Foi, para mim, uma subida honra integrar na minha obra o prefácio de Domingos Raposo, ilustre professor e dinamizador da língua mirandesa. Uma mão preciosa, devo dizer.
PREFÁCIO – ANTRADA
Teresa Almeida Subtil é natural de Lagoaça, povoação sobranceira
ao Douro Superior, com grande beleza natural, clima ameno e um solo pródigo em
frutos, e, culturalmente falando, integra as designadas “Terras de Miranda”, com
bem referia Francisco Manuel Alves, Abade de Baçal.
E se o ser humano é filho do meio em que nasce, do lar em que se
cria e da formação que recebe, Teresa Almeida Subtil não é exceção. A pureza do
meio, a educação esmerada do lar, a riqueza da formação adquirida fizeram-na
grande e levaram-na, por inclinação própria, a seguir a nobre missão de
ensinar, que exerceu sempre com elevado profissionalismo, competência e
entrega. Amante da dança e da pintura, a que também se dedica nas horas de
lazer, deixou-se guiar, nos últimos tempos, pelo pulsar e força da poesia, que
lhe corre nas veias, a jorro, genuína, natural, fluida. A fim de não
desperdiçar o bafo da inspiração, assumiu, como motu proprio, o lema do pintor grego Apelles, “nulla dies sine linea” –
nem um só dia sem (uma) linha -, até porque desde cedo compreendeu que “scripta
manent”, ou seja, que os escritos permanecem. Essa produtividade levou-a à
perfeição técnica do poema, prenhe de simbologia e emoção, como podemos
comprovar com a presente obra, que resulta da seleção (nada fácil de fazer) de
uma vasta lista de poemas.
Mas esta obra ganha ainda um valor redobrado porque sendo a autora
uma apaixonada pela língua mirandesa, que aprendeu, de per si, sem a ter mamado
no leite materno, aparece traduzida, em mirandês, pelo próprio punho, dando um
grande exemplo de que querer é poder e de divulgação daquela que é a segunda
língua oficial de Portugal.
Escrever poesia é uma arte e toda a arte é maravilhosa porque se
por um lado é inútil “não mata a fome, não mitiga a sede, não protege do frio e
do vento” (Ruy Guerra), por outro é transformadora porque inebria o espírito,
aquece a alma, desvenda e ilumina caminhos, muitas vezes sombrios, escondidos, subterrâneos.
E Teresa Almeida Subtil, com um incontornável e não explicado deslumbramento,
que nos fascina, apresenta-nos, nesta obra, caminhos dessa transformação, tendo
como ponto de partida e fio condutor o Rio (Douro) – que a marcou profundamente
desde a infância – no seu sentido mais abrangente e metafórico: “rasgo a
Primavera do alto das arribas do Douro”; “sinto o eco das margens a pulsar”;
estão vivas as águas do meu rio”; “diz-me do rio de palavras selvagens preso em
ti”; “… ser-te-ia nascente e foz a um tempo”; (…). O seu Rio é imenso,
infinito: tem sol, sombras, arribas, fauna, flora, gente, etnografia, atrações,
mistérios, cores, aromas, paladares, fragores, sonoridades, acordes, amores,
choros, cantos, “cantando o amor em cada passo e em cada batida de
inquietação”.
Teresa Almeida Subtil, com clareza, sensibilidade estética e
cumplicidade com o seu Rio (fonte de sonhos, afetos, desafios, preces,
promessas, esperanças…) compõe poemas com essência e perfume, vestindo-os a
preceito como se vestisse um corpo com o fato e os adereços do melhor
estilista, mostrando que “a poesia é emoção, um grito de liberdade, um brinde à
vida”. E se para ela ser poeta é “… dar-te a chave do céu e do prazer”, também
faz jus ao sentimento de Florbela Espanca: “tem de mil desejos, o esplendor;
possui um astro que flameja; tem garras e asas de condor; tem fome e sede de
Infinito; condensa o mundo num só grito”, como testemunha nesta obra, de forma
brilhante, guiada pelas suas memórias, vivências, introspeções/intimidades,
valores, leituras, telas de vida, evocações, projetos, trajetos e horizontes.
