Eu até me atrevia a dizer o poema. O tal que se entrelaçava nas cores da noite e refulgia intenso como a chama que ardia no meu copo. E da chuva miudinha inventada em resquícios de partitura.
O tal que tinha a espessura do chocolate negro que saboreava.
Eu até me atrevia. A poesia que saía da luz do canto era evaporada, intensa. Elixir e agrura do dia a dia. Mas passava as galáxias. Malha fina, escrita com as vísceras e a alma que não sabemos onde fica, mas que vibrava nos olhos da escuridão. Poesia de cave. Escrita com o corpo inteiro. Passos andados. Poetas consagrados. E as guitarras, por ali, eram afinadas no verso mais arrepiado.
Eu até me atrevia, mas o farragacho que trazia perdeu alturas. A bateria foi esmorecendo …
E na mochila que havia? Medicamentos que o otorrino me receitara. Nem a alminha dum poema. Coisa rara!
De cor? Essa ardeu na fogueira. Já não a procuro. Está tão entranhada que não é fácil desarrolhá-la. Como o casaco quentinho e solto de traça antiga que a Isa adora de paixão. Ainda tem a assinatura do coração. Faltava o “Rive Gauche” que provocou tantos arrebatamentos. A essência ainda se pressentia na palavra.
Cantei, a medo. Baixinho. Fiz parte do coro. E senti a vibração da poesia que não disse, mas que poderia crescer, por ali …
Aromática
Erva cidreira
Teresa Almeida Subtil
em "Pinguim Café"
22.01.2018
Magnífico texto, Teresa. Com a poesia toda em vibração e sentimento. Senti o aroma da erva cidreira por aqui.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
É tão fácil dizer que fiquei sem palavras diante de poema tão intenso. Mas as palavras têm o condão de surpreender qualquer que seja o atrevimento ou até a a ausência dele. Então, dizer mesmo o que, Teresa?
ResponderEliminarAgradecer esta revelação. Gostei muito, muitíssimo, do seu ofício da escrita...
Beijinho,
que nunca o poema emudeça, ainda que (apenas ?) canto dedilhado.
ResponderEliminare a espessura do chocolate te acalente, sempre.
e o perfume da erva cidreira seja chuva miudinha a "atrever-se" Poesia.
gostei muito, Teresa
beijo
Entusiasmei-me com esse aroma que era mais intenso que erva cidreira, Teresa. Dedilhaste palavras- poesia com tal vivacidade e beleza , que roubaste as minhas!
ResponderEliminarTão belo!
Abraço!
Uma cave que se revela intensa. No poema não-dito nas palavras ditas nesta prosa tão poética. A essência intimista num ambiente que atrai, faz-nos pensar e sentir o calor humano que dele emana. E a música aí a ligar tudo.
ResponderEliminarAdorei lê-la, Teresa.
Bj
Olinda
Há ambientes que tresandam a poesia... tal como nessa cave...
ResponderEliminarGostei desta prosa, que é um verdadeiro poema. E brilhante, parabéns.
Continuação de boa semana, amiga Teresa.
Beijo.
Um privilégio com a leitura aqui, ser
ResponderEliminartransportada para este momento, que tu
descreves com poesia, com alma e a
excelência nos gestos da sublimidade.
Belíssima partilha, amiga!!
Beijinhos.
"Eu até me atrevia a dizer o poema. O tal que se entrelaçava nas cores da noite e refulgia intenso como a chama que ardia no meu copo. E da chuva miudinha inventada em resquícios de partitura."
ResponderEliminarGostei muito do texto poético, uma escrita de tamanha garra que vai cobrindo um espaço difícil, mas esperado até o seu ápice.
"E senti a vibração da poesia que não disse, mas que poderia crescer, por ali …"
Um beijo, querida Teresa, um bom fim de semana!
Amiga, tua prosa é um poema maravilhoso! Parabéns! O perfume de teus versos / Mesmo seguindo por prosa / Tem um luz alterosa / A iluminar universos // Que muitas vezes dispersos / Juntam-se, e a luz airosa / Também do perfume goza / Já por caminhos transversos. // E tu, querida Teresa / És mesmo essa luz acesa / Que ilumina a amplidão // Do meu sonho por sonhar / Também à luz do luar / Dessa tua inspiração. Grande abraço. Laerte.
ResponderEliminarO teu trabalho é belíssimo,
ResponderEliminarTeresa. Isso eu não canso
de dizer.
Vale à pena passear por
tuas páginas. Cada uma mais
bela que a anterior.
Um beijo e, continuo te
seguindo, criança.
silvioafonso
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