domingo, 24 de dezembro de 2023

La fogueira de l galho


Ls moços rómpen l’alborada cantando
Ye die de Natal, die de nacimiento.
I pula tarde, cumpridos ls rituales de passaige,
Cortados ls tuoros, bien quemidos i buídos
Camínan pulas rugas de la cidade
Cun fraitas, pandeiros i gaitas de fuolhes.
Splendor de l sprito terreno i debino.
Atrás de ls carros de buis puxados
Puls mais çtemidos suldados de l amor
Bai giente sien eidade
I cun l aire a rapar la barba al más baliente
Síguen caras al sagrado de la Sé
cumo manda la tradiçon.
Al caier la nuite
chiçcan l fondo la fogueira
Amuntonada por quien quier passar
Las raízes, la chama de l amor i la curgidade.
L fogueira arremete, passa al campanairo
chube por anriba l’amponiente catedral.
De la chama scápan-se bioletas
Restrálhan streilhas an rostros de sprança
I mirares de paç.
Ben, miu pastor! Abracemos la nuite
Abracemos to l mundo, campo sagrado.
Trai las capas de burel antigas i picadas
Pon ua ne ls mius ombros
Somos pelegrinos nesta abintura.
Buscamos un mundo justo i purfeito
La guerra cuntina
Mas ye de paç que falamos.
Bamos a çtapar l lhicor de moras
Que nacírun lhibres nas bordas de ls caminos.
Sentir la música, l amplachar de ls bersos
I al redror la fogueira de Natal,
Bebamos, beilemos i cantemos
Cantemos ls salmos que bibimos
I ne l pelubrino de las capas celebremos
L ampercípio de l berbo.

Teresa Almeida Subtil

Glossairo:
Ampercípio - princípio
Amplachar – despir
Fraitas – flautas
Pelubrino – Rodopio
Restralhan – crepitam
Rugas – ruas
Sagrado – Adro
Pode ser uma imagem de castelo e o Templo Expiatório da Sagrada Família
 Pereira e 38 outras pesso

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

CARENTE


O Douro de cabelo estouvado
Beijava-te o rosto esguio
Abraçava-te como amigo leal
Esperava-te quando o teu silêncio
Era urgente, romântico, inquietante
Seguia-te quando vivias a dureza da vida
Ficava perto e roçava-te o pensamento
Coleira que ao vento rugia
E sabê-lo presente era para ti
O poema em que mergulhavas
Carente. Depois corrias em desatino
E escrevias na pauta que inventavas.

 

O Douro nascia-te na voz embargada
Na nostalgia que só o tango desfiava.


Teresa Almeida subtil 


 


domingo, 15 de outubro de 2023

Outonho Framante




 

L outonho anda an risadas

Quaije que se le cáien ls dientes

Cumo meligranas burmeilhas

De doçura i calor.

 

Por cierto stan chegando ls frius

Mas anquanto puodas

Bota las piernas al aire

I bai amplachando las parreiras

I fazendo tapetes anramalhetados.

Para ber beilar amplache

Ciganas adebinas de Torga.

 

Gusta-me l outonho

Andar çcalca pulas binhas

Pintar la natureza cumo se l sol

Arrebentasse an cada pumiento

I you le sentisse an cada dentada.

 

I la sardina a arrepelar-se nas brasas

A molhar l pan

I ls Montes Ermos a correr

Pul gorgomilho de ls bendimadores

Que de cansados

Se bótan a drumir na tierra amada.

 

Teresa almeida Subtil


Glossairo


adebinas - adivinhas

amplache - despido

anramalhetado - florido

çcalça - descalça

framante - luzidio

gorgomilho - goela

meligrana  - romã







sexta-feira, 1 de setembro de 2023

ESTRADA NACIONAL 2

 ESTRADA NACIONAL 2 – Passeio organizado pelo ACP

31 de Julho a 4 de Agosto de 2023

 

Julho de 2023 foi o mais quente desde que há registo. E foi precisamente a 31 de Julho que nos fizemos à Estrada nacional 2. Senti um arrepio, um regresso ao passado (curvas e contracurvas), mas a ideia de percorrer a coluna vertebral do nosso país e o seu envolvimento, falou mais alto, É este apego a um território que nos coube por nascimento, E a curiosidade aliada à aventura foi revolucionando os nossos caminhos interiores feitos de veias e artérias. Com a garantia do Automóvel Clube de Portugal havia a esperança de viajarmos em segurança.

Procurávamos seguir em fila, mas havia sempre um ou outro que furava o esquema. Por vezes parece que se retorciam as vértebras, mas lá conseguíamos endireitar-nos.

O Hotel Forte de S. Francisco Chaves, situado num edifício histórico do século XVII, classificado como Monumento Nacional, foi o local em que o grupo se reuniu. 

