Era
o primeiro de Dezembro quando desembocámos no monumento natural Las Médulas –
Leon –formações resultantes de extrações de ouro, há mais de 2000 anos e
declarado património mundial pela UNESCO. É a maior exploração, a céu aberto,
de todo o império romano. Podia ter sido outro o local para festejar o primeiro
de Dezembro. Neste era mesmo improvável, mas tínhamos ido a Chaves, ao
lançamento do livro do amigo José Maldonado e estávamos mais próximos daquela
paisagem de uma beleza singular. Pareceram-me próximas e outros dizem que estão
muito distantes. Depende do local de partida e do deslumbramento à chegada. Entrámos
no primeiro restaurante para não perdermos tempo. Entre grafonolas e artigos
agrícolas fomos bem servidos: “botillo del Bierzo” e “café de puchero”. A casa
fora feita pedaço a pedaço num barracão que o casal havia comprado há anos.
Tinham vindo de França onde o trabalho era ainda mais duro. Vendiam todos os objetos
do espaço exceto a grafonola que nos interessava. Por ali havia aparelhos
musicais muito antigos. Despojavam-se de tudo, mas da música não. E havia
visita guiada aos tesouros. Apetecia-nos ficar mais um pouco, mas era urgente
partir porque as tardes de Dezembro são muito curtas. Prometemos voltar.
Poderia ter chovido como estava programado, mas o tempo abriu alas e até
permitiu que entrássemos em grutas apertadas, com chapéu de lata e foco na mão.
Três graciosas espanholas fizeram-nos companhia. Poderiam ter estado noutro
local, mas passaram por ali e deram-nos indicações preciosas. “Afinal as
galerias já abriram” diziam elas e eu nem queria acreditar na hipótese de me
debruçar naquela varanda pendurada num abismo surreal. A terra e a pedra
aglomeradas apresentavam tons vermelhos e alaranjados. Os morros lembravam as
chaminés de fada da Turquia pela exuberância e pelo mistério. Castanheiros e
carvalhos implantavam-se com arte num ambiente febril. Envolviam-nos melodias
de há dois mil anos e só as ouve quem lhes pressente a evasão. Deveria haver
horas de descanso, música e poesia para alimentar o espírito. Só poderia ser
assim. Há pessoas predestinadas para se guindarem às estrelas após árduos
trabalhos e projetos de futuro. Garimpavam ouro com técnicas especiais.
Poderíamos
não ter vindo ao lançamento do livro “Podia ter Sido”, mas ainda bem que viemos
e ouvimos da voz do autor que caminhos outros poderia ter andado, mas foram
aqueles os que trilhou.
Na
verdade, talvez tivéssemos visto só metade da paisagem, mas valeu a pena.
Regressámos ao hotel Termas que nos agradou sobremaneira. Boa relação preço-qualidade.
Logo à entrada o perfume era de bem-estar, o que à partida é uma nota de
boas-vindas. Limpo, cuidado e sem pretensões. Escolha acertada, pensava eu.
Pessoal do tipo familiar e o pequeno-almoço também. “Prove a minha compota de
abóbora! dizia-me a responsável. O rapaz da receção acompanhou-nos e resolveu
de imediato as ligações tecnológicas ao mundo a que estamos habituados.
Há
pessoas que vestem Zara e parecem uns príncipes e outras que vestem grandes marcas
e parecem espantalhos, disse isto (mais ou menos) no último programa Prós e
contras” o jornalista Luís Osório. Concordo
Poderia
não ter acontecido, mas na manhã do dia seguinte acordaram-nos as saudades dos
amigos e com eles caminhámos por uma cidade onde não faltam lojas com boas marcas
e onde os buracos surgem a cada passo porque em cada espaço, que é preciso
remodelar, surgem ruínas romanas e já sabemos que ninguém avança sobre achados
arqueológicos. O cordeiro assado no forno era do outro mundo. Já na despedida,
passámos pelo Hotel Vidago onde, em tempos áureos, eu e a minha amiga
participámos num seminário. Agora os preços são para elites e os campos de
golfe também.
Desta
vez a separação doeu mais um pouco. E nós seguimos em direção ao Porto onde a
magia da cidade invicta era sublinhada pelas iluminações de Natal.
