Deslizam nuvens nos lenços do meu vestido
folhos rubros em dia pardacento
é um dia gigantesco este
em que se desfolham folhas de vida
nos versos que pela noite se vão erguer
e renascer fervilhando em tertúlias de poesia
cantando um Porto cinzento sim
mas poético e glamoroso
e é nesta alegria que me encanto e desço
e troco cumplicidades com a vizinha
que afinal mal conheço
os rostos agarram a frieza do betão e a pressa
não se compadece nem espera que a vida
se solte desinibida, confiante em desabafos
esparsos e breves sentires
o sol começa a aquecer e a assomar-se no olhar
e como um cálice de vinho fino que partilhássemos juntas
os olhos brindam a alegria deste encontro
o primeiro na escada derradeira
e perco a pressa, deixo-me estar
estou aqui por pouco tempo, mas é sempre tempo
de sermos gente, de nos olharmos e vermos
que afinal abrandar o passo pode ser um passo em frente
e eu hoje que tenho pressa demoro mais um pouco
porque tenho sempre tempo para mim
e é quando me dou que eu me pertenço
Teresa Almeida
(in Antologia da Moderna Poética Portuguesa)
Gostei muito do teu poema e do "vinho fino" que ele contém...
ResponderEliminarMas a tua poesia já é vintage...
Teresa, minha querida amiga, tem um bom resto de domingo e uma boa semana.
Beijo.
Como bem cantas o tempo de encanto... de sermos gente!
ResponderEliminarUm abraço, que no calor do seu retorno, me faça sentir gente...
Teresa, Querida
ResponderEliminarO Amor é assim, como o "[...] Porto cinzento (...)
poético e glamoroso,(...)
porque tenho sempre tempo para mim
e é quando me dou que eu me pertenço".
Uma saudação (louvor) especial á preciosidade deste teu Poema.
Beijos
SOL
Um poema todo ele de doação, partilha, cumplicidade...VIDA.
ResponderEliminarHá momentos no tempo que revertem os tempos desumanizados...
Apreciei imenso este "namoro" com a tua identidade...
Bjuzz, amiga Teresa :)
Descobrindo tuas letras e o imenso capital de literatura que elas contém. Relendo este teu belo poema, percebi que ele é uma crónica em versos. Uma crónica-poema que fala de cumplicidades espontâneas, de entregas sans arrière-pensées, fortuitas, naturais; são pequenas descobertas que se interagem para tecer uma admirável tapeçaria de vida, de maneira de ser.
ResponderEliminarLi, reli e talvez que lerei ainda outras vezes este belo texto teu, Teresa; ele é enriquecedor e, ao mesmo tempo, saboroso. Assim como o dístico final que o arremata, uma verdadeira "chave-de-ouro" que nos leva à reflexão mais profícua.
Parabéns, um abraço muito amical,
André