nieto de la tierra i l pobo será cumbidado a assistir al recital

A las 11 horas, un taquito na casa de la mardoma speciosana i besitas: al sítio dadonde l Citote saliu, al Forno i a la Cruç i Fuonte de l Cereijal. 
Besita a l´Eigreija de l Naso









Pulas 13.30 horas, almuorço ambaixo de ls carbalhos, para se repetir l que fui ne l pormeiro Ancontro de Blogueiros, an 2008.

L armuorço será de chicha assada ne l lhume, a botar fumo eilhi mesmo.

L précio ye 15 ouros
Alhá achemos quien mos faga l almuorço, eilhi mesmo, a las carbalheiras, sien chubida de précio. Nun fumos capazes de l sacar por menos de 15 ouros, por muito que fusse resgatiado an bários sítios.
L que amporta ye que quedemos cuntentos, nós i la cozineira.
Ye serbido pul Malharrés cumo l anho passado.
L rancho:
- Melon cun persunto, selada d´oureilha, selada de garbanços cun atun, tabafeia de Malhadas, assada.
- Chicha de bitela assada alhá, (posta) cun selada i batatas cun tareia
- Bolha doce i selada de fruta
Ls mardomos hán-de lhebar uas lhambiçqueirices para quedarmos cun la boca doce pal café que cad´un pagará na Casa de l Naso.

A la Tarde

La tarde ye na Speciosa que la mardoma speciosana nun fai por menos.

Na ACRS:

Pulas 15 horas, dues palhestras de ua meia hora cada ua, pequeinhas, para que nun mos cansemos i nun mos deia l suonho:

                                  Associaçon Faceira- Pendones de la Nuossa Tierra,
                                                                   cun Ricardo Chao
                                  Associaçon de la Lhéngua i C.M- Carril Mourisco i cruzes deiqui,
                                                                    cun Alcides Meirinhos

Pulas 17 horas, ua merenda cun cousas de la nuossa tierra




Las anscriçones deberan ser feitas até die 20 de Agosto

Para bos assentar:


Eiqui an quementairo
adelaide.monteiro@gmail.com
elf_vlf@hotmail.com ( Tiégui Albes)
918217183- Delaide Monteiro
914748784- Tresa Almeida
     
Lhebai amigos, tamien!!!!
Fazei la nomiada por adonde andebirdes. Isto puode ser ua sementica que ancomeçada a abrolhar an nuobos falantes.


(Querendo podeis buer un cafezico no Naso, antes de ir a caras a la Speciosa, Eiricas abaixo, que alhá só hai apuis d´almuorço. Senó, só apuis cun l taquito na casa de la mardoma).
Bá!, mas puode ser que Nuossa Senhora de la Cunceiçon faga un milagrico pa ls retardatários de café i que amanhe ua fuonte que mane, de l lhado de trás de l´eigreija, a ua selombra de parreira. I digo-bos que si ye buono, que a mi yá me tocou un milagre dessas!
Mas nunca fiando!... Nuossa Senhora puode nun star birada para milagres!!!!!



sexta-feira, 24 de julho de 2015

Sentir-me poema




Sentir-me poema

ye tener ne l cuorpo este riu, este subressalto, 
este bolo raso beraniego
este sentimiento muleiplicado, 
esta mauga rasgada na piel..

Sentir-me poema ye ser esta lhágrima 
que nun me redime, 
este oulor que me prende, 
esta augaçada que me agarra ls braços 
i m' arrolha l'anquietaçon.

Sentir-me poema ye perder-me 
sien sequiera m' amportar cun la rezon.



Teresa Almeida Subtil

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Despida






Chamaram-me à rua do Carmo
Para me perguntarem: que escreves tu?
E eu, sem saber por onde vou, respondo:
Está nu o meu verso, sem arpejo.
A rima anda solta nos poemas que leio
Nos peitoris das janelas que namoram o Tejo
Mesmo que o não vejam.
Cegos os meus versos dão-se aos dedos
Para que apertem os desejos e as penas
E deambulem pelas ruas desoladas
E roubem as cordas às guitarras e toquem
Toquem uma melodia que encha as frinchas da noite
Que ressuscitem a trilha e a harmonia
Que encontrem a poesia perdida algures
Despida.