De
facto, podia ter sido outro o destino do fim de semana, mas registo-o porque me
soube a amizade, a história, a beleza paisagística e a gastronomia
transmontana.
Teresa Almeida Subtil
01-12-2019
01-12-2019
Belo texto e bom passeio!
ResponderEliminarMinha alma ainda passeia
Contigo, teus versos e a veia
Poética tua, onde enleio
Meus sonho com teus, em meio
Linguajares, de alma cheia
Da luz tua, que semeia
O verbo como um esteio
De teu verso tão perfeito
Em duas línguas, do jeito
Como canta Portugal
De Dom Diniz ou Camões.
Teresa, tuas lições
São a mim um recital!
Grande abraço! Laerte.
Querida Teresa
ResponderEliminar"Podia ter sido" mas não foi, o que me deu a oportunidade de poder ler um dos seus mais lindos textos. E não há como não nos embrenharmos nesse passeio que tão bem descreve e segui-la passo a passo. Não só pelo prazer de viajar no passado mas também de estarmos, no presente, a acompanhá-la no seu intuito de assistir ao lançamento do livro do seu amigo, José Maldonado, e de estar com os amigos.
Daqui levamos esses belos momentos, que, maravilhosamente, partilha connosco.
Muito bela a sua escrita e a sua sensibilidade, minha amiga.
Beijinhos
Olinda
Lindas imagens e belo texto caloroso!
ResponderEliminarAbraço
Um lugar absolutamente incrível, que eu desconhecia!...
ResponderEliminarGrata por ter partilhado o espírito, desse dia tão especial, Teresa, através das suas emotivas palavras!... E que as soberbas imagens, complementaram comprovando a extraordinária beleza e fascínio, desse local!...
Beijinho! Desejando-lhe a continuação de uma feliz semana...
Ana
As imagens são muito bonitas, o lugar parece ser de uma beleza realmente singular. Pude me sentir um pouco lá através das tuas palavras, teu relato tão bem descrito, Teresa. Um beijo.
ResponderEliminarQuerida Amiga.
ResponderEliminarFoi, nesmo, uma maneira maravilhosa de iniciar o seu Dezemhro.
Gostei de a ler.
Continuação de ótimo prelúdio de Natal...
O meu abraço afetuoso.
~~~~~~
um texto encantador, Teresa!
ResponderEliminarnum registo intimista e poético que de ti "fala"
e do teu talento literário.
jogas muito com essa suspensão semântica "podia ter sido",
levando o texto e o leitor para "regiões" outras, que não apenas a paisagem, a culinária, o livro, a viagem...
amei o texto- brilhante.
beijo
"jogas muito bem ...", deve ler-se.
EliminarNão fazia ideia nenhuma dessa exploração de ouro dos romanos de há 2.000 anos.
ResponderEliminarParabéns pelo texto, gostei imenso.
Teresa, um bom fim de semana.
Beijo.
E pela sua brilhante descrição foi certamente um excelente e enriquecedor fim de semana.
ResponderEliminarBeijinhos
Maria
Que forma linda de começares o mês de Dezembro. E que bem que relataste tudo, Teresa.
ResponderEliminarAs fotografias são maravilhosas.
Que tenhas um Natal cheio de conforto e um ano de 2020 com tudo o que desejas.
Um beijo, minha Amiga.
Teresa, passei para te desejar um bom fim de semana.
ResponderEliminarE um Feliz Natal.
Beijo.
Passei para verificar se havia novidades...
ResponderEliminarDias felizes.
Beijinhos, querida Amiga.
´~~~~
A Teresa palmilhando interioridades, sempre. Andas por bons trilhos, sem dúvida.
ResponderEliminarUm Feliz Natal!
Quando as descrições de uma narrativa nos envolvem com
ResponderEliminaros pormenores onde deixas que se visualize o que te impressiona , não há como não ficar preso no enlace das tuas palavras .
A magia do lugar faz o resto é que tão bem soubeste captar para no lo transmitir com elegância e mestria .
Momento lindo , querida amiga Teresa
E aproveito para te desejar um santo e Feliz Natal 🎄
Abraço ❤️