domingo, 22 de dezembro de 2024

Assopro Debino/ Sopro divino/ Respiro divino


HAVIA UM VÉU MATINAL
TECIDO DE TERNURA
ALVURA
E FERMOSURA
DE NATAL


Desejo aos meus amigos e ao mundo
uma quadra natalícia plena de harmonia.



MIRANDÉS

Assopro debino

 

De l'anunciaçon al calbário

Hai un rosairo i un deseio

De salbaçon.

Ye la boç de l ouniberso

A ressonar ne l fondo de l ser

I l bientre de la tierra ye sue morada

I busca la streilha que la fazerá mulhier.

 

I de si rumperá l'ourora

Siempre bendita i chena de grácia

Sparba-se i anuncia-se redentora.

 

I anquanto nun renacer un mundo

Purificado

Haberá siempre un suonho curceficado

Un bózio i ua tela

De quien ye topado

Pul assopro debino de l'arte.

 

Ye d'houmanidade i lhibertaçon

L passo, l traço, l fincon

De quien conhece las piedras de l chano.


Teresa Almeida Subtil

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PORTUGUÊS

Sopro divino

 

Da anunciação ao Calvário

Há um rosário e um desejo

De salvação.

É a voz do universo

A ecoar no âmago do ser

E o ventre da terra é sua morada

E busca o astro que a fará mulher.

 

E de si romperá a aurora

Sempre bendita e cheia de graça

Expande-se e anuncia-se redentora.

 

E enquanto não renascer um mundo

Purificado

Haverá sempre um sonho crucificado

Um brado e uma tela

De quem é tocado

Pelo sopro divino da arte.

 

É de humanidade e libertação

O passo, o traço, o baluarte

De quem conhece as pedras do chão.



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ITALIANO   (Tradução de José Miranda)


Respiro divino
Dall'Annunciazione al Calvario C'è un rosario e un desiderio Di salvezza. E' la voce dell'universo Echeggiando nel nucleo dell'essere E il grembo della terra è la tua casa E cerca la stella che la renderà donna.
E l'alba spunterà da te Sempre benedetto e pieno di grazia Si espande e si annuncia redentrice.
E finché un mondo non rinasce Purificato Ci sarà sempre un sogno crocifisso Un grido e uno schermo Chi è toccato Per il soffio divino dell'arte.
È di umanità e di liberazione Il passo, la traccia, il baluardo Da qualcuno che conosce le pietre sul terreno.


Teresa Almeida Subtil 










quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

A NOSSA ANTOLOGIA

 Chegou "A Nossa Antologia" - coletânea de poesia da Associação Portuguesa de Poetas 2024.

Publico a minha participação.




Vem! (tradução)


  •  O poema nasce

  • Semente de meus dedos

  • Capricho táctil 

  • Cenário voluptuoso

  • Menina de meus olhos

  • A remexer o sentir das horas


  • A hortênsia encostada a junho

  • Permanece dentro do verão

  • A cerejeira dá-se à sede de meus lábios

  • Dádiva divina devorada

  • Desvairada confissão


  •  Cabelos livres, entregam-se ao vento

  • Sons milenares perpassam-me a pele

  • E é de sangue o pulsar das palavras

  • Que te dou nesta loucura

  • De fim de tarde
  • Enche meu regaço de tempo

  • Com sabor a ginjas onde julho se perde

  • E o saber maduro que procuro
  • Vem!
  • Teresa Almeida Subtil

LÍNGUA MIRANDESA
Quem sente o apelo da poesia, não pode deixar de se apaixonar pela sonoridade da língua mirandesa e entrar pela riqueza cultural da terra de Miranda, designação histórica que integra os concelhos de Miranda do Douro, Vimioso e Mogadouro. O Nordeste de Portugal tem o enorme privilégio de ter uma fala que vem de um tempo anterior à fundação da nacionalidade. É, na sua estrutura, uma língua românica, com origem no latim. Pertence à família das línguas asturo-leonesas e sobreviveu, durante séculos, com base na oralidade. Foi Leite de Vasconcelos que a descobriu e deixou na Filologia Mirandesa os seus gigantescos passos. É deste autor o primeiro livro, publicado em mirandês, “un manhuço” de poemas escritos em 1884. Duas Igrejas foi a terra onde colheu o húmus para um trabalho sociolinguístico. Terra que serviu de palco a António Maria Mourinho para dar novas de imperdíveis valores ancestrais.
Com a Lei 7/99, o mirandês ou língua mirandesa foi finalmente oficializada, e a publicação da Convenção Ortográfica da Língua mirandesa, no mesmo ano, foi um avanço de largo alcance para quem se propõe entrar na aliciante aventura de escrever e falar em mirandês. A Associação da Língua mirandesa tem dado, também, um forte impulso.
Através da diáspora esta língua atravessa o mundo e continua a expandir-se com obras individuais e coletivas. A música e a canção têm, naturalmente, força de embaixadores.
É a árvore de que falava Amadeu Ferreira: “La lhéngua bota raíç, tuoro, galhos, fuolhas, froles i dá fruitos.”
O país é um organismo vivo e deve ser gerido como um todo. Assim, o compromisso com uma democracia linguística, assente no respeito pela diferença e na dignidade dos falantes é caminho apontado por Alfredo Cameirão. O Agrupamento de Escolas de Miranda assegura aulas de mirandês a 400 alunos e, apesar da falta de recursos, é o maior contributo para a continuidade deste valor imaterial.
Em nome da defesa dum património milenar, de que a língua mirandesa é o rosto, torna-se necessário e urgente tomar medidas para a sua salvação e revitalização, Algo que se tornará inviável sem um enquadramento institucional adequado, como defendem os linguistas.
As tradições e a cultura mirandesa enriquecem o país e o mundo e são expressões genuínas da portugalidade, entendida como “essência do que significa ser português”.
A morte de uma língua que faz parte do território português, é uma grave ferida na identidade nacional.
Teresa Almeida Subtil