domingo, 25 de agosto de 2019

Seiva de afetos / sangre d'afetos

Seiva de afetos


 Trinados soltos no picão e litanias

Sufragadas às raízes.

Rio, seiva de afetos

Que na alma correm e na folha exultam.

Oliveira a reclamar identidade.



Rebeldia esgalhada a pique.

História lavrada. Estrela da manhã.



Poesia aguçada no paladar

A florir em cada galho. Árvore de vida.

Renovo. Luz acesa.

Grito e liberdade.

E um aroma a flor de laranjeira

Que no verso arde.



Cada passo é asa aprumada ao infinito,

Suspiro que atravessa a casa.

E cada olhar que a patine do tempo enobrece

É folha de um livro

Que à humanidade pertence.





---Sangre d'afetos  (lhéngua mirandesa)



Trinados suoltos an la peinha

I ouraçones arrincadas a las raízes.

Riu, sangre d'afetos

Que n’alma cuorren i na fuolha sáltan.

Oulibeira a eisegir eidentidade.



Atremetimiento.

Stória lhabrada. Streilha de la manhana.



Poesie aguçada ne l gusto

A florir an cada galho. Arble de bida.

Renuobo. Lhuç acesa.

Bózio i lhiberdade.

I un aroma a flor de laranjeira

Que ne l bércio arde.



Cada passo ye ala a dreitos al anfenito,

Suspiro q'atrabessa la casa.

I cada mirar que la prata de l tiempo einobrece

Ye fuolha dun lhibro

Que a l'houmanidade pertence.



Teresa Almeida Subtil




terça-feira, 13 de agosto de 2019

Meu navio


Teu corpo é meu navio
Transparência do instante
Em que o leme enxerguei
E todo o génio caldeado além
Num mar que não recordo e sei

Passei a ler-te sem tocar certezas
Luz que para lá do véu se proclama
Sem seres céu serias chama
Sem seres meu passaste a pertencer-me

Quase te toquei e tanto queria
Aquela aurora em fim de dia
Clarão e bruma quente
Ilha que ao longe se faz presente
Navio tatuado em minha mente.


Teresa Almeida Subtil


Ilha de S. Jorge - Açores

domingo, 4 de agosto de 2019

Poesia na cozinha


À volta da mesa as expressões dizem da qualidade da comida.
E entre os convivas perpassam sentimentos de união.
Afinidades de paladar atraem grandes amizades.
Somos soltos e dizemo-nos verdadeiramente.
Conquistamo-nos, é verdade.

À volta do tacho fervilham versos de arrepiar.
E é de cumplicidade que os ingredientes se envolvem
E os temperos acrescentam singular paladar.
Cruza-se a fantasia nas mãos de quem compõe

Um prato de indescritível prazer.

Cozinhar é um dom de quem o sente e partilha.
Até o poeta se ajoelha e declama, o músico dedilha a melhor melodia.
E o pintor acende tons impressionistas.

A mesa é um lugar sagrado. É um lugar de afetos.
E é tão natural a gargalhada
Como a guitarra bem afinada a contorcer-nos o corpo e o espírito.
E a satisfação e o rubor sobem ao rosto 
De quem da cozinha faz poesia.



Teresa Almeida Subtil













Abertura do 20º Festival Intercéltico 

em Miranda do Douro 

com o grupo MELKISEDEK (Argentina).



LIBERDADE