Ainda há rescaldo no Adro da Sé, apesar de já terem passado alguns dias desde que os carros de bois, carregados de lenha, desceram a rua dos Adis, passando em claro a primeiro de Maio, a minha. Vêm numa bolina impressionante e, quando se aproximam do café Porto,fazem uma curva em ângulo reto que arrepia quem gosta de ver todo este vigor e entusiasmo da rapaziada. Há um chefe, em cada ano, que levanta o ânimo usando a sua voz em máxima potência. Sim, quem puxa os carros são os destemidos rapazes, na força da vida! O frio corta-nos as orelhas, mas não arredamos pé! O chiadeiro neste ângulo deve ser o mais forte de todo o percurso. O eixo e as rodas chiam a bom chiar!
Vem-me todo este entusiasmo pela paisagem sonora duma palestra do investigador Mário Correia em S. Pedro da Siva, no dia treze deste mês de Dezembro, a propósito dos festejos do solstício de Inverno. A verdade é que bem sentimos tudo isto, mas se percebermos os fatores que concorrem para
que um som saia de forma irrepetível num determinado lugar, o caso ganha outra dimensão.
Já passaram alguns dias desde que os toros começaram a arder em frente à vetusta Sé desta linda cidade de Miranda do Douro. É impressionante a fogueira do galo! Como se nela ardessem todos os medos e a esperança renascesse! À volta as pessoas conversam a lenha vai ardendo. E as chispas registam no ar sons do outro mundo
Todo este cenário, com o crepitar das brasas, na verdade fazem do Adro da Sé algo surreal e contribuem para o encantamento desta quadra festiva. Sai daquele imenso braseiro toda uma orquestra, digna do melhor compositor.
O investigador bem quereria pôr os microfones no centro do braseiro, mas tem que se contentar com os sons à volta da fogueira. As palavras também andam a rodopiar e devem ter uma melodia especial, depois da ceia de Natal. Palmadinhas nas costas, beijos e abraços são, afinal, os tons da amizade. É, também, o dia em que quem tem uma capa de honra mirandesa se apresenta cheio de "proua". Nem o Menino Jesus esquece a sua.
De dentro da Sé saem cantares de anjos, é certo, mas também algumas risadas incontidas. Não admira porque o Menino Jesus sempre teve cara de amigo, principalmente o Menino Jesus da Cartolinha que bem se vê que não pode com o riso. O riso vem dos céus, temos a certeza. E que falta nos faz em
qualquer paisagem sonora do dia a dia!
O adro não é o mesmo do resto do ano, muito menos os sons que mudam a cada momento. Não sabemos definir todo este encantamento da noite de Natal, como se as estrelas quisessem mudar de lugar e se mostrassem entre nós em todo o esplendor de luz e som.
Não faltarão a gaita de foles, a flauta pastoril, o realejo e os bombos da nossa terra. Miranda do Douro é uma terra musical e não pode haver festa sem os sons que lhe pertencem e lhe conferem identidade.
Teresa Almeida Subtil
Vem-me todo este entusiasmo pela paisagem sonora duma palestra do investigador Mário Correia em S. Pedro da Siva, no dia treze deste mês de Dezembro, a propósito dos festejos do solstício de Inverno. A verdade é que bem sentimos tudo isto, mas se percebermos os fatores que concorrem para
que um som saia de forma irrepetível num determinado lugar, o caso ganha outra dimensão.
Já passaram alguns dias desde que os toros começaram a arder em frente à vetusta Sé desta linda cidade de Miranda do Douro. É impressionante a fogueira do galo! Como se nela ardessem todos os medos e a esperança renascesse! À volta as pessoas conversam a lenha vai ardendo. E as chispas registam no ar sons do outro mundo
Todo este cenário, com o crepitar das brasas, na verdade fazem do Adro da Sé algo surreal e contribuem para o encantamento desta quadra festiva. Sai daquele imenso braseiro toda uma orquestra, digna do melhor compositor.