Teresa Almeida

quinta-feira, 12 de março de 2015

As nossa mãos


 
 
O primeiro arrepio de pele, num toque subtil,
desajeitado e despropositado parecia,
mas tão cálido e másculo eu o percebia!
Sem ousadia de te ler o olhar, nas tuas mãos
viajava. Sucumbiram as minhas na vontade de as tocar.
Depois perdi a conta aos belos poemas que juntas escreveram.
E foram tantas as pétalas e as cores que nelas se tocaram!
Foram asas em debandada, loucura de alturas precipitada.
Foram torrentes de ternura, berço, colo de rebentos.
E, até no meio dos vendavais, recordo o jeito
como semeavas primaveras no meu peito.
Teresa Almeida Subtil

terça-feira, 3 de março de 2015

Serenidade

Serenidade (an mirandês)

Partiste cumo un assopro,
cumo un airico tan brabo quanto sutible
de pura poesie. ...
Ancuontro-te, inda, streilha fulgurante,
ancentibo, sementeira a germinar
na naturalidade de ls caminos que trilheste.
Ancuontro, inda, na palabra derramada,
nas páiginas que deixeste, l brilho, la singularidade de l mirar,
la fiesta de la bida nua berdadeira risada - la tue.
Ancuontro-te, percipalmente, na serenidade de la lhuç q'abre camino
i mos amostra las pequeinhas coisas, las que rialmente amportan.
Ancuontro, ne l splendor de l die que, an mi, se recuolhe,
tantas rezones para dezir:


 bien haias, Amadeu Ferreira.



 Serenidade

Partiste como um sopro, como uma brisa,
como um perfume tão agreste quanto subtil
de pura poesia.
Encontro-te, ainda, estrela fulgurante,
incentivo, sementeira a germinar
na naturalidade dos caminhos que trilhaste.
Encontro, ainda, na palavra derramada,
nas páginas que deixaste, o brilho, a singularidade do olhar,
a festa da vida numa genuína gargalhada - a tua.
Encontro-te, principalmente, na serenidade da luz que abre caminho
e nos ensina as pequenas coisas, as que realmente importam.
Encontro, no esplendor do dia que, em mim, se recolhe
tantas razões para dizer:


 Bem hajas, Amadeu Ferreira.

Teresa Almeida Subtil


(Amadeu Ferreira era Presidente da Associação de Língua e Cultura Mirandesas.) 


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Nem raça nem credo.


A primeira vez que de ti me abeirei

todas as sedes me tomaram. Sem raça nem credo.

Cruzei-te num primeiro abraço, mar sonhado, desejado e

finalmente sentido. Quando a coragem permitiu

 o primeiro mergulho, até a areia me bordou o corpo,

ponto por ponto. As cores brincavam e eram tantas

que despertavam e refletiam a luz que queria minha.

 

Nos meus olhos de céu e mar cruzavam-se correntes loucas,

e eu já sem roupa fiquei à tona e deixei-me prender

nas mais belas cores. Fiz-me laço, palmarés de glorioso arco iris.

Sei, sei que te dei versos sem palavras e, num silêncio prometedor,

até as czardas se ouviram. As czardas que bailaria com paixão.

As czardas que, para ti, escreveria com emoção.

 

Nos meus versos o mar endureceu, as lágrimas fizeram nuvens

e  foram quentes as cores que me vestiram.

Confesso: fui apanhada e fiquei onda a pulsar em mar alto.

No meu horizonte as palavras também se despiram de chavetas

e ficaram tão abertas até se fazerem espírito,

fado falado, morna resgatada, sal de miscigenação.


Teresa Almeida Subtil
 

 

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

O voo da cotovia


Se vires uma cotovia perdida no espaço,

desenha-lhe um traço, estende-lhe um fio de aurora,

onde possa amar a claridade do tempo inicial,

o tempo dos amplexos do sol nas escarpas,

o espanto do mundo pendurado no penhasco

e do canto esgalhado nas arribas do apertado vale.

 

Já não se reconhece nas asas em que acreditava,

mas sabe que bebia a melodia imaculada das cascatas enfurecidas,  

dos orvalhos da noite, do grito surdo das folhas perdidas.

Sabe que percebia o resfolgo da terra quente e molhada.

 

Fez-se caminho de rio, eco de margens a pulsar paixão,

perigo, queda, lonjura, graça esfumada, queda rasa de alma.

 

Morou sempre longe, rente ao penhasco, para lá da imaginação.

A cotovia que tinha colhido na areia movediça o esplendor,

fechou o ciclo. Fez-se regresso, primórdio. Sabia que voava.

 

Esvoaçar  é o seu destino.  Sempre longe da claridade do ninho,

continua a rasgar asas, perseguindo  horizontes impossíveis.