Ainda pela tarde pudemos deliciar-nos com a visita ao Centro Histórico da maravilhosa cidade de Chaves, ponte Trajano e os apetecidos saltinhos nas poldras do rio Tâmega. Que bem me soube o jantar no Jacinto de porta alta e vermelha, chão empedrado e comida flaviense! Realmente a gastronomia portuguesa, nos diversos locais por onde passámos, primou pela qualidade. Por 1€ adquirimos o Passaporte, identificação do turista da N2. E fomos carimbando nos sítios preparados para esse efeito. Fica essa grata recordação.

Impossível não ter o prazer de visitar a estância termal do Vidago e beber um copo de bem-estar, a água quente das Pedras Salgadas. Em Lamego (cidade onde cresci) no cimo da Avenida Dr. Alfredo de Sousa ergue-se numa escadaria barroca de 686 degraus e termina num santuário rocaille, de meados do séc. XVIII, dedicado a Nossa Senhora dos Remédios. Algumas colegas do Colégio da Imaculada Conceição sentiram o apelo de aí enlaçarem uma vida a dois. A configuração do terreno confere-lhe imponência a que não é alheio o denso arvoredo que o envolve. Segue-se Vila Real e a Casa de Mateus com a mágica entrada para fantásticos jardins e "hectares de liberdade".

O Programa, Road Book e links de GPS ajudaram os aventureiros da N2. E, se desvios houve, foram propositados. Lembro o almoço em La Roeda - Pinhão. Atravessarmos a ponte para nos maravilharmos com os socalcos dos vinhedos no coração do Vale do Douro e, ainda, sentir a pele da estrada mais bela do mundo, ou quase.  A noite da cidade-jardim ficou-me magicamente gravada. Viseu cresceu e apimponou-se, como se diz em mirandês. Jantar no Páteo e dormir na Pousada acrescenta aquele glamour que lhe percebi.

E continuámos, com carros cada vez mais "lavadinhos", passar pelo Palácio do Buçaco, Convento da Sertã e Hotel da Montanha, sem esquecer a ponte romana. Prosseguimos agora levados pelo prazer de visitar o Museu Caramulo e regalar as vistas em viaturas antigas, verdadeiras obras de arte.

Miradouro do Penedo Furado, Montargil e Castelo de Montemor preenchem o quarto dia. Não há um castelo igual a outro, mas em Montemor-o- Novo  há algo que nos prende no sentido de passar de novo e devagar para lhe podermos fazer uma entrevista profunda.

O prazer e a emoção de atravessar as planuras do Alentejo ninguém nos tira. E conhecer herdades, com conceitos inovadores e a fantasia na arte de bem receber, também não. Falo no Landvineyards.

O Lagar do Marmelo e seus aromas de azeite veio em mim na forma de poema. É perceber a arte de tratar a azeitona até a levar a em fio d'ouro ao prato. Será herança de milénios? "Há pinturas nas rochas das montanhas do Saara Central, com idade de seis mil a sete mil anos, entre o quinto e segundo milênio a.C." E há uma dor fina ao lembrar oliveiras a desaparecer em Trás-os-Montes, entre as silvas.

Em Vila de Rei, conhecer o Centro Geodésico de Portugal é fazer parte do ex-libris Vilarregense na serra da Melriça, com um vértice cuja altitude permite uma vista 360 e, entre os concelhos limítrofes, observamos a serra da Lousã e a da Estrela. No Museu da Geodesia provei "O Bolo de Chocolate +feio de Vila de Rei". 

Chegados a Faro, festejamos a alegria e a gratificação de termos conseguido  atravessar a terceira maior estrada do mundo e a maior da Europa, a mítica EN2. Sentimo-nos irmanados e enriquecidos com quem partilha interesses de ordem cultural, património histórico e turístico. E, neste resumo do muito que havia para dizer, fica aquele íntimo desejo de voltar.





















domingo, 2 de julho de 2023

"Living Van Gogh"



Ser apenas sensação

Loira espiga a palpitar grão 

Movimento, braço e abraço

Inserir verso e traço

Emergir na cosmografia da cor

Na ansiedade, no querer

E na saudade de te encontrar

A vaguear por ali.


Viver o prazer da viagem, interagir

Tocar Van Gogh, mão na mão

 Melodia a perpassar o corpo e a mente

Emudecer e flutuar na aragem da voz

Imensa e penetrante

Edith Piaf 


Ser palha, árvore ou nuvem em fuga

Este pôr-do-sol a dourar a poesia

E meus olhos de água ondulada

A recriar um girassol

Na ponta do dia.


Teresa Almeida Subtil

22.06-2023

ALFÂNDEGA DO PORTO












terça-feira, 30 de maio de 2023

 

CANTO AL DOURO

 

Salido de l bientre de la tierra 

Alhá po riba la sierra d’Ourbion 

Scachonando las peinhas duras, xeixos 

Cabalho brabiu a salto, a cachon 

Agarrando fuontes, rius i rigueiros 

Andiabrados na fame de mundiadas 

Punhales d’ouro i agulhas nas faias 

Redundeç de la piedra stimada 

Ambelhigo de la criaçon.

