O lugar era
corpo inteiro. Alvoroço dos sentidos.
E a canícula
do dia era ali que se despia.
Ao fundo a
cicatriz e a sede. Santa a fonte,
incrustada
no fragaredo. Eu apenas espreitava
a gruta
profunda e escura. Amava a melodia
daquele fio
de água. E a ternura tresmalhada.
E quando a
tarde amolecia perdidamente
e os
acepipes atiçavam a vontade, era ali
que se
degustavam os melhores frutos do mundo.
Douro naturalmente.
Nem os deuses resistiam.
E o verso é
agora regresso, fralda de memória.
Desafio
incontido. Vinho desarrolhado.
Mistério
decantado. Linho estendido. Brancura imaculada.
Paz e espada. É fim de jornada, seda e
frescura.
Pele macia,
aveludada. Perfume e flor do dia.
Teresa Almeida Subtil
Nem os deuses resistem ao Douro: "Desafio incontido. Vinho desarrolhado.
ResponderEliminarMistério decantado." Magnífico poema, Teresa.
Gostei tanto que li e reli até ao espanto.
A música e o vídeo, sublimes.
Um beijo, minha Amiga.
Provavelmente, referes-te a um local em concreto a que chamavam (e eventualmente ainda chamam) "buraco da moura". E voltaste lá, sob a forma poética e fizeste com que visionasse o local (à minha maneira, claro, e talvez inspirado por um poço das feiticeiras que conheci em criança.
ResponderEliminarE o teu regresso poético, escusado seria dizê-lo, é fantástico, os meus parabéns pelo teu talento.
Continuação de boa semana, amiga Teresa.
Beijo.
Hesitei, mas gostei de atribuir ao poema o nome do local. Queria torná-lo imorredouro. A fonte era sulfurosa e todo o cenário era inspirador. Íamos a cavalo, em família, e há muitos anos que não vou por ali.
EliminarGrata pela sensibilidade, querido amigo Jaime Portela.
Beijinhos.
são lugares assim, "de corpo inteiro" que marcam o carácter e entre-tecem os fios e a matriz...
ResponderEliminara Poeta há-de vir depois, na fascinação e na "ternura tresmalhada" a celebrar o "verso e reverso" da(s) memória(s) e o gratificante prazer da partilha, seja ela o vinho (desarrolhado) ou "o perfume e a flor do dia"
gostei muito, Teresa. parabéns, um poema inexcedível!
beijo, amiga
Um poema belíssimo, inscrito na arte da Poesia, com
ResponderEliminara tua excelência, sensibilidade e esta capacidade tão tua,
no dizer poético, como um sopro na delicadeza com as palavras
bordadas de significados a ecoarem em nós, teus leitores!...
O vídeo-música é mágico e lindo, acompanhar com
a magia do teu poema, Teresa.
Adorei, minha amiga!!
Um domingo alto astral!
Beijinhos.
É isso, inexcedível, como escreve Manuel Veiga. A memória vista como algo a ser capturado, como matéria ou instrumento de revelação. E, então, descobrimos como carecemos da poesia porque nos vemos lendo e relendo o poema "exaustivamente". Aqui e agora, este poema é pura nutrição. Ou melhor degustação. Maravilhoso!
ResponderEliminarBeijo,
Vi como um belo diário de memórias, degustando, bebendo na fonte do que era belo e trazia muita felicidade.
ResponderEliminarBeijo, querida Teresa.
Olá, Teresa
ResponderEliminarPoema perfumado e com saboroso. Lugar que ganha vida através de palavras escolhidas com arte.
A musica, divina.
Bj
Olinda
...e saboroso...
ResponderEliminarA sua poesia tem um nome
ResponderEliminarBj
O nome do local
ResponderEliminaronde as palavras se bebem como um rio
às mãos cheias
Bj
Num quase Olimpo... Lindo, embriagador, envolvente!
ResponderEliminarAh, as palavras, Teresa, tão bem que as tratas..!
Um beijinho :)