sexta-feira, 7 de junho de 2013

Tudo é voz e caminho


 

                                                 Foto de Manuel Pires
 

É para lá dos montes que se ergue um comando destemido 

a exorcizar o medo 

um traço rápido e ajustado de pedra afiada

ninguém tem a última palavra.

Na incerteza buscam-se os astros 

na rudeza do percurso, na avalanche da desgraça

tudo é voz e caminho.

É na convulsão que entra o movimento.

Renascidos no espanto e na esperança 

irrompe a energia, a evolução 

apoteose de vida. 

Firmeza na ação, elegância no gesto.
 
 
Teresa Almeida
(in "Antologia da moderna poética Portuguesa)

 

 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

À flor da pele



Sentir-te a pele é a sensação mais intensa
não sei de palavras que toquem este fogo
um toque ao de leve em jeito de conversa
e um arrepio a percorrer o corpo todo

talvez o olhar se quisesse já cruzado
num diálogo quase incerto, impossível
sonho breve num desejo acordado
poema louco, verso intenso e irreprimível

sem disfarces num abraço abandonado
seguiram os lábios o apelo mudo e cego
e as mãos uma viagem desconhecida

O peito levantou-se firme e eriçado
amando a noite e o desassossego
e esta febre entre estrelas renascida

Teresa Almeida

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Da minha janela



Abro a melodia da manhã que me floresce à janela
pensamentos escusos anulam-se nos cortinados da noite
deixo-me seduzir em promessas de cerejas carnudas e suculentas
com sabor a beijos teus

lá ao fundo, no remanso do rio, ecoam românticos fluidos musicais
Vivaldi toca eternidades de prazer em fogosidades primaveris
escapam-se algumas notas de rodapé

nem quero acreditar
em geadas tardias e em ventos desbragados
a bailar na cambraia fina da minha cerejeira
de um só golpe poderão desafinar a sinfonia
do festival dos sentidos

abraços pendurados e notas soltas de uma sonata de verão
começam a assomar-se na minha janela

Teresa Almeida

terça-feira, 23 de abril de 2013

Terra Mítica



 Hoje, passeei-te na fantasia das cores de Abril
brinquei o olhar no rio despido de traições
espelhado na candura de renovadas promessas
...
porque te recusas a adormecer na nossa desilusão
porque nos queres dizer que é de dentro
que o renovo traz a energia, porque te apaixonas em cada dia
e não desistes de te vestires de Primavera em folhos e folhos de alegria
e em bordados de alvíssaras que pontuam caminhos de obstrução

desejei-te magnífica ao alvorecer de um tempo acordado
abracei a ousadia de um arco íris mergulhado em devoção
porque a batida de Abril cumpre-se em ti
uma linguagem telúrica a repercutir -se em nós
e eu sigo pelos caminhos do planalto e venero-te emocionada.


Tierra Mítica

 

Hoije passeei-te an la fantesie de las quelores de Abril
joguei l mirar ne l riu znudo de traiçones
spelhado na candura de renobadas pormessas

 porque nun te quieres drumir na nuossa zeiluson

porque mos quieres dezir que ye de drento

 que l renuobo trai l'einergie, porque t'amboubas a cada die
 i nun zistes de te bestires de Primabera an remissacos d'alegrie
 i an bordados de perpinhas que zéinhan caminos atalacados

 

 deseei-te guapíssema al amanhecer dun tiempo spertado
 abracei l'ousadie de la cinta de la bielha margulhada an deboçon

 porque la batida de Abril cumpre-se an ti

 ua lhenguaige telúrica a retumbar an nós
 i you sigo puls caminos de l Praino i benero-te eimocionada


Teresa Almeida

quinta-feira, 18 de abril de 2013

VÉNUS MUTILADA


Só podes ser o delírio de um poeta
que em noite de inspiração
deusa te sonhou
e nas asas verdes da tentação
duramente esculpiu


Fez -se ao largo num instante iluminado       
e surpreendido em teias de sedução
por artes divinas cativado
harmoniosamente te cinzelou

 
Um sonho moldado em pedra Donai
um olhar fechado, átomo virtual
Em toques de bisel te mediu o encanto
sentindo o pranto estático e real

 
Perseguiu-te inteira, na plenitude vital
em sopros de carinho te aclarou
centelhas meteoríticas de esperança
na tua pele abriu

 
Só podes ser um sonho fidedigno do artista
que em ti a poesia primordial
duramente esculpiu

 
Mas no sonho está insatisfeito o tempo
e a poesia, qual Vénus mutilada
explode eternamente sofrida
inacabada

Teresa Almeida
(Escultura de António Afonso)

 

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Apresentação da autora, Teresa Almeida e obra “Ousadia” – Casa Barbot – Vila Nova de Gaia



Era uma vez (todas as histórias têm sempre uma vez) uma menina de olhos esperança que se cruzaram em âmbito de trabalho. Algum tempo vivenciado com alma, com empenho, com vivacidade. A inevitável separação mas sem que houvesse vontade de perder o contacto. Alargou-se esta cumplicidade na pessoa da sua mãe, Teresa Almeida, a autora aqui presente.
Depois, foi a troca de ideias, a partilha de sentires, o incentivo para “ousar” divulgar os seus escritos. E o livro que deu à estampa, já estava inscrito na sua matriz genética.
Os poemas imagéticos fluem como como pinceladas em tela vazia, umas mais intimistas, outras mais soltas, colorindo a paisagem que é, em si mesmo, a sua pessoa.
Uma poesia das sensações, mesclando o visual, o auditivo e o olfativo no percurso vivencial de menina, moça e mulher. Mulher de pleno sentido, inteligência de emoções nos cenários com que coabita ou que nos faz vislumbrar nos versos ricos de imagens, enraizadas no telurismo próprio das suas origens e no mundo mais citadino por onde também deambulou e deambula frequentemente.
Estive presente no lançamento do seu “Ousadia”, em Miranda do Douro. Acompanho a sua poesia mas, sobretudo, conheço o seu deslumbramento por este novo mundo que são as pessoas e as palavras que as definem.
Do virtual ao real, tudo é como um passe de mágica quando a cumplicidade é suportada pela amizade. Assim, não podia deixar de estar presente nesta apresentação, em tão belo espaço, quase mítico.
Também não esqueço a tua presença no lançamento do meu “EM SUSPENSO”… Já passaram quase dois anos, mas o ontem é sempre um hoje para nós…
Parabéns, uma vez mais, por nos presenteares com a tua “Ousadia”, uma obra de audaz fantasia. Cumprimento a amiga, a autora, a mulher. E as palavras que são o teu poema/vida! Beijo-te, Teresa Almeida.

Odete Ferreira, 22-02-13
Magestic, Porto
- Mesa: Manuela Bulcão, Teresa Almeida, Odete Ferreira, José Sepúlveda.