segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Esperava-te ao postigo

 

Esperava-te ao postigo

Com o coração num punho

A casa assombrava-se quando saías

E todos passavam atarefados


Não me queixava, nem sabias

Que a casa era grande

Para um coração pequenino

E que histórias de terror

Andavam de boca em boca

 

Esperava-te ao postigo

E a vida recomeçava quando chegavas


Com o tempo às costas

Exausta e tanto para fazer

E da agricultura não te desligavas

Vida que, por vezes, comandavas

 

Mais tarde parecias minha filha

Eras tu que ficavas ao postigo

Com o coração num punho

E o mundo só tinha encanto

E a alegria só recomeçava

Quando eu chegava.



Speraba-t'al postigo

Speraba-t' al postigo
Cul coraçon nun punho
La casa assumbraba-se
Quando salies
I todos passában chenos de priessa.

Nun me queixaba, nien sabies
Que la casa era grande
Para un coraçon pequerrico
I que stórias de grima
Fazien córrio por ende.

Spraba-t'al postigo
I la bida riampeçaba
Quando chegabas
Cul tiempo a las cuostas.

Sbaforida i tanto para fazer
De la tierra nun t' apartabas
Bida que a las bezes
Quemandabas

Mais tarde, parecies mie filha
Eras tu que quedabas al postigo
Cul coraçon nun punho
I l mundo solo tenie sentido
I l'alegrie solo riampeçaba
Quando you chegaba.


Teresa Almeida Subtil



22 comentários:

  1. Um poema cheio de sensibilidade, penso que feito para a tua mãe. Porque só com as mães é que a vida recomeça sempre que estão ao nosso lado. As mães: o colo côncavo de afecto...
    Cuida-te bem, minha Amiga Teresa.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  2. Gostei bastante do poema! :))
    --
    "É preciso acreditar em bons ventos"
    -
    Beijo, e uma excelente Semana
    Proteja-se...

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  3. Fiz exactamente a mesma leitura que a Graça... eu já estou na fase de começar a tomar conta duma filhota, assim e bastante rebelde, por vezes... com alguma dificuldade em fazer o que lhe mandam... para mais em circunstâncias tão estranhas de pandemia...
    E às vezes sou eu que dou por mim ao postigo... esperando voltar ao tempo... em que todos os papéis estavam distribuídos... de outra forma... em que o papel principal... estava bem longe de ser o meu...
    Um belíssimo e sentido texto, com o qual muito me identifiquei!...
    Um beijinho, Teresa, estimando que tudo esteja bem aí desse lado!... Feliz semana, com saúde para todos!
    Ana

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  4. Que lindo, querida Teresa, vê-se, que em dado momento a situação se reverteu! Tanto sentimento...
    Lindíssimo! Toca lá no fundo...
    Uma ótima semana, cuide-se bem.
    Bjsss.

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  5. Como admiro demais a sua escrita, e já o disse aqui, só posso reafirmar a beleza de seu poema. Transformações que a vida nos impõe. De filhas passamos a mães. E isso é belo, quando há reconhecimento, cuidado, ternura... Bjs.

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  6. Muito belo Teresa! Eis como um simples postigo pode ser tão importante numa vida! Na sua subtil simplicidade, o poema agita múltiplas emoções. Maravilhoso!

    Cuida-te bem Amiga Teresa! Muita saúde!
    Beijos

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  7. Eram tempos muito difíceis em que era forçoso ir trabalhar, deixando em isolamento crianças e idosos...
    Tanto ficava ''com o coração num punho'' quem ficava, como quem partia para o labor agrícola...
    Pedaços de intensa emoção poetizados com grande sensibilidade.
    Tudo pelo melhor. Beijinhos, Teresa.
    ~~~~~~~~~~~

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  8. Boa tarde Teresa,
    Magnífico poema repleto de memórias num cenário bucólico que muito apreciei e que me fez recuar no tempo.
    Um beijinho e continuação de uma boa semana.
    Ailime

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  9. Oi, Teresa! Eu sempre aprendo algo ao visitar teu blog e ler os teus poemas, inclusive sobre palavras que não costumamos usar aqui no Brasil, "postigo", por exemplo. Sobre o vídeo, eu vi o nome Víctor Jara e pensei que fosse alguma música do compositor/cantor chileno que admiro muito, mas descobri que é um conjunto português, muito interessante, inclusive, a começar pelo nome! Um beijo.