 

 Se vires uma cotovia perdida no espaço,

desenha-lhe um traço, estende-lhe um fio de aurora.


Teresa Almeida Subtil
 
 

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Abraço arrochado


Registar as minhas emoções é prolongar o que me dá prazer ou arrancar de mim todas as agruras. É como ir ao psiquiatra e deixar a conversa fluir sem freios.

Hoje foi um dos dias de registo, hoje fui dar-te um abraço, daqueles teus - arrochados -, abraço de amigo que se quer sempre perto. Não podia deixar de ir. Fui até Sendim, a tua terra, e encontrei-te metido numa capa que nunca te tinha visto. Parecia que deveria vir dos afetos que se aconchegam nas palavras. Encontrei-te rodeado de amigos porque tens um coração do tamanho do mundo, onde cabe sempre mais um. Eu sou um daqueles que tem o privilégio de conhecer e sentir essa capa de amizade. Bem hajas!
Encontrámo-nos no lugar dos sons da terra, um espaço que te é muito querido. Ao passar pelos bancos, às portas das casas, lembro-me que sempre lá viste os amigos que já partiram como eu na minha rua ( até os vejo ao postigo!). Parece que ficámos contagiados e mais amigos entre nós, só por estarmos irmanados contigo, com as letras, com o calor da sabedoria e dos afetos.
Desta vez eram "Ditos Dezideiros" que recolheste para engrandeceres as duas línguas de Portugal. Ninguém pense que este país terá o mesmo vigor e conteúdo cultural se não lutar pelas duas, se não se mostrar ao mundo na autenticidade da sua história.

Sabemos que o trabalho e a curiosidade sempre deu vida e luz ao teu olhar, Amadeu Ferreira!
"Não pares de escrever", dizes-me sempre que nos falamos. Fico um pouco embaraçada, mas aguças-me esta vontade, este prazer que me move.

"Isto é algo sério", teimas em repetir. Na verdade quando leio um livro teu, é isso mesmo que sinto, é o valor daquilo que realmente importa, um legado dum amigo, dum escritor contemporâneo da nossa terra. É uma experiência tão forte que falta força às palavras.

"Teresa, queres pertencer ao grupo? - perguntaste-me um dia, só por te aperceberes do meu apreço pela língua mirandesa - o teu graal!
Entrar para os Blogueiros Mirandeses é um prémio que guardo com carinho, no lugar dos meus tesouros. Encanta-me calcorrear caminhos, conhecer a história dos lugares, falar e ouvir a língua da origem de Portugal, a língua do planalto, a língua de "La BOUBA DE LA TENERIE", a língua de "NORTEANDO".

Ainda hoje te fui ver e guardo o teu sorriso, a força do teu olhar e as palavras que sabes que me fazem bem. Tens tanto para dar e até parece que dares-te aos outros é o alimento da tua alma.

Ainda hoje me disseste "tens escrito, Teresa?" Não pares! Os teus upas sempre me aqueceram as palavras.

À saída, Alfredo Cameirão, outro sabido da língua mirandesa despediu-se assim: escreve, Teresa!

Bem, sendo assim: aqui vai!

ABRAÇO ARROCHADO

Registrar las mies eimoçones ye prolongar l que me dá prazer ó arrincar de mi todas las agruras. Ye cumo ir al psiquiatra i deixar la cumbersa scorrer sin trabones.

Hoije fui un de ls dies de registro. Hoije fui-te a dar un abraço, daqueilhes tous - arrochados -, abraço d'amigo que se quier siempre acerquita. Nun podie deixar d'ir. Fui até Sendin, la tue tierra, i ancontrei-te metido nua capa que nunca te tenie bisto. Parecie que deberie benir de ls afetos que s´ arróchan an las tues palabras. Ancontrei-te arrodeado d'amigos porque tenes un coraçon de l tamanho de l mundo, adonde cabe siempre mais un. You sou un daqueilhes que ten l prebileijo de coincer i sentir essa capa d'amisade. Bien haias!

Ancuntrámos-mos ne l lhugar de ls sonidos de la tierra, un spácio que te gusta muito. Al passar puls bancos, a las puortas de las casas, lhembro-me que siempre alhá biste ls amigos que yá partírun cumo you an la mie rue ( até ls beio al postigo!). Parece que, nesta tarde, ficámos cuntagiados i mais amigos antre nós, solo por starmos armanados cuntigo, culas lhetras, cula calor de la sabedorie i de ls afetos.

