Poema de linho
É de linho, dizes tu,
entranhando na palavra qualidade,
palavra, brilho sedutor
de quem tem algo de verdade!
Sentes-lhe ainda o toque e a melodia,
não escondes a vontade de partilhar o tesouro,
a alegria que realmente te invade.
Uma peça, corolário de emoções
vividas, habilidosamente, no tear.
Na toalha que me deste,
sobressai ainda um fio de emoção,
sobressai a textura, a cor
e o perfume do ribeiro,
amor que me veste.
E se alguém disser que é de linho
vai dar-lhe outro valor
porque à ideia vem o calor
e a riqueza da terra mãe.
Ah! E a camisa que o pai vestia
aquela elegância de quem passeia no olhar
a dureza e a utilidade do trabalho.
Linho, bragal do teu altar,
lençol bordado em oração,
luar, presença, convicção, encontro.
O xergão de palha durava a vida inteira
era de linho, dizes tu!
No serão de arte feita a preceito
não faltava o esmero, o jeito
e a escola de geração em geração.
Este chambre é de linho, dizes tu, e veio do baú da avó
e não só o elevas ao mundo dos afetos
como o queres gravar no coração dos teus netos.
Lembras-te do teu quarto?
Sim, aquela cortina com a renda larga,
cobiçada sem pudores? Velava o sacrário!
Sim, aquela que guardaste porque o sol a queimava
e porque a saudade te magoava.
Ah! E a blusa que ajustava o teu corpo esbelto,
aquela com que tanto bailaste!
Era de linho, dizes tu, mãe querida!
Um poema nascido no interior da terra
batido pelo sol da eira,
um poema de verdade.
Um poema de fazer amor sem medida.
Com o olhar inteiro e nu,
impregnando na palavra a qualidade,
é de linho, dizes tu!
é de linho, dizes tu!
Poema de lhino
Ye de lhino, dizes tu,
agarrando na palabra culidade,
palabra, relhampar sedutor
de quien ten algo de berdade!
Sintes-le inda l toque i la melodie,
nun scondes la gana de partelhar l tesouro,
l'alegrie que rialmente t'ambade.
Ua pieça, rosairo d'eimoçones
buídas, halblidosamente, ne l telar.
Na toalha que me deste,
subressal inda un filo d'eimoçon,
subressal la testura, la quelor
i l prefume de l rigueiro,
amor que me biste.
I se alguien dezir que ye de lhino
bai a dar-le outro balor
porque a l'eideia ben la calor
i la riqueza de la tierra mai.
Ah! I la camisa que pai bestie
aqueilha eilegáncia de quien passeia ne l mirar
la dureza i l'outlidade de l trabalho.
Lhino, bragal de l tou altar,
lhençol bordado an ouraçon,
lhuna, perséncia, certeza, ancuontro.
L xergon de palha duraba la bida anteira
era de lhino, dizes tu!
Ne l serano d'arte feita a modo
nun faltaba l smero, l jeito
i la scuola de geraçon an geraçon.
Este xambre ye de lhino, dizes tu, i bieno de l baú d'abó
i nun só l chubes al mundo de ls carinos
cumo l quieres grabar ne l coraçon de ls tous nietos.
Lhembras-te de l tou quarto?
Si, aqueilha cortina cula renda ancha,
cobiçada sien scrúpalos?
Belaba l sacrairo!
Si, aqueilha que guardeste porque l sol la queimaba
i porque la soudade te ferie.
Ah! I l chambre que s´ajustaba al tou cuorpo spigado
aquel cun que tanto beileste!
Era de lhino, dizes tu, mai querida!
Un poema nacido ne l seno de la tierra
batido pul sol de las
eiras,
un poema de berdade
Un poema de fazer amor a la ringalheira.
Cul mirar anteiro i znudo,
agarrando na palabra la culidade,
ye de lhino, dizes tu!
Ye de lhino, dizes tu!
Teresa Almeida Subtil
(in rio de Infinitos/Riu d'Anfenitos)
FELIZ PÁSCOA, QUERIDOS AMIGOS!
Linho urdido e tecido pelas mãos de poetas.
ResponderEliminarBelo!
Boa Páscoa!
Beijinhos!
O tear das memórias num poema dedicado a quem soube transformar tudo em sonhos macios. Gostei tanto.
ResponderEliminarUma Páscoa cheia de bênçãos, com muita saúde e amor.
Um beijo.
Tão linda poesia cheia de recordações! FELIZ e ABENÇOADA PÁSCOA pra ti e teus! beijos, chica
ResponderEliminarGostando do que li - poema lindíssimo muito bonito de ler, passo também para desejar uma Páscoa muito feliz, com muitas amêndoas, coelhinhos e ovinhos de chocolate, e muita, muita Saúde e Paz. Tudo extensivo à sua família e amigo/as.
ResponderEliminar.
Desculpe o copy-paste, mas a mensagem, é verdadeira, saída do meu coração.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
Poesia encantadora... Amei! :)
ResponderEliminar-
É preciso união... a esperança não acabou
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Um excelente fim de semana de Páscoa, para todos, com; Saúde, Paz, Compreensão e muita Prudência, extensivo a todos os vossos familiares e amigos. Beijos.
Um poema que desfolha as memórias como quem tece o linho!
ResponderEliminarA musicalidade do poema é deliciosa.
Uma Santa Páscoa, Teresa, para todos vós!
Um abraço!
Bela, poesia, querida Teresa! Gostei de ler.
