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DEIXEMOS FLUIR
TERESA ALMEIDA SUBTIL |
Ontem, dia da Independência, olho, mais atentamente, a espada de El Cid, pendurada, carinhosamente, junto à porta de entrada. Um amigo trouxe-a um dia. Veio de longe, de propósito, e nem sequer se demorou. O tempo comia-lhe os passos, mas quis deixar um pouco de alma. É a espada do herói a que é afeito, de Burgos, a sua terra. Esta ideia de pertença a todo o mundo faz todo o sentido, através dos valores, da cultura e de algo primordial: a amizade. Chega a ser surreal uma espada ser símbolo de amizade. Mas tu ficaste na lâmina, no punho e na arte de quem ama a luta para fazer a paz – junto à porta de entrada ou de saída (talvez apenas de passagem- como a vida). Vieste e ficaste numa história de largos sorrisos, de cumplicidades e de lutas por um mundo melhor. Um gesto que traz à memória o tempo em que Miranda do Douro e Aranda de Duero viviam o auge da geminação e construíam pontes de cultura e desenvolvimento. Quantas vezes saltámos um rio que nos une, um salto num espaço que sempre foi nosso, apesar das fronteiras, apesar das hegemonias, apesar dos assaltos, apesar dos heróis nascidos nos altares. Também a língua nos foi berço e, se atentarmos que o mirandês é hoje entendido por 800 milhões de almas, como defendem alguns estudos iniciados por Amadeu Ferreira, percebemos a riqueza desta abrangência cultural.
Não te vejo, mas estás porque sabes estar. Ser amigo é dar a espada de despedaçar medos, sejam de que ordem forem. E se a fera vier pela calada da noite saberemos dobrar-lhe a sagacidade do olhar, porque a selva é em qualquer momento e em qualquer lugar (poderá ser esta uma das mensagens que quiseste deixar). Sempre perscrutei um potencial mundo num objeto singular, como um livro que nos viaja . E se viemos dos confins da desordem, como conheceremos os caminhos infinitos que nos habitam? Cada vez sabemos menos, é verdade, mas uma espada pode ser um pequeno nada que, à entrada da porta, nos aporta a imensidão do que não sabemos, mas do que sentimos. E o medo sai, assim, pela porta e pela palavra. Deixemos fluir! dizia Jorge Nuno, outro amigo que, por aqui (Bird Magazine), vai semeando pérolas.
Há espadas e espadas. Fluir, sim, mas com a (Cid) espada a tiracolo.
ResponderEliminarAbraço, Teresa :)
ecos sensíveis de um tempo em que as espadas eram o "sol faiscante das batalhas" - como "quem luta para fazer a paz"
ResponderEliminarfascinante texto
abraço
Qualquer símbolo de amizade vale a pena. A espada tem uma história que torna cúmplices os que a conhecem...
ResponderEliminarGostei muito do texto.
Uma boa semana.
Beijos.
Uma crónica singular, com uma exposição exemplar.
ResponderEliminarForam momentos de leitura muito interessantes, para mim
que vivo no extremo oposto, em raia marítima...
Dias felizes.
~~~~~~~
Eis o perfume do verso
ResponderEliminarVersus da prosa o perfume
Que vem acesa com um lume
Por um caminho transverso
Versando o mesmo universo
Em que a prosa resume
Já o cheiro de costume
Do verso não adverso
Do cheiro que a prosa tem
Pois quem sabe fazer bem
Em tudo põe poesia
Como a Maria que além
De verso e prosa também
Transmite amor e alegria.
Meu abraço amigo à amiga portuguesa, cujo espaço que expõe, expõe beleza e muita poesia. Voltarei mais vezes. Laerte (Silo).
A amizade pode ser demonstrada com qualquer símbolo, até mesmo através de uma espada...
ResponderEliminarBom fim de semana, querida amiga Teresa.
Beijo.
Celebrar a amizade é algo tão precioso e raro,
ResponderEliminarque os símbolos são de valor inestimáveis.
Os símbolos como batismo do nascimento da
caminhada de mãos dadas com o coração puro,
assim se inscreve a amizade, minha querida amiga!
Grata pela leitura preciosa aqui!
Grata pela tua presença amiga com comentários
que eu valorizo de coração amigo e adoro
guardar este teu olhar poético generoso.
Beijinhos.