quarta-feira, 27 de maio de 2020

Benerás / Virás



Benerás

Na spera de la tarde
Na chama de l entardecer
Starei adonde la palabra me quejir
Cum remissacos de riu
Pies d’arena i beisos de mar
Benerás sempre que l çponer
Me tocar. I miu cielo de maio
Fur lharanja de l maçanal

Benerás na fuorça de bibir.

Virás

Na delonga da tarde
Na chama do entardecer
Estarei onde a palavra me quiser
Com resquícios de rio
Pés de areia e beijos de mar
Virás sempre que o crepúsculo
Me tocar. E meu céu de maio
For  laranja do pomar.

Virás na fúria de viver.
Teresa Almeida Subtil

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Talbeç un die / Talvez um dia


Talbeç un die!


Era maio i la madressilba stendie nas paredes
la lhiberdade abrolhada ne l córrio de las geladas,
Éran fecundos ls soles que abril sembrara
i berdes las senaras prenhadas de pan.
De seda azul era l'alma de las cantigas
i an abraços splodien puontes d'ounion.

Antrementes,
anchenas fúrun minando ls lhiçaces
i ls crabos que las puontes sigurában.
Nun fui de fartura que ls rius angordórun
nien de sperança que las puontes sbarrulhórun.
Éran moços ls suonhos que zabórun
i nuobo l sangre que ls cuorbos ancubrírun.

Talbeç na chimpa la rebeldie i la coraige se lhebánten
bretones de madressilba agárren anteiras las manhanas
i lhimpos séian ls caminos que mos spéran.
Talbeç maio torne a florir nas paredes de l canteiro
i de bico a bico gríten ls montes l’alegrie
se las cascatas cantáren la coraige i l'ousadie.

Talbeç un die!



Talvez um dia!


Era maio e a madressilva estendia nos muros
a liberdade germinada no conluio das geadas.
Eram fecundos os sóis que Abril semeara
e verdes as searas prenhes de pão.
De seda azul era a alma das canções
e em abraços explodiam pontes de união.

Entretanto,
enxurradas foram minando os alicerces
e os cravos que as pontes seguravam.
Não foi de fartura que os rios engrossaram,
nem de esperança que as pontes ruíram.
Eram jovens os sonhos que desabaram
e novo o sangue que os corvos encobriram.

Talvez na queda a rebeldia e a coragem se levantem,
botões de madressilva agarrem inteiras as manhãs
e limpos sejam os caminhos que nos esperam.
Talvez maio volte a florir nos muros do canteiro
e de bico a bico gritem os montes a alegria
se as cascatas cantarem a coragem e a ousadia.
Talvez um dia!



Teresa Almeida Subtil
(in Rio de Infinitos/Riu d'Anfenitos)


segunda-feira, 11 de maio de 2020

Aquém da fantasia





Chamemos espírito ao que em essência somos

E ignorância ao crê-lo definido

E liberdade à palavra que se lhe ajusta.

 

Há quem lhe conheça as cores

As encruzilhadas, os medos e os prazeres

Quando se acorda a meio da escalada.

 

Mas eu não sei nada.

 

E se o poema quiser galopar o sonho de um dia

Fica sempre aquém da fantasia.


Teresa Almeida Subtil





terça-feira, 5 de maio de 2020

Prova de fogo


Há alturas

Em que as palavras perdem sentido

Como noites em claro

Ou gritos ao alto da montanha

Sem repercussão.


Não resistem à revisão geral

É vida gasta, jornal desfeito

Ferido.

Não apontam estrelas

Nem aportam ao cais de salvação. 



Falta-lhes húmus, viço, fulgor.



Sensaboronas,

São amarfanhadas e despejadas

Em vão de escada, ao lado do artigo

Infecioso, abolorecido.


E quando a fogueira explode

Vagueiam chispas, clarões, energia

E até no inferno se agitam - as palavras

E salvam o poema que nelas

Ardia.


Teresa Almeida Subtil






segunda-feira, 4 de maio de 2020

Ls beisos de l riu




Cuido que nun sabes
Que yá abrírun las papoulas.
Ls bretones yá los teniemos bisto
Ou anton fui un sonho que you tube
Quando te bi a sembrá-las n’auga de l riu
Talbeç quando m’ancerrórun an casa
Y you sabie que nun ibas a deixá-me
Sien ua primavera de bersos mui acesos.

Agora las papoulas son ls lhábios de l riu
Burmeilhos de tanto roçáren ne ls mius
Si. I se nun furas poeta i se nun punisses
Quelor, cheiro i sentimento na mie jinela
Cumo passarie you la quarentena?

Abrírun las portaladas de maio
I anque znudos
La lhuç i la fuorça de la corriente
Fizo de nós un abraço
I, sien miedo, seguimos adelantre
I screbimos cumo quien sinte
La bida a spargir-se
Por ende.


Teresa Almeida Subtil







Os beijos do rio




Julgo que sabes que já abriram as papoilas


Os botões já os tínhamos visto

Ou então foi um sonho que tive

Quando te vi semeá-las na água do rio

Talvez quando me encerraram em casa

E eu sabia que não ias deixar-me

Sem uma primavera de versos

Muito acesos.



Agora as papoilas são os lábios do rio

Vermelhos de tanto roçarem nos meus

Sim. Se não foras poeta e não pusesses

Cor, perfume e sentimento na minha janela

Como passaria eu a quarentena?


Abriram as portas de maio

E ainda que despidos

A luz e a força da corrente

Fez de nós um abraço

E, sem medo, continuamos

E escrevemos como quem sente

A vida a alastrar 

Por aí.