 

Al Douro templos i poçanquitas d’einiciados 

Maçcarilhas çfraçadas d’anjos i demonhos 

Ninfas an amorosa auga de risa 

Buracos de mouras ancantadas 

Muntanhas adonde ls mouchos fetúran 

Diusas amplachadas an nuites de lhuna

 

Niales de páixaros a chocar 

Remances de magie i lhibardade

 

Al Douro l’anquietaçon scachonosa 

Renacimiento de la palabra cun gusto 

A fruitos que s’úpen até al paraíso 

Castros, capielhas, cuontas 

Choros, lhiendas, trasgos.

 

Lhibros de ninar, spigar i madurar 

Artistas stremundiados 

Corços a arressaiar lhadeiras 

Scumas de zízara pulas faias 

Adonde fai cuorpo, cama i arressaio.

 

A las bezes dóndio, a las bezes carambelo 

Spigado, berde-azul i calantriç ameroso 

Entra an remansos i queda afinconado 

Adonde ls poetas scríben páiginas d´amor 

I son ls purmeiros a agarrar la rebeldie 

l zaspero cun que fai camino 

I a dezíren al mundo la dreitura, la berdade i la gana 

De demudar las faltas an que barímban. 

 

Alma de seda, lhana i lhino 

Lhadeiras de bersos restrulhados 

Pul sol de meidie a cortar l pio. 

Oubreiro maior, galaton sagrado 

Auga de passaige i cuntrabando 

Fugida a la fame i als bolsos chenos de nada. 

  

Al Douro falado an trés lhénguas 

Probado por ciguonhas-negras, Almocrebes de l Cuco, 

Alcaforros-negros, alcaforros-pardos,

                                                 águilas riales, águilas perdizeiras, 

Gabilanes i quantos mais. 

Biaige al anfenito de l sentir.

 

Al Douro l’eidentidade, ousadie, prefundidade 

Zmar d’ancantos, solidon, ancontros 

Ourrieta de poeisie çpindurada. 

Al Douro que sembra “un poema geológico” 

An cada assomadeiro.

 

Que tal ua moda, ua suidade, un zafio 

L gusto de bailar l “Bai Pedro Bai” an Paradela 

Cun esta i mais aqueilha ne l terreiro 

Al repicar de la gaita de fuolhes 

Castanhuolas, ferricos, pandeiros, caixas, charrascas 

Fraitas i todos ls clarones 

An tiempo de magostos i festibales de burricos 

I de l diç que diç a spertar la fogueira 

Ne l mirar dua rapaza d’Aliste? 

Proua, galanura, rábia, codícia, bibacidade 

Nas jabeiras, coletes de lhino 

Einaugas, rendas d’Alba i a la beç 

Meias de lhana, capas d’honra 

Burel, pardo, angeinho de l picado 

De ls artesanos de l praino mirandés.

 

An Aldinuoba 

San Juan de las Arribas, camino de l molinico 

Será l lhugar apropiado para saber de par? 

Benerá a modo l “Mira-me Miguel” 

Un cachico de pan, ua manta i un candil? 

I l gueiteiro que nun falte 

Porque “La Cerigoça, la bela moça” 

Quedará citre tamien. 

 

An Miranda na Praça la Sé 

Al mirar ls arressaios, l cemaque i la barraige 

Ua muralha i un castielho zbarrulhado 

Que tal la coraige de ls beiladores 

Palos, einaugas, l’arte de ls oufícios i outros lhaços? 

 

I la fala mirandesa nun se bai a morrer 

Hai que tocar i spabilar l’hardança cultural 

Mimória biba i sentir de l pobo.

 

I un pingacho bien apertado 

A deixar passar l aire i l sol pulas einaugas 

Quedará framante na Peinha de l Puio, an Picuote 

Eilhi adonde las músicas 

Son picadas al assombro d’alas anchas 

Pinturas sagradas, solhapas, auga presa 

Bida áspara, mui áspara, cuontas de grima 

Lhuita, fuorça, lhuç i abandono.

 

Na cruzinha, assomada de Lagoaça 

Ambouba-se l mirar a cada regubiura, pomar 

Al berde azeituona, fragas rebalinas 

I al riu datrás salbaige i agora manso 

Speilho de las mais galanas i amponientes arribas 

Será l repassiado l que mais s’arrima? 

 

No Carrascalinho l siléncio, l spanto 

La rebelaçon dun riu streito i quelobreiro 

Manadeiro de sonidos, rincones, puiales 

Queluobras i lhagartos 

Agarimo apedurado ne ls poros de la piel 

I mos pon a barimbar nun filo.

 

I las  lhigas berdes eiran a berdegar 

Na tierra de l bino mais fino 

Na lhunjura de l Penedo Duron 

Adonde l cuorpo ye águila rial a planar

Nun balhe assucado d’oubestinaçon i arte 

Eirmitério de cad’un i cielo de todos 

Oureginal bintura de ser i star persente. 

 

Teresa Almeida Subtil



                                          Em FESTIVAL LITERÀRIO DE BRAGANÇA 
                                                                      27/O5/2023