quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Cartas de amor

Confesso que passei no Xaile de Seda da amiga Olinda Melo.




Confesso, ainda, que guardo cartas de amor, apertadas com uma fita. De seda atrevida.
Já mudaram algumas vezes de casa e até de gaveta. Um dia estacionaram na cómoda antiga.
Em festa!

Será que, agora, o amor é volátil como um perfume? Ou mais versátil? Menos romântico ou mais criativo? 
A verdade é que o molhinho de cartas está mesmo à mão e os poros transpiram magnetismo. Como se fora um campo liso na ânsia de ser cultivado. É o passo, a dança, o filme, o abraço, o beijo, o recanto, a fotografia... e os salpicos de pétalas secas. Incomparável aroma!

E meu molhinho de cartas de amor é meu segredo mais celebrado. Verdadeiro poema.

Desato o laço? Talvez! Para saborear a palavra, aquecer a tarde fria, sentir o sussurro do vento nas folhas amarelecidas e reviver emoções ao calor das brasas.

E daí... talvez não! Se acrescentar realidade à fantasia e me atrever a dar-te a mão? Apetece-me um bolero de Ravel! E um tango logo a seguir.


"Meu amor de algum dia!" Ouçamos nossa íntima melodia e vamos escrever mais uma carta - de corpo inteiro.

Teresa Almeida Subtil



sábado, 19 de janeiro de 2019

Ambiguidade


A geada roubou lírios à janela.

E as magnólias brancas e perfumadas

São agora escuras taças

Desabitadas.



Na lagoa nada se espelha

E as aromáticas da ribeira

Reclamam perfumes de outrora.



Falta o espírito dos licores

E a adega da motivação.



Há um chão em que a alegria dói

E a ambiguidade explode.



Ao longe um silvo de saudade

E linhas de palavras 

Geladas.



Teresa Almeida Subtil


quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

O beijo das borboletas




Ao virar a página

Um campo de girassóis!

E mil sóis a dançar a valsa da vida

E minha saia amarela e teus olhos em fogo


E o verso, descrente, a alvorecer  

E o concerto ao assalto dos sentidos


E pétalas despertas ao beijo das borboletas

Numa raça de sol de Inverno


Teresa Almeida Subtil

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Candeia de azeite


São trilhos de pura intuição
Candeia de azeite
Clarão que não fulmina o olhar
Apenas vai despindo lentamente os véus
Que o ninho mitificam

Aproximo-me da claridade líquida
E quase descodifico a paisagem agreste
O voo das aves e a ambiência das palavras
Giestas bravas a chispar. Reflexo escrito
Sombras indecifráveis

E nas trevas a luz do poema
É meu lar
Pena em riste.

Teresa Almeida Subtil

(inspirado no poema "Aguardamos uma luz", de Graça Pires)



LIBERDADE