Os poemas deixam-nos perceber que a autora comunga o pensamento de
outros poetas consagrados. Sabe “que o sonho comanda a vida” e com ele “o mundo
pula e avança” (António Gedeão); que “o meu pensamento é um mundo subterrâneo…
Escuto-o… como um eterno rio indescoberto, mais que a ideia de rio certo e
abstracto” (Fernando Pessoa); “mas não calo a voz do chão que grita dentro de
mim”, fazendo o “rio feliz a ir de encontro ao mar, desaguar, e, em largo
oceano, eternizar o seu esplendor torrencial de rio” (Miguel Torga). Torrente,
qual “caudal sagrado” de infinitos, que abre espaços à reflexão, à afetividade,
à solidariedade… e faz de cada poema um “dia novo, de renovo e poesia”, como
Torga gostava de dizer.
Teresa Almeida Subtil, sente o prazer da escrita e escreve com
palavras “tecidas de luz” (Eugénio de Andrade), em intimidade com os versos e a
musicalidade das sílabas, com o coração cheio, seguindo a transparência das
estrelas, compondo, com uma imaginação transbordante e apaixonada, autênticos
hinos ao Sol “com notas marciais, que soam como um clarim (Gomes Leal) e “com o
desejo de ser apenas harmonia, cantando a luz que todo o espaço inflama, e
sonhando a perfeita e mística alegria” (Teixeira de Pascoaes).
Parafraseando Manuel Alegre, este é “um livro de poesia por onde
corre o sangue, a escrita, a vida”. “Pois só no poema um povo amanhece” (Sophia
de Mello Breyner Andresen). Por isso, deixemo-nos levar por este “Rio de
Infinitos”, escrito com cintilante claridade, onde a autora, norteada pelo
maior dos ideais, permite que nos enriqueçamos e deleitemos com as suas
magníficas criações, deixando-nos a esperança num amanhecer resplandecente,
puro, expurgado de males e livre para pensar, sonhar, agir, repleto de Amor.
Amor que conseguiu pintar com a sua cor preferida: a brisa da vida.
Domingos
Raposo
Teresa, já tinha lido este texto no teu livro. Claro que é excelente e é sempre muito bom quando alguém sabe abordar bem a nossa escrita, como o fez o Professor Domingos Raposo.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
um texto excelente e uma fecunda análise da obra e do universo poético da Poeta Teresa Almeida Subtil
ResponderEliminarpermito-me destacar a afirmação eloquente de quem, com conhecimento e autoridade escreve "Teresa Almeida Subtil, com clareza, sensibilidade estética e cumplicidade com o seu Rio (fonte de sonhos, afetos, desafios, preces, promessas, esperanças…) compõe poemas com essência e perfume, vestindo-os a preceito como se vestisse um corpo com o fato e os adereços do melhor estilista, mostrando que “a poesia é emoção, um grito de liberdade, um brinde à vida”. E se para ela ser poeta é “… dar-te a chave do céu e do prazer”
e quanto me agrada a subsequente evocação de Florbela Espanca.
não será novidade para ti, dizer-te, minha amiga Teresa Almeida, que sou fã incondicional da tua poesia e quanto me deixa feliz a leitura deste texto exemplar e este luminoso olhar sobre a tua obra.
parabéns
beijo
Merecido êxito para o seu livro
ResponderEliminarBj
O prefácio do professor Raposo Domingos se basta para traduzir o Rio de Infinitos de Teresa Almeida Subtil. No mais, é procurar a medida das suas palavras na medida de cada poema e vamos descobrir que a régua e compasso se equivalem. É o olhar de quem leu bem o que estava bem escrito pelas suas mãos, Teresa!
ResponderEliminarUm beijo, Teresa!
Para “ definir “ a tua poesia , um prefácio eloquente é definitivo quanto à beleza e profundidade estética .
ResponderEliminarPorque a tua poética é algo que se entranha na pele como a seiva nas árvores dos açudes . Tão líquida como a água do teu rio de afectos .
Parabéns pelo teu percurso, pela tua poesia , querida amiga Teresa
Ler- te , é estar longe e perto das arribas ou lugares que te inspiram
Parabéns
O nosso abraço
Só agora me apercebi deste post.
ResponderEliminarDomingos Raposo dirigiu-te palavras fartas, ricas de contexto, com os imprescindíveis afectos. E tu mereces.
Parabéns, Teresa!
Um prefácio merecidíssimo, pela excelência da sua obra, Teresa... e pela sua admirável aposta, em não deixar cair no esquecimento, a nossa segunda linda oficial... da qual, tanta gente no nosso próprio país, nem terá a noção de tal... nem da sua existência, sua riqueza histórica e cultural e devida importância...
ResponderEliminarMuitos parabéns, pelo seu meritório e valoroso percurso poético, Teresa!
Beijinho
Ana