Voz que nasce nos olhos, na boca, na expressão…
Anuncia-se em ondas sedutoras e roça, com elegância, os galhos da minha árvore
preferida, salpicada de flores imaculadas. Agita as folhas do livro no meu regaço.
Aconchego o xaile suave, ainda de algodão, sentindo a primeira brisa a eriçar a
pele, e deixo voar os cabelos com os pássaros. Apetece ficar e apagar o som
dissonante que a vida teima em mostrar. A tua voz, agora molhada, enrola as
pétalas mais coradas em coreografias íntimas, até as pousar e aconchegar. Perfeita
a pintura da tarde, não fora a passarada dar umas bicadas de última hora. Nada
é estático e a tela nunca termina, nem o teu sopro no meu ombro, nem o natural
balanço da árvore que a aragem vai despindo... E eu desligo, desligo tudo o que
me atropela e entrego-me à melodia ímpar - pura carícia
outonal. Como se o instante fosse criação absoluta e fizesse de nós folhas aos folhos arremetidas aos vãos de escada onde se mordem frutos maduros. Tua voz é tempo, chama e eco que percorre o alpendre da nova estação, pulsar poético a
que a natureza se rende.
Teresa Almeida Subtil
Um louvor ao outono, muito expressivo e sentido.
ResponderEliminarÉ um privilégio sentir poesia nas mais diversas situações,
mas também acho o Outono bastante poético.
Parabéns pelo bom gosto, querida Amiga.
Dias bons e aconchegantes.
Beijinhos
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Minha amiga Teresa
ResponderEliminarEis um texto poético que nos encanta. Tudo nele fala uma linguagem que nos transporta para um espaço envolvente e intimista. Já se começa a pensar no calorzinho da lareira, no aconchego de um xailezinho...
Confesso que o Outono é das minhas estações preferidas.
Eterno o Jacques Brel em "Ne me quitte pas" e a cortina branca aí em baixo e as folhas caídas completam o quadro. Excelente!
Beijinhos
Olinda
Texto de um lirismo e de uma beleza que se coadunam com o que a estação nascente nos traz, em contraponto à voz melodramática de Brel. Teu texto, Teresa, ao mesmo tempo que descreve aquilo que se vê, descreve também o que vai por dentro de quem aquilo vê. Sinto-o como uma delicada homenagem ao outono, e que me evoca tanto os poemas de Hugo, como também a imortal canção de Prévert e Kosma, "Les Feuilles Mortes". Meus aplausos, minha amiga!
ResponderEliminartexto de uma delicadeza de filigrana, que desliza nos olhos e nas emoções que desperta, com a elegância de dança sofisticada ou o (per)curso de palavras belas em busca da pura forma em que se desenham e tu tão bem sabes "tricotar"...
ResponderEliminargostei muito, Teresa.
beijos
Minha querida Amiga.
ResponderEliminarHoje, tenho festa no A Vivenciar a Vida.
ESTÁ CONVIDADA.
ABRAÇOS AFETUOSOS
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Não posso deixar de dizer que esta sua prosa poética não é uma enorme celebração do outono.
ResponderEliminarÉ outono. Os contrastes existem em todos os olhares. Outono, o lugar onde os temores se confundem com a coragem, onde é permitido recordar amores perdidos… Dá para perceber que é a minha estação favorita, não dá?
Uma boa semana. Um outono lindíssimo.
Um beijo.
Que bom haver esses momentos, essas perspectivas mais poéticas sobre a efemeridade da vida, são elas que podem nos transmitir alguma leveza para seguirmos em frente - ainda que nem tudo seja sempre caminho de flores. Belo texto, Teresa, assim como é bela a música interpretada pelo próprio autor, o belga Jacques Brel (suponho que já ouviste, mas há uma interpretação muito bonita da cantora brasileira Maysa). Um abraço!
ResponderEliminarUma imensa paz de espirito transpira nesta belíssima prosa poética, minha Amiga Teresa.
ResponderEliminarEssa "tua voz, agora molhada", tão bem ligada 'a Natureza envolvente, fazem desse convite
ao enraizamento, um sopro de vida. Toda a construção é um hino 'a pureza do Outono e ao
Amor. Intemporal a música de Jacques Brel. Eu, aqui sugeria, minha Amiga, “La chanson des vieux amants”, https://youtu.be/dU-OD5_Dxrs, na minha opinião a mais linda canção de Amor
alguma vez produzida.
Um beijo carinhoso
LuísM Castanheira
Inseri duas canções extraordinárias sugeridas por André Bessa e Luís Castanheira.
ResponderEliminarÉ como se acrescentássemos beleza e vibração à "Voz de Outono".
Estarei sempre aberta a este tipo de interação. Gostei imenso.
Reconhecida, deixo abraços de grande amizade e apreço.
"Ne me quite pas", na maravilhosa voz de Maysa, não poderia faltar. Grata pela sugestão, caro amigo Ulisses de Carvalho. Bom gosto o teu!
EliminarGrande abraço de amizade e apreço.