domingo, 17 de novembro de 2019


O grito

E do lixo saiu o grito
E do grito saiu a vida
E a vida é tão bela
Que o lixo serve de estufa
A uma nova estrela

Expurgado o dia entre o terror
E a alegria
O mundo amedrontado
Prossegue a lenta agonia
Sabendo que a cada momento
Há ceifas de humanidade


E o caixote poderá ser
O mar, o camião, a vala,
O forno crematório, a podridão.
E o grito sairá de qualquer lugar
Para esmagar a falsidade, o ilusório
A maldade e os jogos de poder


E do lixo saiu o grito
E do grito saiu a vida
E a vida é tão bela
Que o lixo serve de estufa
A uma nova estrela




Teresa Almeida Subtil

9 comentários:

  1. E que o grito ecoe no coração de todos os que amam a vida. E que nunca mais se repita o gesto de desamor tão inquietante, como esse de pôr no lixo um recém-nascido…
    Que bom ouvir esta canção de novo. Faz outra vez tanto sentido…
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  2. que a vida se erga! sobre todos os gritos ...
    e todos os lixos!

    beijo, Teresa~
    enorme a tua sensibilidade

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  3. Ah... pôr a vida no lixo...
    Meu Deus, nem um animal
    Selvagem e irracional
    É mais bicho que esse bicho

    Cujo coração é um nicho
    Do superlativo mal
    De veneno mais letal
    Que a cicuta em esguicho.

    Porém, te digo, Tereza
    Há sempre uma luz acesa
    Em tudo que alumia

    À esperança futura
    Na alma da criatura
    Que se chama poesia!

    Grande abraço! Laerte.

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  4. Deus! Como era bom que de todos os lixos se elevassem todos os gritos!
    As pessoas e governos vivem tão assépticas, que nem vêm os lixos...
    Um canto de intervenção gracioso e muito pertinente.
    Dias agradáveis e bons, querida Amiga.
    Beijinhos
    ~~~~~

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  5. Quem diria que um grito saído do lixo dava um poema tão bonito e perfeito

    Cumprimentos

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  6. Querida Teresa

    Momento belo em que a Poesia cumpre uma das funções, neste caso, de chamada de atenção em relação ao que se passa na sociedade dos nossos dias, mas com raízes em práticas que já vêm do fundo dos tempos, e atravessam o nosso tempo, infelizmente, fazendo estragos. Pensamos que o amor de Mãe acontece, automaticamente, quando a criança é gerada. Muitas têm sido as evidências de que nem sempre é assim. Para o nosso mal.

    Minha Amiga, poema para ler e reler e deixarmo-nos impregnar pelo perfume das suas palavras, e por esta música inspiradora, "We are the World/We are the children", caras e vozes conhecidíssimas. Algumas já nos deixaram mas perdura a sua mensagem de amor para com as crianças, cujos direitos, proclamados há 30 anos, ainda primam pela ausência, em muitos casos.

    Beijinhos

    Olinda

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  7. Um poema soberbo, que versa um tema que inquietou o país.
    E dava uma bela canção, ao jeito do Zé Mário Branco, do Fausto...
    Querida amiga Teresa, um bom resto de semana.
    Beijo.

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  8. Olá, Teresa!
    A poeta abre e fecha o seu canto, “O grito” com esta belíssima estrofe:

    “E do lixo saiu o grito
    E do grito saiu a vida
    E a vida é tão bela
    Que o lixo serve de estufa
    A uma nova estrela”

    Bravo, minha amiga Teresa!
    Beijo.

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  9. Tantos gritos existirão, infelizmente... que nunca chegarão a ser ouvidos...
    Mas este... foi absolutamente marcante... terá acordado consciências... e inspirou este grito poético... e profundo!
    Faço minhas as palavras do Jaime!... E como gostei de recordar este tema musical... que me fez recuar no tempo... e achar que iniciativas como esta, continuam a ser tão necessárias, para pelo menos atenuar alguns problemas, por esse mundo fora...
    Um beijinho! Sabe bem, estar de volta a este cantinho que tanto me inspira... e sempre me oferece tanto, sobre o que reflectir...
    Ana

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