Chegou "A Nossa Antologia" - coletânea de poesia da Associação Portuguesa de Poetas 2024.
Publico a minha participação.
Vem! (tradução)
- O poema nasce
- Semente de meus dedos
- Capricho táctil
- Cenário voluptuoso
- Menina de meus olhos
- A remexer o sentir das horas
- A hortênsia encostada a junho
- Permanece dentro do verão
- A cerejeira dá-se à sede de meus lábios
- Dádiva divina devorada
- Desvairada confissão
- Cabelos livres, entregam-se ao vento
- Sons milenares perpassam-me a pele
- E é de sangue o pulsar das palavras
- Que te dou nesta loucura
- De fim de tarde
- Enche meu regaço de tempo
- Com sabor a ginjas onde julho se perde
- E o saber maduro que procuro
- Vem!
- Teresa Almeida Subtil
LÍNGUA MIRANDESA
Quem sente o apelo da poesia, não pode deixar de se apaixonar pela sonoridade da língua mirandesa e entrar pela riqueza cultural da terra de Miranda, designação histórica que integra os concelhos de Miranda do Douro, Vimioso e Mogadouro. O Nordeste de Portugal tem o enorme privilégio de ter uma fala que vem de um tempo anterior à fundação da nacionalidade. É, na sua estrutura, uma língua românica, com origem no latim. Pertence à família das línguas asturo-leonesas e sobreviveu, durante séculos, com base na oralidade. Foi Leite de Vasconcelos que a descobriu e deixou na Filologia Mirandesa os seus gigantescos passos. É deste autor o primeiro livro, publicado em mirandês, “un manhuço” de poemas escritos em 1884. Duas Igrejas foi a terra onde colheu o húmus para um trabalho sociolinguístico. Terra que serviu de palco a António Maria Mourinho para dar novas de imperdíveis valores ancestrais.
Com a Lei 7/99, o mirandês ou língua mirandesa foi finalmente oficializada, e a publicação da Convenção Ortográfica da Língua mirandesa, no mesmo ano, foi um avanço de largo alcance para quem se propõe entrar na aliciante aventura de escrever e falar em mirandês. A Associação da Língua mirandesa tem dado, também, um forte impulso.
Através da diáspora esta língua atravessa o mundo e continua a expandir-se com obras individuais e coletivas. A música e a canção têm, naturalmente, força de embaixadores.
É a árvore de que falava Amadeu Ferreira: “La lhéngua bota raíç, tuoro, galhos, fuolhas, froles i dá fruitos.”
O país é um organismo vivo e deve ser gerido como um todo. Assim, o compromisso com uma democracia linguística, assente no respeito pela diferença e na dignidade dos falantes é caminho apontado por Alfredo Cameirão. O Agrupamento de Escolas de Miranda assegura aulas de mirandês a 400 alunos e, apesar da falta de recursos, é o maior contributo para a continuidade deste valor imaterial.
Em nome da defesa dum património milenar, de que a língua mirandesa é o rosto, torna-se necessário e urgente tomar medidas para a sua salvação e revitalização, Algo que se tornará inviável sem um enquadramento institucional adequado, como defendem os linguistas.
As tradições e a cultura mirandesa enriquecem o país e o mundo e são expressões genuínas da portugalidade, entendida como “essência do que significa ser português”.
A morte de uma língua que faz parte do território português, é uma grave ferida na identidade nacional.
Teresa Almeida Subtil