Desta beç éran "Ditos Dezideiros" que recolhiste para angrandecires las dues lhénguas de Pertual. Naide pense qu'este paíç terá l mesmo bigor i cuntenido cultural se nun lhuitar pulas dues, se nun s´ amostrar al mundo na berdade de la sue stória.

Sabemos que l trabalho i la curjidade siempre dou bida i lhuç al tou mirar, Amadeu Ferreira!

"Nun pares de screbir", dizes-me siempre que mos falamos. Fico un pouco ambaraçada, mas aguças-me esta buntade, este prazer que me mexe.

"Esto ye algo sério", teimas an repetir. Na berdade quando lheio un lhibro tou, ye esso mesmo que sinto; ye l balor daqueilho que rialmente amporta, un lhegado dun amigo, dun scritor cuntemporáneo de la nuossa tierra. Ye ua spriéncia tan fuorte que falta fuorça a las palabras.

"Teresa, quieres pertencer a la quadrilha? - pregunteste-me un die, solo por sentires l miu aprécio pula lhéngua mirandesa - l tou "graal"!

Antrar pa ls Blogueiros Mirandeses ye un prémio que guardo cun carino, ne l lhugar de ls mius tesouros. Ancanta-me calcorrear caminos, coincer la stória de ls lhugares, falar i oubir la lhéngua de l'ourige de Pertual, la lhéngua de l praino, la lhéngua de "La BOUBA DE LA TENERIE", la lhéngua de "NORTEANDO".

Inda hoije te fui a ber i guardo la tue sonrisa, la fuorça de l tou mirar i las palabras que sabes que me fázen bien. Tenes tanto para dar i até parece que dares-te als outros ye l'alimiento de la tue alma.

Inda hoije me deziste: tenes scrito, Tresa? Nun pares! Ls tous upas siempre me calecírun las palabras.

A la salida, Alfredo Cameiron, outro sabido de la lhéngua mirandesa, çpediu-se assi: scribe, Tresa!

Bien, sendo assi: ende bai!
 
Teresa Almeida Subtil (in Jornal Nordeste)


 

sábado, 10 de janeiro de 2015

A ARTE É MULTIFACETADA

 
Doeu-me quando me apagaste,
como se amarrotasses as páginas,
destruísses as lombadas
e conspurcasses os laçarotes;
aqueles que diziam a festa da vida
aqueles que prendiam o carinho
a arte no enrolar de uma fita,
na cor e na textura do tecido,
no brilho solto no detalhe.
 
À hora do sol-pôr o botão é ouro,
os berloques são minaretes,
os pormenores são beijos,
poemas a arder no peito.
A arte é multifacetada;
não lhe apagues a graça,
não lhe belisques o estilo,
mesmo que tenhas direito.
 
Teresa Almeida Subtil


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

HORA DA POESIA

Deixemo-nos penetrar pela beleza e intensidade poética de Amadeu Ferreira:

"guarda os pequeninos gestos, os instantes, quase sem tempo,
os lugares de que só te ficou um registo gasto na memória:
os bocadinhos de ser feliz podem durar sempre na lembrança,
ainda que não passem de uma dor..
...tem-nos sempre à mão para resistir e acalmar as fomes que te povoam..."

Link directo: http://www.radiovizela.pt/radiovizela.asx

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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Enterro do ano velho.

 

Pela noite velha queima-se o ano, em cerimónia ritual. Uma tradição solsticial que não queremos deixar morrer. Esta foi uma noite que quisemos viver - não direi em plenitude - mas aproveitando os últimos acordes antes de rasgar a página e seguir em frente. Bem sei que o tempo é selvagem e voraz e teima em escrever o calendário em nós. Apesar de tentarmos domesticá-lo com festejos, somos marcados, ano após ano, qual código de barras. 
Nesta última noite de 2014 - bem geladinha, como é próprio da época, só uma grande coragem arrancou alguns ao aconchego do lar.
Nos olhares uma intrínseca mistura de sentimentos.
Faltam as máscaras! diziam alguns. É verdade, sentimos que faltaram as máscaras para que as pessoas se pudessem evadir e queimar, sem medo, as agruras e as revoltas. Desde tempos imemoriais , sabemos da necessidade de soltar personagens treatreiras, talvez as mais genuínas.
A ideia é queimar só os maus momentos porque os bons não os deixaremos morrer; não queremos extinguir-lhes a chama.

Teresa Almeida Subtil