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  10. um tempo circular a condensare-se na devoçao filial
    e na transfiguração do "vivido". como se fora "oração" ...

    poema de grande e delicada sensibilidade,
    qual "murmúrio da memória".

    muito belo, Teresa Almeida
    poema de excelência

    beijo

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  11. Memórias de um passado que nos toca, belas e adocicadas pela poesia.

    Votos de boa inspiração

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  12. Olá, Teresa, gostei muito desse cálido canto de gerações amalgamados pelos sentimentos que envolvem mãe e filha.
    Uma boa semana, minha amiga Teresa Almeida.
    Beijo

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  13. Ao ler este seu poema, amiga Teresa, lembrei-me da minha avó materna. Quando íamos passar uns dias com ela e saíamos para ir ao cinema ou dar um passeio, em chegando a hora marcada por ela, não saía da ombreira da porta enquanto não chegássemos.

    Adorei esse carinho patente em suas palavras e a imbricação de dois tempos, marcantes, de cuidados e amor.

    Beijinhos
    Olinda

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  14. O tempo vai passando e as gerações sucedem-se, mas os postigos mantêm-se.
    Excelente poema, continuas a escrever magistralmente.
    Bom fim de semana, querida amiga Teresa.
    Beijo.

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  15. Um postigo feito de esperas
    O nosso mundo só tem alegria e faz sentido, quando estamos ao lado daqueles que amamos.
    Maravilhoso poema
    Beijinhos

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  16. Boa noite Teresa querida.

    Um poema que retrata sem tirar nem por a realidade das mães na espera dos filhos, olhos vidrados nos postigos até que gire a maçaneta da porta. Lindos sentires.

    Boa noite de e boa semana.
    Bjss

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  17. Os papeis invertem-se, mas a vida é mesmo assim, querida Teresa. A tua mãe saía para trabalhar na agricultura e tu, pequenina, ficavas de coração apertado. Faltava-te o afeto por umas horas. Como isso te doía! Depois, é a tua mãe que ao postigo (tal linda a ideia de esperar quem amamos ao postigo!), anseia que tu chegues.
    Retratas tão bem os tempos de outrora na tua escrita e no teu coração, pois é aquilo que ainda sentes e recordas.

    Beijos e boa semana!

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  18. Quase me escapava a leitura deste seu
    belo e expressivo poema, minha amiga,
    não tivesse eu hoje querer responder aos
    seus amáveis comentários.

    Ao lê-lo agora vejo o quanto amor de filha
    pode conter um coração. É realmente um
    grande momento de poesia.

    Gosto muito da Brigada Vítor Jara e, se
    quiser, veja "canto de amor e trabalho" no YouTube, uma canção que muito me diz:
    https://youtu.be/AxM1e_oKE8k

    Uma canção que talvez venha também
    a coadenar-se com o seu poema.

    Uma boa semana, Teresa, e muita saúde.
    Cuidem-se.
    Beijos

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  19. Essa palavra “ postigo” traz- me memórias da terra que me viu nascer .
    Na cidade , a porta tem um óculo minúsculo para se ver quem nos bate a porta .
    Mas na aldeia , abre- se o postigo onde o rosto retrata a alegria dos bem vindos .
    E como soubeste aliar a saudade ao amor !
    Um grande abraço 🌷

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  20. Que lindo!
    Assim é a vida, as situações mudam, mas o amor em nossos corações pelos nossos permanece!

    Bjs

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