sábado, 19 de janeiro de 2013

Para ti, estrela incandescente

Hoje eu sou a nostalgia da tarde na espanada

espalhada em lágrimas plenas de reflexos emotivos

as patas das aves confundem-se, espelham-se

e cruzam-se num tango de amor ressentido

Na luz difusa desta tarde desfeita em chuva

até o sol te saúda com lenços de um rosa sedutor

e uma voz imensa e inquietante no marulhar das ondas

oferece-me um orfeão de poesia

O mar que não cabe em de si de alegria

esbraceja a meus pés

e esbraceja porque eu estou e não estou contigo

Hoje és estrela a brilhar em gotas de saudade

e eu que gostaria de beber a magia desta noite

em longuras planálticas te aplaudo, estrela incandescente

e desta esplanada de mágoa te escrevo

e busco o apaziguamento nas palavras

e nas nuvens que voam muito à frente

Em enorme ânsia te abraço

e me junto à multidão de cantos com sotaque

e uma linguagem inteligível a 300 km de distância.




Teresa Almeida




(Hoje em Porto de Poesia no Orfeão do Porto
Poetisa da noite - Ana bárbara de Santo António

Dinamizadora : Ana Homem albergaria)

 

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

"La rialidade ye einacreditable"

L'arble milenar abraçaba la casa. Era gigantesca i deixava que ls suonhos s'ancarrapitáran até se perdéren nas streilhas. Las portaladas eimensas abrien-se a la calor macie i premitien que la lhuç i la magie de la sabana africana antrássen sin trabones.

Talbeç esta bison atamasse l friu qu'apertaba las arbles znudas i prateadas que las bistas de l praino nordestino, na rialidade, ouferecie. Era un bício maduro este qu´ eilha tenie de oupir las persianas i abrir l die quando se lhebantaba, mesmo que ls cristales de carambelo bordassen un praino angaranhido.

Até nun cenairo eidílico l miedo puode ser assi: guapo, atlético i beloç cumo la pantera negra que saltou de l'arble i se sgueirou pula portalada de la sala.

Ye claro que la mulhier biu l peligro - claramente; tenie siempre l coraçon d'atalaia. Corriu pa l refúgio, mas la chabe era mui fraca an relaçon a la grima. Solo poderie pertencer a un almairo guardado an triato de trastes bielhos. Un pequeinho trinco, an andeble puorta, para porteger un tesouro sin précio: ls filhos.

Spertou an subressalto i dou l salto para fuora de l suonho. Até l'almofada tembraba de grima. Ye que la rialidade, tamien puode ser paborosa - einacreditable.

Anque spierta, eilha deixou que l suonho cuntinasse a galgar puls galhos dua magnífica arble, talbeç para ampedir que l miedo abaixasse.

 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

De ti

De ti guardo a fantasia
roubada à socapa no jardim ao lado
guardo páginas rubras de poesia
um fado, um livro
e a urgência do romance
apenas começado

De ti guardo a liberdade do olhar
no fulgor perscrutador do silêncio
guardo palavras com aroma a café
e o diálogo acordado dos lábios
noite dentro

De ti guardo a alegria
de sementeira matinal
guardo a rosa rubra aberta à alvorada
e um cravo vermelho amadurecido
colhido por mãos que furtam flores
à madrugada


 

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Fogueira de Natal

Mesmo em frente à velha Sé
ardem sonhos em rituais sagrados
do presépio fogem os figurantes
na noite escura encontram-se sorrisos
e dos olhos fogem chispas incandescentes

Em tardias e antigas homilias
jovens entoam canções irreverentes
picantes são as palavras que ecoam pela igreja
juventude que o Menino Jesus da Cartolinha guarda
num sorriso aberto e na face corada.

Este Menino guarda o fogo doutras guerras
e o povo acredita no desafio que se torna urgente
na voz dinamizadora e na ação acertada
acredita na chama que se mantém acesa
até ao último tição em que a palavra se ergue
e a fogueira de estrelas nos olhos se acende

Sem o encontro dos risos e dos olhares
sem a partilha da amor e da alegria
não exultaríamos no espírito de Natal
não se celebraria a liturgia das pessoas
nem a lareira cheirava a rabanadas
Teresa Almeida
  
Fogueira de Natal


Mesmo delantre a la belhica Sé
árden suonhos an rituales sagrados
de l persépio fúgen ls figurantes
na nuite scura ancóntran-se risas
i de ls uolhos fúgen chiçpas an brasa

An tardies i antigas práticas
moços cántan modas eirreberentes
picantes son las palabras que retónban pula eigreija
mocidade que l Nino Jasus de la Cartolica guarda
nua risa abierta i na face quelorada.

Este Nino guarda l fuogo doutras guerras
i l pobo acradita ne l zafio que se torna ourgente
na boç dinamizadora i na açon acertada
acradita na chama que se mantén acesa
até al redadeiro tiçon an que la palabra s'upe
i la fogueira de streilhas ne ls uolhos s'cende

Sin l ancuontro de las risas i de ls mirares
sin la partilha de l amor i de l'alegrie
nun mos cuntentariemos ne l sprito de Natal
nun se celebrarie la lhiturgie de las pessonas
nin la lhareira cheiraba a las rabanadas
nin chiçpában streilhas na fogueira

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Minha querida filha


 
Na minha primeira boneca de trapos 
nas minhas mãos de menina
costurava a minha emoção maior
a minha realização de mulher

ainda não sabia escrever

Quando te vi verdadeira
sair de dentro de mim
senti que redigia
a minha melhor poesia

Vesti-te o único enxoval que fiz
ponto a ponto, letra a letra
como se vestisse um sonho
singular, autêntico - vivo

Continuei a escrever nos teus passos
nos teus vestidos
nos teus livros
nos teus beijos
nas tuas alegrias
e nas tuas mágoas

És tu a menina mulher
que dia a dia compõe em mim
uma divinal harmonia

Talvez seja por isso que
as lágrimas e a ternura
correm a galope no meu rosto
minha querida filha

Teresa Almeida

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Uma acha na fogueira


Vamos acender o espírito das palavras
lançar achas na fogueira da amizade
ou mesmo palhas douradas de calor
porque festejamos o Natal
porque na vida vale o amor

Vamos dar as mãos à solidariedade
queimar as notícias negras dos jornais
e as manchas de dor no planeta
Sei que não seremos capazes
mas se acendermos luzes nas grutas
e cada um espalhar a cor do afeto
mesmo ao lado, mesmo ali perto
poderemos acordar o  mundo desafeto

Se me querem eu vou
vem também amigo, traz outro e outro contigo
declama a tua poesia - sente-te bem
diz a tua verdade
solta a corrente da tacanhez, da má vontade
é imenso o território e a beleza da vida
torna-a querida à tua volta

lança uma acha na fogueira da amizade
para que sejam felizes os momentos
porque feitos de paz, amor e verdade
partilha a tua vida poética - porque a tens
vem amigo dar as mãos e abre mão dos preconceitos
ou conceitos duvidosos

sim, já sei que não tenho a verdade no bolso
muito menos o poço das virtudes
mas deixa que te mostre a minha vontade
de viver na calma e dar as mãos na alegria
de me aquecer neste novo Natal
na fogueira aberta da poesia

Teresa Almeida