ResponderEliminarDesejo a você uma páscoa feliz, na medida do possível, outras teremos, amiga!
Um beijinho, cuide-se!
Querida Teresa
ResponderEliminarMaravilhei-me com este seu Poema. Tantos passos, tanto saber fazer e amor nesses versos que nos transportam para locais perfumados e doces e que trazem o perfume da terra mãe.
Palavras evocativas, plenas de emoção.
E a língua mirandesa aqui a dar o toque especial de tudo o que vale a pena.
Boa Páscoa, minha amiga.
Beijos
Olinda
as metamorfoses do linho e os seu padecimeentos
ResponderEliminarsntes de chegar a toalha do sacrário
ou camisa de noite de núpcias...
ou toalha da Pia Batismal...
entre mãe e filha renascem e se prolongam
tais "mistérios" do linho...
gostei muito, querida Poeta
beijos
Olá, amiga Teresa, depois da primeira leitura deste belo poema senti que outra teria de ser feita, pois teria de entender melhor esse canto do fundo da alma. Gostei imensamente, um poema de grande beleza.
ResponderEliminarParabéns.
Uma boa semana, com saúde e paz.
Lindo o poema de linho!..
ResponderEliminarGosto em coberta de cama
Ao verão e com quem se ama,
Não para dormir sozinho.
Pode-se fazer um carinho
Sob o lençol, sem calor
A mais! E por sedutor,
O linho é aconchegante.
Ele é mais fresco e bastante
Propício para o amor!
Belo poema! Abraço cordial. Laerte.
O linho faz parte da nossa cultura.
ResponderEliminarMas as toalhas de linho, por exemplo, estão cada vez mais caras...
Os meus aplausos para este brilhante poema, fruto do teu talento. Gostei imenso.
Continuação de boa semana, minha amiga Teresa.
Beijo.
Gosto, Teresa, dos fios com que teces o poema, sustentando-o em tão doce melodia de suas memórias, fruto lavrado pacientemente a que dás o nome de linho.
ResponderEliminarUm beijo, minha amiga!
E assim se alinha um poema tecido em linho, que alinha todas as ternuras, de fio a pavio, faça chuva ou faça sol. E, nisso, eu alinho, tenha, ou não, o precioso linho.
ResponderEliminarUm beijinho tecido em linho, Teresa :)
Um tema bastante adequado à época...
ResponderEliminarA bela toalha de linho bordada era um tesouro arejado e exposto com orgulho pela Páscoa. Eu gostava de vestir-me de branco...
Ainda conservo o hábito de decorar a casa com flores brancas, facto que não foi possível concretizar nestes dois últimos anos...
Poema assertivo que nos fala de tradições muito nossas. Agradeço os bons momentos de leitura.
Ainda em pausa, mas já regressando ...
Uma boa semana para ti e teus. Beijinhos, querida amiga.
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Boa tarde Teresa,
ResponderEliminarUm poema muito belo recheado de belas memórias, em que o linho toma lugar cimeiro.
Adorei este poema tecido de forma brilhante!
Continuação de santa Páscoa.
Beijinhos e saúde.
Ailime
Enquanto te lia, passava o filme das minhas memórias nos linhos da minha Casa-Mãe. Na mestria do teu poema, faz-se uma história de amor e de valores no diálogo tão terno , tão delicioso com o orgulho de quem sustenta todo o percurso do linho, hoje tão pouco valorizado.
ResponderEliminarÉ de linho, querida Teresa, o teu poema,em palavras tão belas e brancas como os fios que foram florinhas azuis. Tão delicadamente azuis!
És de linho, Teresa, querida amiga!
Um abraço para ti!
Gostei de reler o teu excelente poema.
ResponderEliminarBom fim de semana, querida amiga Teresa.
Beijo.
Olá, amiga Teresa, passando para desejar a você uma semana de alegria e paz, para espantar os temores destes tempos.
ResponderEliminarBeijo.
Que melhor símbolo, de tradição, autenticidade, presença, familiaridade e ligação à terra, do que o linho? E a suas inspiradas palavras, transmitiram-no de uma forma sublime! Muitos parabéns! E aqui por casa, uma toalha de linho, sempre sai da gaveta, assinala a Pascoa, com algumas guloseimas da época... este ano em formato mais pequeno do que o habitual... só para não perder a simbologia do momento.
ResponderEliminarEstimo que tenha passado a sua Pascoa, o melhor possível, Teresa! Por aqui, foi um bocadinho em modo de alerta... com mãe sob o efeito da segunda toma da vacina... e a ansiedade respectiva, quando medicação para diluir o sangue está envolvida... felizmente tudo correu bem, já recuperando há poucos dias atrás... mas a sensação de que continuamos a ser ratinhos de laboratório, e que tudo prossegue ainda sem certezas... continua bem presente.
Um beijinho! Feliz semana! Logo mais estarei de novo, por aqui, com mais disponibilidade, para espreitar as restantes publicações que se me foram escapando, na pressa dos dias, ultimamente...
Ana
'Fazer amor a la ringalheira' - O mirandés tem coisas interessantes!
ResponderEliminarSinto que apareces 'de corrida' e lamento porque eras seguidora assídua do 'A Vivenciar a Vida' e agora abandonaste-o...
Bom fim de semana, querida amiga. Beijinhos
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Festejemos as memórias vivas
ResponderEliminarCom linho, fazem-se coisas muito bonitas, transformares o linho num belo poema ficou super maravilhoso, espero que tenhas tido uma Páscoa muito feliz, muitos beijinhos e fica bem!!
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