terça-feira, 13 de agosto de 2019

Meu navio


Teu corpo é meu navio
Transparência do instante
Em que o leme enxerguei
E todo o génio caldeado além
Num mar que não recordo e sei

Passei a ler-te sem tocar certezas
Luz que para lá do véu se proclama
Sem seres céu serias chama
Sem seres meu passaste a pertencer-me

Quase te toquei e tanto queria
Aquela aurora em fim de dia
Clarão e bruma quente
Ilha que ao longe se faz presente
Navio tatuado em minha mente.


Teresa Almeida Subtil


Ilha de S. Jorge - Açores

16 comentários:

  1. Bom dia, querida Teresa

    Um navio, um ente, um sonho. Tudo reunido neste poema que à vista da Ilha de S.Jorge me leva em viagem para dentro dos seus contornos. Muito sensível, eu, aos sentimentos dos ilhéus não me canso de os tentar ler e adivinhar os seus anseios.

    E na sua leitura me embrenho, tocando esse "Clarão e bruma quente":

    "Passei a ler-te sem tocar certezas
    Luz que para lá do véu se proclama
    Sem seres céu serias chama
    Sem seres meu passaste a pertencer-me"

    Boa quarta-feira, minha Amiga.

    Beijo.

    Olinda

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  2. Olá, Teresa!
    Um poema sensível, que mostra claramente o talento da poetisa. Gostei muito, querida amiga Teresa. Parabéns!
    Um beijo.
    Pedro

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  3. Teresa, um poema belíssimo
    e de extremadas (e contraditórias) emoções...

    ficamos a saber, por um lado, do corpo como navio e chamamento
    para, por outro lado, logo ficarmos esclarecidos que a viagem será simplesmente

    "Clarão e bruma quente/ e Ilha que ao longe se faz presente" ...

    ... e, no entanto, há "auroras em final de dia" que permanecem como matriz e recorrente projecto e viagem.

    gostei muito, minha amiga

    beijo

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  4. Teresa querida, quando se faz poesia com emoção, como essa, bate também no leitor, pois nele se encontram as mesmas emoções, variando, apenas, o lugar.
    Aplausos, amiga!
    Beijo.

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  5. Conheço bem o seu perfil, os seus prados, as suas vilas e sua ruralidade.
    Passei nas Velas vários períodos de férias.
    Geologicamente é uma ilha condenada a desaparecer...

    Brilha no teu poema, querida amiga, uma beleza rara, singular e tocante.
    É muito gratificante para mim, saber que te apaixonaste pelas nossas ilhas de bruma.
    Foi um prazer ler-te.
    Beijinhos de tão saudável cumplicidade.
    ~~~~

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  6. Emoção, palavras com sentimentos e uma mensagem bem presente... Uma poesia a ombrear em beleza com S. Jorge.

    Bom fim-de-semana

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  7. Á distância dum navio
    Mar que sente
    A ilha quase presente
    Presa a um fio
    Que a mente é corpo
    Em céu deitado
    Ao olhar da Poeta
    "Tatuado".

    Um Poema, minha Amiga,
    com passaporte e tudo...
    Tão belo, como só a tranquilidade
    das águas podem dar.

    Gostei imenso.

    Um beijo Amigo
    LuísM Castanheira

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  8. Um navio tatuado na mente… Por isso hás-de atrever-te a imitar o vento na cadência da mais apressada respiração… Magnífico poema!
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  9. Magnífico, como sempre! És uma mulher cheia de alma! E que bem sabes transmitir-nos as tuas emoções. Amei essa tua tatuagem.

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  10. Tão teu (e meu por destino). Que bom é ter-te!

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  11. Lindo o teu navio que é ilha
    Ou a tua ilha navio!
    Teu poema traz o brio
    Da poetisa que é filha

    De Portugal, cuja quilha
    Saiu do Tejo, o seu rio
    Para o mundo e fez a fio,
    Do mar, seu caminho ou trilha

    Para os descobrimentos.
    Seus nautas tomaram assentos
    Em São Jorge, Índia, Brasil,

    Goa, Macau e outros tentos,
    Vagando no vai dos ventos
    Mas sua ciência a mil.

    Grande abraço! Laerte.

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  12. Um poema muito belo, intenso e profundo...
    Absolutamente sublime, Teresa, este mar de emoções!... Adorei ler!
    Deixo um beijinho, despedindo-me por um tempinho, na minha habitual pausa de Verão, por esta altura!...
    Até breve!
    Ana

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  13. Olá Teresa! Boa noite!

    Desculpa pela ausência, andei um pouco ausente, mas já estou de volta.
    Um lindo poema. Você tem um pouco de Cecília Meireles quando escreve. Seus poemas são maravilhosos.
    Votos de boa sexta.
    Um beijo!

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  14. Votos de boas férias, querida Amiga.
    Abraço grande.
    ~~~~

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  15. Teu poema é essencialmente metafórico e, como tal, talvez mais endereçado àqueles mais habituados às artes poéticas. É poema ambíguo. Nele não percebi indicações de objeto, à parte o primeiro verso que fala de corpo. À primeira vista, poderia se achar que teu poema fala da Ilha de S. Jorge, sobretudo devido à imagem que o acompanha. No entanto, eu o sinto mais como uma metáfora de um ser masculino, real ou imaginário, pouco importa.  Um contato que não se deu e que ficou no desejado, apenas. Um anelo que se tatuou na mente da poetisa. Mas, naturalmente, louve-se aqui toda a verve e a imaginação desta, o poder que esta tem para descrever uma circunstância, quiçá, imaginária através de poesia de alta qualidade. Gostaria de ter escrito um poema assim. Para mim, é um dos melhores textos teus que conheço: pela ambiguidade inteligente que tem, e pela sensibilidade de um sentimento feminino tão típico. Meus aplausos, Teresa!

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