Nota de redação: A Seara Nova publica, nesta edição, um poema escrito em língua mirandesa, traduzido para português pela autora. Num contexto de cada vez mais intensa massificação cultural, pretende-se assinalar o mérito do estudo e da prática da língua e cultura mirandesas, como instrumento de resistência a esteriótipos culturais e factor de emancipação e desenvolvimento do interior do país.
L sonido de la senara
De l berano la selombra, la boubice, la seduçon.
Tiempo moço i manos paridas de palabras ambergonhadas.
Manos q'ampálpan las cinzas i l bentre de la casa.
I la binha zértica a reclamar ls mostos i l rebolhiço.
Bazies, las tulhas son arcas de decoraçon.
L carino geme ne l sobrado i mius passos
Son campanas que dróban ne ls abraços sien tornar.
Perros i ls gatos (i las abes de la nuite) son bistas
I l´airico, ambencible, cubre la soudade que bózia.
De l rescaldo guardo l'oulor, l carino
I la colheita. L sonido de la senara. I la rebuolta.
I ne l'afago de la poesie partelhada cumo sustento
çcubro agora l carreiron de caminos outros.
Las eiras seran siempre adonde (i cumo) quejires.
Melodia da seara
Do estio a sombra, o desvario, a sedução.
Tempo moço e mãos paridas de palavras a recato.
Mãos que apalpam as cinzas e o ventre da casa.
E a vinha desértica a reclamar os mostos e o reboliço.
Vazias, as tulhas são arcas de decoração.
O carinho geme no sobrado e meus passos
São sinos que dobram nos abraços sem regresso.
Cães e os gatos (e as aves noturnas) são paisagem.
E a brisa, indomável, fecunda a saudade que grita.
Do rescaldo guardo o cheiro, o afago
E a colheita. A melodia da seara. E a revolta.
E no afago da poesia partilhada como alimento.
Desvendo agora o trilho de caminhos outros.
A eira será sempre onde (e como) quiseres.
Maria Teresa Almeida
Meu Deus, Maria Tereza,
ResponderEliminarTua incisão é precisa!
Vai ao cerne da divisa
Entre a festa e a tristeza.
A vinha em fogueira acesa
Foi queimada e a alma pisa
Sobre a cinza que concisa
Mostra extensão da pobreza.
Do rescaldo, nem o cheiro
Pois existe, e o derradeiro
Legado é a desilusão.
Resta apenas poesia
Para encher a alma vazia
Dando alento ao coração.
Parabéns pelo teu poema! Lindo! lindo! lindo... Parabéns! Grande abraço, amiga! Laerte.
Quanto talento, minha amiga.
ResponderEliminarA leitura em mirandês é deliciosa (os meus antepassados devem ter falado assim...).
Parabéns pela publicação em tão notável revista.
Bom fim de semana, amiga Teresa.
Beijo.
Teresa,
ResponderEliminaré muito gratificante para mim, ler um poema teu, em língua mirandesa, publicado na revista Seara Nova, porquanto:
. é um belo poema, de que muito gosto
. o mirandês não me foi meu berço, mas andou muito perto
. trata-se de um sinal de reconhecimento e de estímulo por parte da (quase secular) revista Seara Nova a todos quantos se dedicam ao estudo e divulgação da língua e cultura mirandesas, em si mesmos "instrumentos de resistência a estereótipos culturais e factor de emancipação e desenvolvimento do interior do País".
tendo em vista esses objectivos não faltará certamente oportunidade para novas colaborações, que pessoalmente vivamente desejo que se concretizem em beve.
beijo, muito grato