A barca dos sentidos
É quando a canção ganha ritmo
que o chão treme e o olhar foge,
o pensar é ave sem ninho
e os sonhos asas quebradiças
árvores a entardecer ao de leve.
O rio, esse, é ímpeto, poesia,
aperto, margem,
profundidade da sede
e impetuosidade do sentir.
Eu não sei
agarrar a nota perfeita
nem o trilho,
nem o lugar
nem sequer a barca onde
as sombras crescem esbatidas
e as cores dos versos sobem
nas rugas que a saudade escreve
e no medo que o dia se entregue
aos sonhos que ardem devagarinho
sem a dor da melodia que se extingue,
sem o fragor do poema por acabar.
Sou tema que o rio desbrava,
palavra insegura,
arisca canção de embarcar.
La barca de ls sentidos (mirandés)
Ye quando la moda ganha baláncio
que l suolo tembra i l mirar se scapa,
l pensar ye abe sien nial
i ls suonhos alas andebles
arbles a antardecer a pouco i pouco.
L riu, esse, ye apego, einergie,
aperto, borda, fundura de la sede
ye la poesie de l sentir.
You nun sei agarrar la nota porfeita
nien l lhugar
nien sequiera la barca adonde
las selombras médran zlidas
i las quelores de ls bersos chúben
nas angúrrias que la soudade scribe
i ne l miedo que l die s’antregue
als suonhos q'árden debagarico
sien l delor de la melodie que se apaga,
sien la fuorça de l poema por acabar.
Sou tema que l riu zbraba,
palabra sien arrimo,
spúria cantiga d'ambarcar.Teresa Almeida Subtil
(in Rio de Infinitos/Riu d'Anfenitos)
Um poema para ler e reler, porque dizes tanto neste poema.
ResponderEliminarQue é brilhante, parabéns.
Bom fim de semana, amiga Teresa.
Beijo.
Quando as palavras sobem aos mastros mais altos
ResponderEliminarnem os barcos nem os pássaros
só as bandeiras
a falar por gestos
Bj meu
O rio , o teu personagem de eleição onde fazes navegar o pensamento , aliado da tua imaginação que tem
ResponderEliminarMuitos tanto de fértil como sedutora .
Aproveita as águas calmas para que as margens sejam o apogeu desta viagem excecional!
Muitos Parabéns, querida amiga!
Quando as palavras sobem aos mastros mais altos
ResponderEliminarnem os barcos nem os pássaros
só as bandeiras
a falar por gestos
Bj meu
Mar Arável
(Devo ter eliminado este comentário sem querer. A verdade é que aparece no meu gmail. Peço desculpa, Filipe.)
Beijo.
de palavras ariscas e tresmalhadas (e não daquelas que, gastas, voam baixinho) se alimenta a melhor poesia e a sua verdade.
ResponderEliminarpor mim fico, rendido ao ímpeto torrencial do teu poema e à "profundidade da sede" que tão bem exprime.
gostei muito, Teresa
beijo, minha amiga
Navego neste rio como se fosse meu.
ResponderEliminarSer tema que o rio desbrava, palavra insegura, canção de embarcar, isto diz-me o poema, a justificar a forma imprevista das palavras...Tão belo!
Uma boa semana, Teresa.
Um beijo.
Começo pelo som que adoro!
ResponderEliminarE o "navegar" poético lindo na sua subtileza!!!
Que tenha uma semana bem interessante!!!
Visitando fiquei fascinado pelo blogue e sua poesia.
ResponderEliminar.
* É o teu coração um poema sem rima *
.
Deixo um abraço
Ah, Teresa, que doce soltar é esse, que ganha asas no assomar dos sentidos?
ResponderEliminarLindo!
Um beijinho :)
Passando a fim de desejar um feliz fim de semana
ResponderEliminar.
* Soneto escrito no escuro ... em versos de luz sombria *
.
Deixo um abraço amigo
Olá, Teresa
ResponderEliminarViagem ao âmago dos sentidos. Não carece de nota perfeita,
nem de palavra segura. Bastará a expressão da sensibilidade
imensa da poeta.
Bj
Olinda
Fiquei curiosa com a pronúncia de ls que eu deduzo que seja: os. É como se fosse um L no plural? :)
ResponderEliminarBj
Querida Olinda,
ResponderEliminarGrata pelo interesse e pela sensibilidade.
Não considero fácil a pronúncia da língua mirandesa. Dizem que é fácil para quem a “mamou”. Eu sou apenas uma apaixonada. E tento …
Transcrevo, assim, o que nos diz, a este propósito, a Convenção Ortográfica da Língua Mirandesa:
"L" aparece como letra isolada, ou seguida de s"", para representar o artigo definido masculino. A pronúncia deste artigo "l" antes de palavra começada por consoante é velarizada, assemelhando-se ao "l" da palavra "table".
Também é verdade que é preciso aprender ouvindo. A oralidade é, em qualquer língua, fundamental. Que tal uma visita ao planalto mirandês? Vale a pena.
Beijinhos, minha amiga.
Muito obrigada, minha amiga. Realmente, só ouvindo é que se aprende os sons de uma língua. Sabe uma coisa? Fui ao Google tradutor procurar o Mirandês para o ouvir. Mas não está lá. Motivo mais do que suficiente para ir ao planalto mirandês, um dia. :)
ResponderEliminarBeijinhos
Olinda
E lá vou eu também nesta torrente, nesta voragem, se me permite não escolherei outra margem, para não perder a sua viagem. Ancoro neste desejo de uma verdade, de uma constatação, neste fazer poético tão sedutor.
ResponderEliminarUm beijo,