O investigador bem quereria pôr os microfones no centro do braseiro, mas tem que se contentar com os sons à volta da fogueira. As palavras também andam a rodopiar e devem ter uma melodia especial, depois da ceia de Natal. Palmadinhas nas costas, beijos e abraços são, afinal, os tons da amizade. É, também, o dia em que quem tem uma capa de honra mirandesa se apresenta cheio de "proua". Nem o Menino Jesus esquece a sua.
De dentro da Sé saem cantares de anjos, é certo, mas também algumas risadas incontidas. Não admira porque o Menino Jesus sempre teve cara de amigo, principalmente o Menino Jesus da Cartolinha que bem se vê que não pode com o riso. O riso vem dos céus, temos a certeza. E que falta nos faz em
qualquer paisagem sonora do dia a dia!
O adro não é o mesmo do resto do ano, muito menos os sons que mudam a cada momento. Não sabemos definir todo este encantamento da noite de Natal, como se as estrelas quisessem mudar de lugar e se mostrassem entre nós em todo o esplendor de luz e som.
Não faltarão a gaita de foles, a flauta pastoril, o realejo e os bombos da nossa terra. Miranda do Douro é uma terra musical e não pode haver festa sem os sons que lhe pertencem e lhe conferem identidade.
Teresa Almeida Subtil
(Texto publicado na BIRD MAGANIZINE e partilhado na Rádio sem fronteiras.)
Rapazes jovens que puxam carros de bois carregados de lenha, o que os faz aquecer de certeza....:-) Depois essa fogueira a crepitar majestosa, em frente à Sé de Miranda do Douro, as vozes que se misturam com o som do fogo, numa noite especial em que o céu parece ter descido à terra.
ResponderEliminarImagino que algo de tão tradicional e presente na vivência de todos os habitantes, seja sempre igual e sempre diferente. E não hajam dúvidas de que pensar em Miranda do Douro ( terra que não conheço), remete-me sempre para frio, gaitas de foles e bombos!
Que vivam as tradições, e que continuem a ser testemunhadas em textos e imagens assim.
Boas saídas e melhores entradas, Teresa! Feliz 2015!
xx
Um documento histórico, sem dúvida.
ResponderEliminarFeliz Ano Novo!
Os rituais servem para isto mesmo: transfigurar espaços, redimensionar a alma humana, manter a chama no coração das gentes que os veneram.
ResponderEliminarE este relato (poético no olhar de quem o escreve) é a prova disso.
Sem este entusiasmo, sem estes acordes auditivos, sem os gestos que irmanam, a ritualização há muito que não passaria de uma terna recordação.
Por isso, que haja sempre, no Adro da Sé, uma fogueira que espante os espíritos negativos!
Muito bom este teu texto memorial, amiga Teresa.
Bjo e um Ano MESMO Novo! :)
Este comentário foi removido pelo autor.
EliminarBela manifestação do Ritual da Fogueira da Natividade, que tanto lembra o passado longínquo. Deve ser um espectáculo único. Imagino. O teu relato é soberbo.
ResponderEliminarQue a Tradição se mantenha para além dos tempos.
Que o Ano que chega nos traga novo vigor e nova Esperança.
Beijos
SOL
VEJA NO MEU BLOG:
ResponderEliminarAproveito esta linda imagem para desejar a toda(o)s um ANO NOVO pleno de felicidade.
Peço desculpa a quem ainda não retribuí as amáveis visitas, o que farei com a maior brevidade possível.
Obrigado! Um beijo
MIGUEL
Minha querida Teresa
ResponderEliminarQue o ano de 2015 seja pleno de amor e felicidade...de paz e fraternidade...repleto de realizações e de sonhos concretizados.
E mesmo se as mãos estiverem vazias...que a esperança seja um sorriso esperando pelo futuro e iluminando o caminho para que a vida seja um suave tapete de pétalas e todos os dias do Novo Ano se pintem com o azul de uma serena madrugada.
E obrigada pelo carinho e amizade que me aquece o coração e me dá alento para continuar a minha caminhada.
FELIZ ANO NOVO
Um beijinho
Sonhadora
.
ResponderEliminarSeu blog é bonito e bem feito.
Vou segui-lo pelas qualidades.
O meu nada tem para impres-
sioná-la, mas seria uma honra
se você o seguisse.
Beijos,
.