Ardo ne l deseio de bolar,
inda que saba q´hai assomadeiros resbalinos,
altas faias an que me puoda prender,
i nuobos i retrocidos caminos que l suonho precura
i anque l miu pensar
quede colgado i tembre mirando l peligro,
sien la palabra q´amente
la berdade i l resfuolgo de l miu sentir.
Tengo ganas de bolar.
Esta paixon ye cumo un riu de querer fondo,
custoso de secar. Chama-se lhéngua mirandesa.
Solo s’astrebe quando se sinte la bertige de la caída,
mas ye ende que l bolo lhieba gusto i plenitude.
Talbeç seia un bolo maternal, buído na calor
i ne ls beisos de la fala
quando inda nun se sabe falar. Cuido you
que quien me dou de mamar, dou-me, tamien,
este deseio, sien frenos, de sbolaciar.
Fago l risco nas alturas,
porcuro fuorça nas alas que la curjidade me dou.
Nun quiero quedar a meicamino,
quiero antrar ne ls sonidos i na guapura deste falar.
La felcidade stá an anteimar.
Mirantes escorregadios
Ardo no desejo de voar,
ainda que saiba que há mirantes escorregadios,
altos penhascos em que possa encalhar,
e até novos e retorcidos caminhos que o sonho procura
e onde o meu pensamento
fica suspenso e treme ao olhar o precipício
sem a palavra que diga
a verdade e o ímpeto do meu sentir.
Tenho fome de voar
por dentro da tua simplicidade e beleza.
Esta paixão é como um rio de querer profundo,
difícil de secar. Chama-se língua mirandesa.
Só se ousa quando se sente a vertigem da queda,
mas é assim que o voo ganha gozo e plenitude.
Talvez seja um voo de colo, bebido no calor
e nos beijos da fala
quando ainda não se sabe falar.
Quem me deu de mamar, deu-me, também,
este desejo, sem freios, de esvoaçar.
Traço o risco nas alturas,
procuro força nas asas que a audácia me deu.
Não quero ficar a meio caminho,
quero entrar na sonoridade e na beleza deste falar.
A felicidade está em ousar.
Teresa Almeida Subtil
(in Rio de Infinitos/Riu d'Anfenitos)
Dia da Língua mirandesa.
Tento perceber esse apego à língua mirandesa, complemento com alguma pesquisa, acho que faz todo o sentido.
ResponderEliminarO poema é muito bom, Teresa. Parabéns!
"Ardo no desejo de voar". Fiquei logo presa ao começo do poema, Teresa. Ousar levantar voo. Não resistir à espessura das sombras sob os pés...
ResponderEliminarTão belo!
Uma boa semana.
Um beijo.
Olá, querida Teresa, lindo 'Mirantes escorregadios', temos de ir... de colocar em prática nossos sonhos para não trair nossa felicidade.
ResponderEliminar'Traço o risco nas alturas,
procuro força nas asas que a audácia me deu.
Não quero ficar a meio caminho,
quero entrar na sonoridade e na beleza deste falar.
A felicidade está em ousar.'
Perfeito, grande beijo!
Um poema absolutamente maravilhoso... que de uma forma apaixonante, nos agarra da primeira à última palavra...
ResponderEliminarParabéns, pelo magnífico e inspirado trabalho, Teresa!
Beijinho!
Ana